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Dezembro de 1979 – Abril/Maio de 1987 XYZ-Policiário XYZ nº 12 |
XYZ-MAGAZINE HISTÓRIA DO CONTO POLICIÁRIO E DE FICÇÃO E ANTECIPAÇÃO CIENTÍFICA XYZ-POLICIÁRIO Por L.P. (Algés)
«ALGUMAS
PALAVRAS NECESSÁRIAS» Antes do mais um forte abraço para todos os que têm apostado em nós. Tudo temos feito para que esta prova decorra de modo a dignificar o Policiário, ainda que não seja fácil, sobretudo por falta de produções interessantes e diferentes. Mas, parece que temos apresentado trabalho agradável, conforme nos tem sido testemunhado por diversos concorrentes. Mais uma vez não nos é possível apresentar soluções do segundo problema, sobretudo por uma imensa falta de tempo e derivado a diversos atrasos na saída da revista. No próximo número tentaremos apresentar soluções dos problemas 2 e 3, tentando assim «endireitar» um pouco mais as nossas «contas». E posto isto, fiquem com o I CAMPEONATO NACIONAL DE PROBLEMAS POLICIÁRIOS PROVA Nº 5 ETAPA DE FARO …E O ALENTEJO FICOU MAIS POBRE O sol, há pouco
sobressaído no horizonte, começava já a absorver o sombreado do casario. Na
torre da remota vila alentejana, o velho mas certeiro relógio badalava as 9
horas de um prazenteiro dia primaveril. O inspector Mafú estacionou o
carro junto ao portão do muro que cerca a ampla vivenda da família Castro.
Fora há pouco solicitado telefonicamente para averiguar mais um caso, desta
vez o assassínio do sr. Joaquim Castro, homem de
grande prestígio e rico fazendeiro do sítio. Agora defronte do
portão, o inspector prestes a entrar, olhava em
frente, a soberba e requintada fachada principal do edifício, ou ao redor, o
majestoso e verdejante jardim. Jardim cujo emaranhado arvoredo, de múltiplas
variedades e mil tons verdes, recaía como um tecto
cerrado, filtro da escassa luminosidade que se derramava pelo solo. Não havia dúvida;
era esta a morada… No entanto, mal o inspector
pisou o xadrez variegado da calçada, alguém vindo de casa se lhe dirige: – Desculpe, é você
o inspector… Mafú? – perguntou a criatura ao aproximar-se. – Exacto, senhor… – Castro Miranda,
filho do sr. Joaquim. – Então o que há sr. Miranda? – indagou secamente
o inspector depois dos cumprimentos. – Bem… acontece
que meu pai morreu, tudo aponta o assassínio! Mas… – Não se preocupe,
tudo acabará por resolver – animou-o o inspector,
deitando fora o filtro fumegante de um vicioso cigarro. E retomando a
marcha os dois homens entraram em casa.
Conduzido ao local
onde ocorrera a tragédia, o jovem agente da Bayer & Bayer Investigations, achava-se perante um quadro «vivo» e macabro. O aposento, onde
parecia pulular ainda uma névoa mortífera, não muito faustuoso
decorativamente, elevava-se a um mais ou menos alto 1º andar. O seu singelo
interior reflectia bem a humilde personalidade de
Joaquim Castro, que esta noite acabara de perder. Quem com
fulgurantes olhos de inspector prescrutasse
um a um todos os objectos do apartamento, poderia
precisar inequivocamente que o corpo do temerário lavrador jazia carecido de
orgânica, e não estava revigorizando-se num profundo sono, como leviana
análise poderia fazer crer. E quem se afoitasse numa análise mais próxima,
não só verificaria o anterior, como indubitavelmente confirmaria ter sido uma
reles faca de cozinha que arrebatara aquela vida e lhe deixara descentrada no
peito uma irregular ferida, de cujos bordos carnosos emergiam pequenos fios
de já coalhado sangue.
Fora mais um
asqueroso crime! O porquê dele
talvez se relacionasse com um monárquico cofre, que outrora cobiçado, estava
agora aberto de par em par revelando um conteúdo «abstracto» e pressagiando
furtiva violação. Dos vultuosos maços de notas ninguém sabia o paradeiro,
assim como de certos objectos e documentos valiosos
para a família. Somente uma velha pistola, habitualmente ali guardada,
pousava agora em cima do cofre, o qual parecia não ter sido forçado ao
abrirem-no. Quanto ao como do crime também havia algo de
elucidativo. Ladeando o leito
da vítima estava uma sobranceira porta-janela, que dando para as traseiras,
tinha um buraco de palmo e meio numa das médias vidraças, pelo que o quarto
há muito mergulhara na fina brisa matinal. Muito embora o
partir do vidro não tivesse sido detectado pelos
residentes na mansão, fora por aí que a morte fizera a sua entrada sinistra
no quarto. Isto era o cenário
e a lógica dos acontecimentos que ressaltavam aos olhos do inspector, que achou conveniente recolher depoimentos das
pessoas que conviviam com o sr. Joaquim.
As declarações dos
possíveis autores do crime prestaram-se logo de seguida, porque a manhã
galopava amena ao encontro da tarde e o inspector
costumava dizer que «quando o ferro
está incandescente é que se malha»: – CASTRO MIRANDA –
O filho do morto era homem dos seus 30 anos, alto e forte, pouco falador e
hoje mais calado ainda: – Eu… eu estava em minha casa, que é aqui perto,
quando chegou a maldita notícia. Não podia fazer nada! Isto é, vim logo que
pude. As relações entre nós? Eram as mesmas de sempre… Apenas existia um
desacordo entre nós relacionado com um projecto luxuoso de irrigação, com que meu pai sonhava e
agora tentava pôr em prática. Mas isso era o menos… – SANTOS MIRANDA –
Enteado da vítima, ainda novo e apesar do ar consternado de hoje, deixando
transparecer uma simpatia que se coaduna no esbelto físico de homem
irrequieto: – Bem, eu vivo em Lisboa. Há dias passara por cá para tratar de
uns negócios com meu falecido pai, relacionados com a aquisição de maquinaria
agrícola, e ontem, já noite, quando me deitava, acabou por me telefonar
confirmando o fecho do negócio; foi pois com surpresa que esta manhã recebi o
telefonema de meu irmão. Cheguei agora, pouco depois das 9 horas, não estou
ainda ao corrente dos factos mas um homem de iniciativas em prol da região
não merecia tal! – JOÃO e FLÁVIO – respectivamente, neto da vítima e filho da ama, são dois
rapazes mergulhados numa juventude de 17 e 19 anos, que mostraram interesse
em dizer: – Estava passando uns dias na casa de meu avó
mas ontem à noite fui a uma festa, demorei bastante para que quando chegasse
já tudo tivesse acontecido. Embora às vezes
discutíssemos, o vê-lho Joaquim não era má pessoa, apenas demasiado «economista» e não compreendendo os preconceitos da juventude de hoje… – Exacto. Eu andava deambulando pelas ruas da vila quando
encontrei o João que me convidou para a tal paródia. Como prometia ser
excitante, aceitei. Aquilo começara já tarde e mais tarde acabou, por isso só
pela manhã, já «tocados» é que
regressámos a casa. Já tudo tinha acontecido ao pobre velhote… – JOANA BRITES –
Empregada de sempre na casa, fora ama da já falecida patroa, e era-o agora do
sr. Joaquim: – Fui eu que dei com o patrão mono! E
se não estivesse tão «ferrada»
teria sabido quem era o criminoso, pois estou encarregada de velar pelo
senhor. Infelizmente tenho
o sono pesado e foi a Miquelina que me bradou para ir ver o senhor. Quando
cheguei e vi aquilo, fiquei transtornada; corri à janela a tempo de ver ainda
um vulto galgar o portão, donde soou uma zunida de
motorizada. Corri logo a
chamar o sr. Castro, que assim que cá chegou lhe
telefonou a si para Évora, e a todos os outros familiares. – MIQUELINA MARIA
– Empregada muito mais nova que a ama, e também há pouco desempenhando os
serviços de «Dona de Casa»: – Como calcula estava a dormir, mas uma sucessão
de leves barulhos abafados foi o suficiente para me acordar. Os sons pareciam
vir do quarto do patrão, e assemelhavam-se ao resmalhar de papéis e surdos
correr de gavetas. Chamei logo a srª Joana que
dormia profundamente aqui no quarto ao lado, comigo. Como insisti ela foi ver
o que se poderia passar. Daí a pouco comecei a ouvir os gritos, corri para o
quarto e fui encontrar a srª Joana na varanda da
janela, a gritar: a-ssa-ssi-nos, a-ssa-ssinos, de tal maneira que me assustei. Ainda agora me parece
mentira! Se não fossem os factos diria que o senhor morrera por natureza: de
facto, ontem à noite, contrariamente ao habitual, não comeu. Tinham-lhe dado
os remédios há pouco, e à hora de jantar estava na cama, bocejando e
dizendo-se muito cansado. Apesar de o
conhecer mal não o acho merecedor de tal crime. Não se mata um homem para
obter dinheiro ou qualquer satisfação!!!
Tudo começava a
clarear na mente do inspector. Saiu para o jardim
onde as ideias correram até se tornarem límpidas; dirigiu-se aqui e acolá;
parou junto à janela partida, e no chão encontrou indícios indubitáveis de
que alguém trepara pela parede até à varanda da janela… Divagou ainda mais
algum tempo pela frescura do arvoredo, até que o médico legista,
debruçando-se da janela o chamou. Mafú,
a passo, caminhava para a mansão, certo já da sua teoria e providências a
tomar… Resolvera mais um caso.
SEGUINDO OU NÃO O
RACIOCÍNIO DO INSPECTOR, DIGA: 1 – Quem praticou
o crime e porque afirma ser essa pessoa. 2 – Acha que houve
cumplicidade? Em caso afirmativo, diga quem. Qualquer que seja a resposta
explique convenientemente a sua opinião.
Respostas para LUÍS MANUEL PESSOA, Rua Conde de Rio Maior, 18, 5º-Dtº – ALGÉS – 1495 LISBOA, até ao fim do mês seguinte ao do recebimento do «XYZ-MAGAZINE».
GIBAT (Portimão) – Registado com agrado a realização do Convívio de Faro no dia 25 de Julho. Concentração às 9 horas da manhã no Café Pirâmide, no Jardim Manuel Bívar, em frente ao Hotel Faro. Em prémios, não são os mínimos estabelecidos, mas resolvemos aceitar, por não existirem melhores propostas: Melhor solução – 1 álbum de Banda Desenhada com um exemplar dos fanzines «Original» e «Ritmo». Melhor solução original – Idêntico. Melhor solução algarvia – Idêntico. Solução totalista mais curta – Um exemplar dos fanzines «Original», «Ritmo» e «Ensaio». Solução mais curiosa (em substituição do prémio por ti atribuído à solução pior, antes do mais anti-desportiva) – Um exemplar dos 3 fanzines atrás mencionados, ZÉ CHERY (Santo António dos Cavaleiros) – Pode e deve enviar-nos, o mais rapidamente possível, um problema para inserirmos, se assim pretender. Mande sempre. Se não for para este será para outro torneio. AMON (Lisboa) – Mande sempre. Nunca é tarde para nos iniciarmos no que verdadeiramente gostamos. O que não se pode é, nunca, contrariar o desejo e o gosto de participar. L. M. (Lisboa) – Não há divisões no policiário. Daí que não possas descer de divisão… No entanto, é um desafio que lançamos a nós próprios, o de fazermos sempre o melhor, e melhor que na vez anterior. Vem sempre, que a prática é meio caminho andado… Agradecido pelos elogios, que não são de todo em todo merecidos. O desejo de fazer sempre melhor e melhor, também me acompanha. Espero consegui-lo. Quanto aos atrasos, para já, nada a fazer. Iremos anulando, tanto quanto possível, as deficiências. De qualquer modo, manda sempre que nós temos em conta os atrasos. Um abraço. J. (Vila do Conde) – Contado. Lê o que dissemos para o L. M. HERNY (Aveiro) – Não pude ir ao convívio, o que lamentei bastante, acredita. Para outra será. Um abraço. Registei os prémios (2 medalhas e 15 livros, 5 dos quais a sortear entre todos). RAGAZZA (Lisboa) – Vem sempre, que serás bem-vinda. Lê o que dissemos para os anteriores. Um abraço. E
pronto. Recebam um abraço do L. P. Fonte:
XYZ-MAGAZINE, nº 12 (pág. 17-20), Maio de 1981 |
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© DANIEL FALCÃO |
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