PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 25 de Novembro de 2001

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2001-2002

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

Prova nº 11

Prova nº 12

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2001/2002

 

PROVA Nº 4

 

O CASO DO DETECTIVE REFORMADO

Autor: A. Raposo

 

Ainda não se tinha passado um mês sobre a data da reforma do detective Tempicos e já as saudades começavam a roer.

Parece que não, mas passara muitos anos naquela instituição – a PJ – e começava a sentir saudades do ‘stress’!

Guardara as cópias, como recordação, da última investigação que iniciara, mas que não tivera tempo de levar até ao fim. Paciência, a vida é assim.

Recordou o caso desde o início…

Três raparigas viviam na mesma habitação. Todas solteiras e bonitas. Duas eram enfermeiras e trabalhavam num hospital. A vítima, essa era professora de inglês. Mary viera de Londres, a convite do Instituto Britânico. As outras duas eram do Porto e vieram para a capital por uma questão de vagas.

Naquele domingo, Mary aproveitara a viatura que os seus pais tinham trazido e fora fazer um piquenique, junto à praia da Caparica.

Alguém fora com ela e tratara-lhe da saúde, não se sabia quem…

Apareceu ao volante do carro, com uma facada no pescoço, apanhando a carótida pelo caminho e deixando o corpo sem vida, com a cabeça encostada ao vidro da porta. O crime tivera lugar dentro do carro. A brigada da PJ, chamada ao local do crime, deu esse facto como definitivo.

Quem fez o trabalho, teve o cuidado de limpar todas as impressões digitais.

No piso do carro, notavam-se leves vestígios de areia, bem como duas garrafas vazias de cerveja. A viatura era um dois lugares ‘hard-top’.

Um vendedor de gelados passara, ao fim da tarde, junto ao carro e vira o drama. Chamara a polícia.

Os pais de Mary tinham vindo, de carro, passar umas férias e aproveitaram para ver a filha. Depois, partiram para gozar mais duas semanas na Madeira.

Joana, uma das duas enfermeiras que viviam com Mary, tinha feito 12 horas de banco, no dia do crime, pelo que pouco ou nada adiantou. Porém, na véspera fora com a Mary ao supermercado comprar comidas e bebidas. Para ela trouxe duas Sagres e Mary comprou um ‘pack’ de 6 garrafas de “Jansen”. Tudo bebidas nacionais.

No frigorífico da casa, o detective recordava ter encontrado ainda quatro garrafas de cerveja que Mary adquirira, com o mesmo código das duas vazias, encontradas no carro.

Amélia, a outra enfermeira, afirmou que tivera no dia do crime o seu dia de folga. Fora ao cinema. Sozinha.

Um provável suspeito, , namorara com a Amélia e ultimamente andava atrás da Mary. Nos intervalos piscava o olho a Joana. Era um macho latino. Nas horas vagas jogava ténis. Às vezes aparecia no apartamento das jovens a acabava por baratinar uma e outra. Com isso, provocava alguns ciúmes. Segundo Joana, era muito amigo da pinga, para seu gosto.

Amélia confirmara que era bom rapaz, mas acabava sempre por se encharcar em bebidas.

Com , recordava o Detective, sucedera um caso cómico, quando, ao assinar os depoimentos na polícia, como assinatura ficaram uns gatafunhos, porque a mão direita estava engessada. A jogar ténis, tinha caído mal e por isso teve de escrever com a esquerda.

Havia ainda um rapaz que, de quando em vez, surgia lá por casa das raparigas. Era o Joaquim, mecânico de automóveis, primo muito afastado de Amélia. Aparecia sempre um bocado mal vestido, com os dedos amarelos da nicotina. Tinha pouca saída junto das raparigas.

Também foi chamado a depor e disse logo que só bebia tinto e fumava sem filtro. Era meio parvo, a armar ao inteligente. Tinha o dedo polegar da mão esquerda todo escalavrado. A razão – disse – foi ter dado uma martelada num prego e falhado o alvo por ter metido umas litradas de tinto e, pareceu-lhe, ver dois pregos!

Por fim, vinha o depoimento de Amélia, que pouco adiantava, excepto o facto de lhe ter sido diagnosticada uma hepatite C, o que a obrigava a muitas restrições.

Tempicos entrou na reforma exactamente no dia em que os suspeitos foram todos, a horas diferentes, ler e assinar os depoimentos, coisa que já não se usa fazer na corporação. Tempicos conseguiu fazê-lo até à partida!

Foi, por sinal, no final desse dia que os colegas lhe ofereceram um relógio e lhe desejaram boa reforma.

Tudo o que se passara estava ainda bem fresco na memória do detective, só que o caso não tinha sido por si resolvido e poderia ter sido.

De facto, Tempicos “vira” quem era o assassino e, na altura, não reparara. Sem dúvida que com a idade estava a perder qualidade…

 

Pergunta-se:

1 – O que é que Tempicos “viu”?

2 – Quem é o assassino e porquê?

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO