PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 12 de Maio de 2002

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2001-2002

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

Prova nº 11

Prova nº 12

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2001/2002

 

SOLUÇÃO DA PROVA Nº 9

 

MUITAS BALAS PARA UM HOMEM SÓ

Autor: Paulo

 

Os problemas com estas características são sempre de eliminatórias, demonstrando as impossibilidades, para depois se apresentarem as provas e indícios incriminadores.

A primeira constatação é a de que não houve suicídio. Ninguém se suicida com oito tiros, de luvas calçadas, e depois tira as luvas, atira-as pela janela e fecha a janela…

Toda a descrição do caso aponta para que o criminoso esteja dentro de casa. Não há pegadas para além das descritas, não há possibilidade de alguém exterior e desconhecido aparecer na cena no crime.

Dos suspeitos, temos:

1 – Jorge é ilibado por Natálio, como facilmente se verifica. Cruza-se com ele bem longe do local e aproximadamente pela mesma hora. Não tem hipótese.

2 – Natálio é ilibado por Jorge e Cremilde. Mesmo que tivesse uma chave da casa, não teria tempo para cometer o crime e voltar a sair. A hora que Cremilde indica para o crime não lhe permitiria todo a movimentação. Mesmo que tivesse tempo para sair, a colocação das luvas onde elas apareceram obrigá-lo-ia a sujar os sapatos e não poderia aparecer com eles a brilhar.

3 – Cremilde teve oportunidade para matar, mas não tinha mobilidade nem tempo para fazer desaparecer as luvas. Firmino apareceu imediatamente e encontrou-a na cozinha.

4 – Firmino poderia ter cometido o crime. As pegadas exteriores são suas, as luvas também. Mas, de fora o crime não podia ter ocorrido porque ele não chega à janela. Teria de se encavalitar em algum objecto que não estava à vista. Teria de disparar oito tiros e acertar naquelas condições, depois atirar com a arma para dentro do escritório com notável pontaria e fechar a janela por fora, o que é impossível. A janela não poderia ser fechada por ele quando entrou no escritório depois, porque nesse caso teria de deixar pegadas de lama até à janela, o que se não verifica. Ou então disparar através dos vidros, o que não aconteceu porque não há vidros partidos. Nenhuma destas hipóteses é possível. A outra, mais viável, é a de ter cometido o crime lá dentro e saltado pela janela, fazendo depois o trajecto que conhecemos. Só que, neste caso, a janela teria de ficar aberta quando ele saiu. No entanto a janela está fechada. Por outra janela não podia ter saltado porque não há pegadas. Se entrasse pela porta da frente seria visto por Natálio. Pela detrás, por Cremilde. Não podia ter cometido o crime.

5 – Por exclusão, resta Bernardo, que teve oportunidade e motivo: sabia onde estava a arma e que esta estava carregada; tinha mobilidade por toda a casa; soube por qualquer processo que iria ser deserdado e expulso da casa, surgindo desta forma o motivo para o crime; apanhou as luvas ao jardineiro, porque sabia que uma mão que dispara uma arma pode ser detectada; matou o irmão e subiu rapidamente ao quarto, onde já tinha preparado previamente o cenário e a história que devia contar; foi ao quarto do sobrinho, premeditadamente afastado da casa, e da janela lançou as luvas para o jardim, motivo pelo qual ficaram afastadas uma da outra e não juntas, como normalmente acontece quando alguém as tira; depois aguardou uns instantes e desceu.

A acrescer ao facto de ele ser o único a ter possibilidade de cometer o crime, há uma mentira que comete. Segundo Narciso Morais, as traseiras dão para norte. Quando ele sai pela porta da frente, virou à esquerda; portanto, ficou de leste. Deste lado fica a janela do quarto de Bernardo, o que impossibilita que às três da tarde por lá entrasse o sol, como ele afirma. Tanto quis enfeitar a história com pormenores verdadeiros que acabou por arranjar uma impossibilidade física. Daquele lado, só há sol da parte da manhã.

Para terminar só mais uns pormenores, o facto de a porta da frente estar só no trinco não incrimina ninguém. Normalmente, mesmo nestas condições, não é possível abrir portas exteriores do lado de fora, sem chave.

 

 

© DANIEL FALCÃO