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Dezembro de 1979 – Abril/Maio de 1987 XYZ-Policiário XYZ nº 11 |
XYZ-MAGAZINE HISTÓRIA DO CONTO POLICIÁRIO E DE FICÇÃO E ANTECIPAÇÃO CIENTÍFICA XYZ-POLICIÁRIO Por L.P. (Algés)
I CAMPEONATO NACIONAL DE PROBLEMAS POLICIÁRIOS ETAPA DE ÉVORA (Problema Nº 4) O CASO DO COMENDADOR MORTO Naquela tarde pardacenta e triste, com as ruas
cheias de folhas que o vem-to ia arrastando num lamento, em sua casa na
periferia de Viseu, aparecera morto o Comendador Brochado. Segundo o Delegado de Saúde a morte fora
instantânea e dera-se entre as 14 e 30 e as 15 horas. Uma bala havia-lhe
atravessado o coração. O cadáver fora descoberto por uma criada e encontrava-se
dentro de um compartimento, que lhe servia de escritório, no 1º andar da
casa. O corpo, atravessado e a 1 metro da porta, tinha
a seu lado uma pistola «WALTHER» de calibre 7,65 que não tinha impressões
digitais, e mais ao lado, uma cápsula vazia que pertencia à bala que matara o
Comendador. No escritório fora também encontrada na gaveta de
uma secretária, uma agenda tipo «Agenda do Lar», onde na página do dia anterior,
o comendador escrevera a tinta vermelha – FUI UMA VEZ MAIS ROUBADO – e entre parentesis (10.000$). Havia também várias cifras escritas em folhas
anteriores. Noutra gaveta, um pequeno cofre aberto, continha
uma importância avultada em dinheiro e 18 moedas de ouro de 1/2 libra.
Revistados todos os aposentos apenas foram encontradas 2 meias libras no
quarto de miss Isabel, a «nurse» da filha
do Comendador. A porta do escritório abria para fora e a sua
fechadura era do tipo normal, com trinco. O orifício para a chave tinha cerca
de 13x 7,5 m/m, vendo-se bem através dele. Trabalhavam em casa do Comendador 4 pessoas,
cujos quartos eram no rés-do-chão e onde ficava também a cozinha. Chamadas,
fizeram os seguintes depoimentos: 1º – ARNALDO
MATEUS, motorista; disse encontrar-se na garagem desde as 13 e meia a
lubrificar e lavar o carro, um «Mercedes», conforme instruções do sr. Comendador dadas de manhã. Nunca ouvira falar em
roubos naquela casa a ninguém, como também não conhecia a pistola. Como a
garagem ficava no fundo do jardim a uns bons 100 metros da casa, também não
ouvira ruído que se parecesse a um tiro. Teve conhecimento da morte, quando
mais tarde viera à cozinha para que a criada lhe desse um pacote de «OMO».
Como não encontrara ninguém no rés-do-chão e ouvira barulho no 1º andar,
subira e só então se inteirou do sucedido. Ninguém confirma este alibi. 2º – ALICE
CURADO, cozinheira e criada; estivera a arrumar a cozinha até às 14 e 20
(vira as horas) e a seguir dirigira-se ao seu quarto, como de costume, para
descansar uns momentos. Seriam cerca de 15 e 30 (não vira as horas), aproximadamente,
quando subiu ao 1º andar para proceder à sua limpeza. Ao passar junto à porta
do escritório do patrão reparou que a chave da porta se encontrava no chão,
tendo por curiosidade espreitado pelo buraco da fechadura, vendo então o
Comendador estendido no chão. Abrira a porta que apenas se encontrava fechada
pelo trinco e confirmara o que tinha visto pelo buraco da fechadura. Começou
a gritar tendo logo a seguir chegado o sr. Alberto
e miss Isabel. Não ouvira qualquer
tiro (a não ser que tivesse sido disparado enquanto «passara pelas brasas») e jamais ouviu falar de roubo. Lembra-se
de já ter visto a pistola no quarto do Comendador e viu miss Isabel sair com a filha do patrão, perto das 14 horas.
Acrescentou, sem lhe ser perguntado, que miss
Isabel e o sr. Comendador se entendiam muito bem… Ninguém viria a confirmar estas declarações. 3º – ALBERTO
BROCHADO, sobrinho e secretário do Comendador; como o seu tio o
dispensara da parte da tarde daquele dia, logo que acabara de almoçar
retirara-se para o seu quarto (talvez ninguém o tivesse notado), e aí se
deixara adormecer ao som da música do seu transistor.
Acordara e levantara-se às 15 e 15 (consultara o relógio), e saíra para o
jardim onde, pouco depois, chegava também miss
Isabel, vinda do exterior. Conversaram durante algum tempo e quando ouviu os
gritos da criada, apressou-se a subir levando na sua peugada Isabel. Ao
chegar ao escritório deparara com o patrão e tio deitado no chão e
aparentemente morto. Não mexera em nada e telefonara para a polícia. Inquirido
se conhecia a pistola, disse pertencer a seu tio e que fora ele a registá-la
um ano antes, a pedido do Comendador. Não ouvira qualquer tiro e também nada sabia de
roubos. Também ninguém confirma a totalidade deste
depoimento. 4º – ISABEL
FERREIRA, «nurse»
da pequena Paula, filha do Comendador; trabalhava há 2 anos na casa, logo
após a viuvez do Comendador, e nunca ouvira falar em roubos. Naquele dia
havia saído às 14 horas com a sua pupila, e fora levá-la a casa de uma tia.
Seguiram a pé a pedido da criança, e chegaram ao destino cerca de um quarto
de hora depois. Ficara a conversar com a tia da criança um bom pedaço, e regressara
também a pé. Demorara-se a ver as montras e quando chegara ao jardim da casa
do Comendador, encontrara o sobrinho deste. Falaram sobre o tempo e pouco
depois começaram a ouvir-se os gritos da criada, que a levou a subir ao 1º
andar atrás do Alberto. Acrescentou ser o sr.
Comendador um bom patrão, e talvez nessa manhã trouxesse cara de aborrecido. Ao ser-lhe perguntado se tinha em seu poder
algumas moedas de 1/2 libra, negou. Entretanto, ao serem-lhe mostradas as
duas que foram encontradas no seu quarto, admitiu que lhe haviam sido
oferecidas pelo patrão, quando fizera anos. Confirmou-se que saíra de casa da tia de Paula
depois das 14 e 30 e que ficara de ir buscar a criança às 18 horas. Posta de parte a hipótese de suicídio – a falta
de impressões digitais na arma levam-nos a isso –, pergunta-se: 1º – NA SUA OPINIÃO, QUEM PODERIA TER ROUBADO E
ASSASSINADO O COMENDADOR BROCHADO? 2º – EM QUE BASEIA AS SUAS DEDUÇÕES? E pronto! Os dados estão lançados. Resta saber como todos se irão safar deste obstáculo. Para já, o habitual: Respostas para LUÍS MANUEL PESSOA – R. Conde Rio Maior, 18, 5º-Dtº – Algés – 1495 LISBOA, até ao último dia do mês seguinte ao da saída da revista, sendo este dia considerado o da colocação dos exemplares na estação dos CTT.
SOLUÇÕES E CLASSIFICAÇÕES DA ETAPA DE AVEIRO «UM
CRIME NO TERREIRO DO PAÇO» 01 – Facilmente o inspector R. deduziu que possivelmente teria sido aquela
rapariga quem matara a outra, que jazia no outro lado do rio Tejo, porque ela
jamais poderia saber que: 1a – …A vítima era do
sexo feminino – quando afirma «não fui eu que a matei» – depois de o inspector apenas informar pelo altifalante que «houvera
um crime no Terreiro do Paço». 1b – …A morte da
vítima fora produzida por pistola – quando diz «não tenho aí pistola nenhuma»
– depois de o inspector apenas dizer que «houvera
um crime…». (Não apenas por referir tratar-se de pistola – daí estarem dois
invólucros junto do cadáver –, mas também pelo facto de até poder ter sido
utilizada uma faca ou punhal pelo assassino.) 1c – Outro factor importante para o inspector
ter desconfiado da jovem reside na circunstância de ela ter mentido por dizer
«venho do meu emprego de escriturária». Com efeito, se analisarmos com
atenção o narrado no texto, chega-se à conclusão de que a data do dia do
crime se trata de um dia memorável da nossa história: 5 de Outubro! Feriado
Nacional. Foi em 5 de Outubro de 1910 que se implantou a República Portuguesa
com a queda da monarquia constitucional! Sendo assim, seria impossível a moça
ter trabalhado naquele dia. 1d – É certo que a
rapariga acabara de assassinar a outra jovem quando chocou comigo no
«Terreiro do Paço»… No local do crime (na casa de
banho das senhoras – donde a criminosa vinha), foram encontrados três paus de
fósforos dos quais dois eram de cor preta e um branco. No cinzeiro
encontravam-se mais… todos brancos… Ora, a assassina utilizava fósforos de
carteira negra conforme eu verifiquei no barco. Logo, como ela vinha fumando
dos lavabos femininos, os fósforos negros que lá se encontravam só poderiam
ter sido dela! Justifica-se mais ainda pelo facto de um dos fósforos em
questão não estar consumido nem inteiro… Evidentemente que a outra parte
residia na carteira da criminosa conforme foi descoberto! Deduz-se o
seguinte: Depois de ter morto a jovem, a assassina puxa de um cigarro para
fumar (pretendia esconder o nervosismo aparente – por isso ela fumava
bastante!), no entanto quebra pelo meio o primeiro fósforo pelo que o deita
fora… À segunda tentativa consegue acender o cigarro deitando de novo para o
chão o outro fósforo utilizado. Quanto ao facto de ela fumar «Kart» e no chão do local do crime aparecerem beatas de
«Paris» nada há de anormal… Pois, como se justifica, a criminosa não fumou
nas casas de banho. Aquelas beatas seriam de outras pessoas assim como o pau
do fósforo branco no solo! Seria impossível os paus de fósforos pretos
encontrados nos lavabos das senhoras pertencerem a outras pessoas, uma vez
que alguém, quando lá entrou a seguir à assassina, detectou
o corpo e deu o alarme. 02 – Por ter observado
constantemente a assassina, após o nosso choque no «Terreiro do Paço», por
causa das minhas «manias» de conquistador, pude depois auxiliar o inspector com mais provas que a incriminariam melhor
ainda: 2a – Ela ao dizer
«faço esta viagem todos os dias» continuava a mentir… De facto se assim acontecesse
já tinha tido tempo suficiente para saber que os barcos têm primeira e
segunda classe! E, pela sua inexperiência de viajar naquele transporte ficou
admirada ao ver pessoas a irem para ambos os lados (1ª e 2ª classe). Nunca
iria para a primeira classe com bilhete de 2ª se de facto viajasse todos os
dias naqueles barcos. Também o seu espanto ao olhar o revisor que examinava
os bilhetes dos passageiros prova que era a primeira vez que ela viajava
naquele barco. 2b – Um outro pormenor
que justifica plenamente que ela não fazia aquela viagem todos os dias, nem
tão pouco vinha do emprego, é o facto de o seu bilhete ser de «ida e volta»
conforme verifiquei quando o apanhei no chão. Primeiro, porque seria mais
cómodo possuir um «passe» e segundo porque o bilhete de «ida e volta» seria
mais lógico ser tirado logo pela manhã, quando se dirigia para o emprego, e
nunca quando vinha do mesmo. Assim leva-nos a crer que ela após o crime (que
já havia sido planeado muito antes), pretendia ir
até ao Barreiro (outro lado da estação) enquanto descobriam o corpo e depois
regressava num outro barco. 2c – Se a rapariga tinha acabado de assassinar a vítima quando chocou comigo (conforme está provado)… Se no local do crime não apareceu nenhuma arma… E se ao ser revistada, a assassina não possuía nenhuma arma… Então onde se encontraria a pistola? – NO FUNDO DO RIO, JUNTO AO CAIS DE ATRACAMENTO, NO BARREIRO!!! Esta dedução nasce em face do seguinte: a jovem quando matou a rapariga guardou a arma na sua mada. (Daí a mesma não se encontrar no local do crime!). Saindo nervosa da casa de banho chocou comigo e quando lhe apanhei a maleta ela bruscamente ma tirou das mãos… (Estava com medo que eu descobrisse a pistola dentro da mesma!!). Sendo assim, quando entrou no barco levava consigo a arma do crime. Depois, quando estávamos prestes a atracar no Barreiro, apareceu a polícia… Então, ela, para não ser descoberta com a arma dirigiu-se à borda do barco e após olhar à sua direita e depois para a esquerda retirou a pistola da mala e lançou-a ao rio!!! Foi esta a justificação que dei ao inspector R. sobre o desaparecimento da arma.
CLASSIFICAÇÕES DA ETAPA DE AVEIRO 10 pontos – ALI KATT (Ílhavo); ALLULI WAKMAN (Lisboa); AMON (Lisboa); BLUFF (Lisboa); COBALT 60 (Peso da Régua); DETECTIVE INVISÍVEL (Lisboa); DETECTIVE SAID (Barreiro); FERNANDO GOMES (Prado); IVAN ANTONIEV (Reguengos de Monsaraz); J (Vila do Conde); JOÃO DAVEIRO (Aveiro); L. M. (Lisboa); LINCE (Lisboa); LUGRAMA (Ílhavo); MABUSE (Lisboa); Mr. ROERIGO (Albergaria-a-Velha); O GRÁFICO (Almada); PAL (Algés); RAGAZZA (Lisboa); RICKY LAKE (Santarém); ZÉ (Viseu); ZË CHERY (Santo António dos Cavaleiros). 22 concorrentes. 09 pontos – ANJEROD (Lagos); BECAS (Cascais); XEK BRIT (Famalicão). 3 concorrentes. 08 pontos – ANÁTEMA (Mealhada); AXLE MUNSHINE (Famalicão); BATMAN (Abrantes); BOMBEIRO (Lisboa); CARLOS ESTEGANO (Caneças); DETECTIVE MASON (Lisboa); DETECTIVE Z (Famalicão); FERNANDO SEMANA (Gondomar); FIODÁGUA (Gondomar); G. M. B. L. (Serpa); HAL FOSTER (Viseu); HENGERINAQUES (Bragança); INSPECTOR WEST (Beringel); J. M. S. F. J. (Setúbal); JOMARA (Caldas da Rainha); LIVAU (Parede); MASIRINS (Lisboa); MÊBÊDÊ (Amadora); PT (Lisboa); PAULITO (Campo de Besteiros); RIC HOCHET (Lisboa); SAGITTÁRIUS (Porto); SEVERINA (Lisboa); TUBARÃO DAS ESTEPES (Lisboa); XEQUE AO REI (Lisboa). 25 concorrentes. 07 pontos – A BOA SAMARITANA (Ovar); AGENTE PN (Amadora); AMROCK (São João da Madeira); ANTÓNIO GUERREIRO (Porto); AOJ MIUQ (Souto); ARJACASA (Valpaços); COLUMBO (Bombarral); DETECTIVES DE MEIA TIJELA (Lisboa); GIBAT (Portimão); GODÉVORA (Évora); JOÃO MANUEL FERNANDES (Lousã); MEHARI (Amadora); NUNO CRISTÓVÃO (Bragança); PERSA (Carcavelos); PIRES KID (Reguengos de Monsaraz); RAUL RIBEIRO (Cacém); RUI REMOALDO (Porto); SATANÁS (Almada); SUPERMAN (Valpaços); TIO PATINHAS (Famalicão); VIBAR (Valongo); 037 (Quarteira). 22 concorrentes. 6 pontos – A PERESTRELO (Lisboa); ABÍLIO (Lisboa); AGENTE XIS (Estremoz); JULDIMAR (Juncal); MARTH (Famalicão); O BARATA (Faro); PEPE OVAR (Ovar); RUI POÇAS (Vila Nova de Gaia). 8 concorrentes. 5 pontos – ESPADACHIM (Lisboa); KRISS BOYD (Guarda). 2 concorrentes. TOTAL DE CONCORRENTES: 82 (muito poucos!!). PRÉMIOS E CLASSIFICAÇÕES AS MELHORES 1º – ALI KATT – 5 pts. 2º – RAGAZZA – 4 pts. 3º – JOÃO DAVEIRO – 3 pts. 4º – DET. INVISÍVEL – 2 pts. 5º – O GRÁFICO – 1 pt. AS MAIS ORIGINAIS 1º – GIBAT – 5 pts. 2º – MR. ROERIGO – 4 pts. 3º – ZÉ CHERY – 3 pts. 4º – ALI KATT – 2
pts. 5º – Não atribuído. Não há tempo para mais. Um forte abraço
para todos deste vosso amigo que continua à vossa espera. L. P. Fonte: XYZ-MAGAZINE,
nº 11 (pág. 15-19), Abril de 1981 |
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© DANIEL FALCÃO |
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