PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 17 de Março de 2002

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2001-2002

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

Prova nº 11

Prova nº 12

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2001/2002

 

PROVA Nº 8

 

DA RÚSSIA COM AMIZADE

Autor: Karl Marques

 

O assunto para este problema trouxe-me um amigo meu, bom tipo, mas muito, muito, mesmo muito aldrabão. Somos da mesma idade – ele nasceu uma semana antes de mim, em Abril do ano ainda não muito distante de 1980.

Um acaso da sorte deu-lhe uma pequena fortuna na lotaria, que lhe possibilitou, na altura com 17 anos, começar a correr o mundo.

Encontrámo-nos há dias e, como nesta idade ainda não conversamos dos tempos em que éramos jovens, fortes e robustos, nem nos queixamos de problemas de coluna ou de colesterol e, muito menos, perguntamos pela mulher e filhos, o assunto foi, naturalmente… mulheres, com breves referências às suas viagens, em que se falava sobretudo de… mulheres.

Mas, de todas esta conversa, surgiu, apesar de tudo, algo narrável. Eis a transcrição do seu relato sobre a viagem à Rússia:

“…E então parti para Moscovo, a 18 de Julho de 1997, depois de tratar dos meus primeiros investimentos, sim, que os primeiros 15 dias de Julho foram de grande trabalho, não me encostei à sombra do cacau ganho, decidi logo investir e, ao mesmo tempo, meter-me na política, embora deva confessar que estas primeiras até correram mal, pensei em abrir uma papelaria no Colombo, mas a burocracia desmotivou-me, e, quanto à política, eu nunca tinha percebido que só se votava depois dos 18, de forma que nem recensear-me a junta deixou, por estar fora de prazo, quanto mais candidatar-me.

Fui então para a Rússia.

Chegado lá, hospedei-me no melhor hotel de Moscovo, para lá ficar um mês e meio e, em pouco tempo, com o meu talento natural para línguas, consegui tornar-me amigo dos filhos do gerente, um rapaz, gajo porreiro e uma rapariga, bem, nem queiras saber… [faz-se aqui um salto na transcrição, visto esta parte em nada ir contribuir para o texto e, sobretudo, para não baixar o seu nível!]… e qual não é a minha surpresa quando, durante a minha estada, eles me convidaram para ir com eles e com o pai a uma festa, num local que não revelaram.

Saí do hotel com eles, à espera de ir a qualquer lado, desde um bar de “strip” a um leilão de bombas atómicas mas, imagina como eu fiquei, levaram-me ao… Kremlin, à residência oficial do Presidente, à casa do Boris!

Bom, o homem é um espectáculo! Mal lá chegamos, enquanto eu despia o sobretudo de pele de raposa e o tradicional gorro, sacudindo os flocos de neve que a eles se agarraram, Boris veio ter connosco ao “hall” de entrada, em mangas de camisa, com oito copos de vodka, quatro em cada mão, cada um deles entre dois dedos! Se em vez de dez dedos tivesse catorze, doze copos traria!!! Foi uma festa! Por essa altura, com o meu talento natural para línguas, já dizia umas palavras de russo, e todos eram unânimes em reconhecer que a minha acentuação era perfeita! Fantástica!

Quando viemos embora, muito alegres, pusemo-nos a andar de carro pela cidade. E quem é que nos aparece? A máfia russa! Bem, foi o bom e o bonito, estava a ver que levávamos um balázio cada um. Valeu-me o gerente do hotel ser um homem de contactos e saímos sem problemas. Até nos despedimos alegremente: afastámo-nos a gritar adeus uns aos outros: era gritos de “dovidenha” na noite moscovita. Estás a ver? Um gajo é amigo do presidente e também dos mafiosos! Estás a ver a cena?”

Aqui, interrompi-o:

– Estou, estou a ver a cena. A propósito, já te tinha dito que todas as minas de diamantes de Angola foram passadas para meu nome? Tão certo como a tua história russa ser verdadeira!

Então, gostaram? Agora digam porque é que a história é falsa. Sim, porque eu não sou o proprietário – infelizmente – das minas de diamantes!

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO