PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 3 de Fevereiro de 2002

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2001-2002

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

Prova nº 11

Prova nº 12

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2001/2002

 

PROVA Nº 6

 

A MORTE DO CHARADISTA

Autor: Janes

 

Naquela manhã soalheira do mês de Julho, foi encontrado, pela D. Adozinda – governante, cozinheira, etc. – o corpo de Januário Pinto, ex-artista plástico, na área da escultura em ferro e que já há algum tempo se dedicava a tudo quanto era exercício mental, escrevendo também alguns poemas. Por isso era conhecido pelo “Charadista”.

Foi no escritório que o inspector Alex Cruz e o detective Passos, chamados entretanto, juntamente com o detective Monteiro, depararam com o ancião, já “promovido” a cadáver. Fora a D. Adozinda quem contactara o primeiro, mas como este gostava de trabalhar em equipa, trouxera os outros.

O cadáver estava caído no chão, de peito para cima, com ambas as mãos sobre o mesmo, tinha os olhos muito abertos e os membros com uma rigidez muito acentuada. As mãos crispadas, de unhas bem tratadas mas apresentando partes escuras sob elas, indicavam poder tratar-se de um ataque cardíaco, como foi, de resto, a opinião “a priori” do médico legista.

Na casa, além da D. Adozinda, viviam ainda os três sobrinhos da vítima, além do corpulento Ambrósio, que acumulava as funções de jardineiro, com as de motorista e reparador de pequenas coisas.

Também faziam parte dos moradores dois corpulentos e ferozes cães, que tinham tido a mesma pouca sorte do “Charadista”, talvez envenenados, já que tinham sido encontrados pedaços de carne, provavelmente atirados de fora e que foram recolhidos para análise.

O palco dos acontecimentos era uma vivenda de dois pisos, de tamanho considerável, totalmente cercada de canteiros e arruamento de saibro cimentado. Toda a propriedade era murada, sendo a frente gradeada a partir de um, dois metros de muro e no centro, um portão frontal à entrada principal, totalmente construído em ferro, com adornos e puxadores em bronze.

O detective Monteiro, destacado para sondar o exterior da vivenda, não descobriu nada de relevante, para além dos cadáveres dos cães. O inspector e o detective Passos tomavam nota dos nomes e hábitos dos moradores:

A D. Adozinda, uma vida dedicada ao patrão, servia-o há mais de quarenta anos; o Ambrósio para lá caminhava, com uma fidelidade quase canina; Simão Bororé, filho de uma irmã da vítima e de um cidadão brasileiro, era do tipo extrovertido, tinha 38 anos e regressara do Brasil há cerca de três, vivendo com o tio, que lhe oferecera alojamento. Embora afirmasse ter um bom pé-de-meia, foi ficando, divertindo os outros com saídas engraçadas. Mal entrou no escritório, começou logo o gracejar:

– Coitado do tio! Com este calor ainda é capaz de lhe faltar ar…

Foi travado pelo olhar duro do inspector, nada dado a gracejos parvos.

Manuel Seixas, filho de outra irmã do falecido, tinha 40 anos de idade e uma faceta: apanhara uma “piela” há 20 anos atrás e ainda não lhe tinha passado. Referiu apenas o facto de ter visto perfeitamente os quatro cães do tio!!!

Fernando Pinto, filho de um irmão, era o menino bonito de Januário. Com 32 anos, sempre impecável no vestir, era quadro superior numa empresa de telecomunicações e era apontado – segundo disse a D. Adozinda, que o ouvira ao patrão – como herdeiro da maior parte da fortuna do tio. Limitou-se a entrar em silêncio, fitando, de semblante triste, o local onde o tio tinha caído para sempre…

Dispensados os presentes, por não existir suspeita de crime, o inspector pôs-se a observaras olhas onde Januário Pinto estivera a escrevinhar umas coisas e fixou-se numa estranha quadra: “É com este fio de cobre / Que ligo à corrente, o rádio / Para ouvir o relato / Que emite qualquer estádio.”

Também havia frases em hieróglifos, que o inspector reconheceu como sendo o nome dos sobrinhos.

Estava tão embrenhado nesta contemplação que nem deu pela entrada da D. Adozinda, que lhe pregou um susto, ao falar:

– Há uma coisa que ainda não foi referida. O patrão andava, ultimamente, com a mania de que o queriam matar por causa do testamento que tinha marcado para hoje, no notário, e em que ia deixar bens aos sobrinhos e a nós, empregados…

O inspector deu mais uma volta nos papéis e deu atenção ao princípio do que seria uma futura quadra: “Vem a sétima em primeiro / E a extremidade do braço / Daquel…”

Desconfiado Alex Cruz mandou Passos dar uma vista de olhos aos quartos dos agora suspeitos e num dos quartos encontrou um cone de papel, com um alfinete na ponta, a fim de estar em qualquer coisa. Estava debaixo de um móvel.

O inspector sorriu. As peças começavam a encaixar. Ele, que também era fanático pelas coisas que estimulam as “cinzentas”, tinha agora a certeza de que se tratava de um assassínio.

Recebidos os relatórios do médico legista e do veterinário, constatou-se, não sem surpresa de Passos e de Monteiro, que todos tinham sido envenenados, dono e cães, da mesma forma. A carne não tinha nada de veneno…

E agora temos um ou mais assassinos!

Aqui fica o desafio, para um sucinto embora completo relatório desta “Morte do Charadista”.

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO