PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 24 de Março de 2002

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2001-2002

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

Prova nº 11

Prova nº 12

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2001/2002

 

SOLUÇÃO DA PROVA Nº 7

 

O OCUPANTE DO QUARTO 205

Autor: Natércia Leite

 

1 – A morte do Duarte resultou da grave hemorragia causada pela perfuração do abdómen por objecto cortante.

A droga ministrada não era de molde a causar a morte, ou seria dito: a ferida causada pelo tiro não produziu a hemorragia que teria de produzir se fosse a causa da morte, pelo que o tiro foi dado depois de morto; resta o ferimento no abdómen, para o qual o Duarte não reagiu por estar drogado.

2 – Pretenderam matar o Duarte: a Carlota, o gerente e a mulher do gerente. Esta última não passou de uma tentativa frustrada.

3 – Nunca foi mencionado no texto se os sapatos pretos estavam limpos. Poder-se-ia dizer que pareciam estar esquecidos e não estariam limpos, tal como as meias usadas, no chão, a camisa branca colocada ao acaso, enxovalhada e o “smoking” amarrotado. Tudo incumbências da Carlota.

Segundo Carlota conta, quando ele a chamava, ela trazia logo um copo de água e uma aspirina, pedindo nessa altura a refeição ligeira.

Sempre que ela chegava com o tabuleiro dessa refeição, o Duarte já tinha tomado banho, feito a barba, estando de roupão vestido, sendo ela a abrir o reposteiro de Duarte o não fazia antes. Na manhã do crime, conta ela, Duarte sentou-se à mesa a comer tudo o que pediu, enquanto ela fazia a cama, mudava as roupas, etc.

Logo, não há dúvida de que todo o ritual anterior foi cumprido, ou ela referiria essa quebra de rotina. Assim sendo, não tem lógica que Duarte depois diga que se vai deitar mais um bocado, depois de fazer a barba e tomar banho e de a Carlota ter feito a cama, trocando a roupa. A única explicação é a de que Carlota drogou-lhe a água da aspirina ou a refeição e a sua reacção foi essa, de se deitar. Uma vez sem reacção, foi-lhe muito fácil matá-lo com o objecto cortante e controlar a saída do sangue com toalhas a que tinha fácil acesso.

Também Carlota mente no que se refere aos sapatos. Nos hotéis é frequente deixar os sapatos à porta, à noite, para serem engraxados pelo pessoal e estarem prontos de manhã. Nunca o Duarte iria pedir à Carlota para deixar os sapatos aquela hora do dia. Foi ela, sim, que os deixou lá – um hóspede vê os sapatos à porta às 15h30 –, despreocupada, tal como com a roupa desarrumada e enxovalhada, porque já sabia que ele nunca mais ia precisar de tais objectos!

E não tinha lógica que sendo Carlota a “responsável” por Alex, não o fosse avisar que estava atrasado. Ela não foi porque estava à espera que alguém encontrasse o cadáver.

Depois, Carlota refere que tem a certeza de que deixou a porta no trinco e daí ter rodado com decisão a maçaneta e Alice ter reparado que Carlora franziu o sobrolho e se quedou cismática. Aquilo não estava como ela deixara!

E não estava porque mais alguém tivera a ideia de fazer o que ela fizera. E esse alguém foi o gerente.

O dia estava escuro, Carlota correu os cortinados e fechou os reposteiros, segundo afirmou, antes de sair para Duarte dormir mais um pouco, pelo que o intruso entrou na maior escuridão, certamente pé ante pé, para cometer o crime. Dentro do quarto só silêncio e daí ter-se dirigido ao reposteiro, abrindo-o – o texto diz que as duas empregadas encontraram lá dentro uma luz difusa, os cortinados leves fechados, mas os reposteiros abertos –, desferindo o tiro em Duarte já morto, envolvendo a arma na almofada que por isso lá estava, já que Duarte nunca a usava. E foi o gerente, porque tinha acesso à chave para abrir a porta, caso fosse preciso e depois para a fechar – a chave do quarto estava lá dentro – ao sair. E como lhe quebraram os óculos na noite anterior, a sua visão não seria a melhor e daí abrir os reposteiros.

A outra hipótese, Solange, é posta de parte, porque não terá podido entrar no quarto, talvez por não ter acesso à chave, só assim se justificando estar à porta a chorar e a falar, entre as 16h00 e as 17h00, sendo vista e ouvida. Se a porta foi encontrada fechada e a chave de Duarte estava dentro do quarto, quem lá entrou tinha uma chave. Assim sendo, Solange não tinha que estar a chorar e falar à porta. Entrava com a chave e fazia o seu trabalhinho.

Finalmente, a mulher do gerente pretendeu matá-lo na sala de jogo, apontando-lhe uma arma, mas foi impedida. Nada a liga aos factos dentro do quarto.

Quanto à hora do crime, ela terá sido algures entre as 14h00 e as 15h00, uma vez que se fala “naquele fatídica manhã”, logo antes das 12h00, e na autópsia havia restos de alimentos. Como a digestão demora cerca de duas a 2,5 horas, chegaremos a esse intervalo. E como às 21h00 já se registava alguma rigidez cadavérica e esta se manifesta por volta das 6/7 horas após a morte, tudo está correcto.

 

 

© DANIEL FALCÃO