PÚBLICO – POLICIÁRIO Publicação: “Público” Coordenação: Luís Pessoa Data: 15 de Janeiro de 2006 |
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Torneio Rápidas para Experimentar 2005-2006 |
TORNEIO RÁPIDAS PARA EXPERIMENTAR PROVA Nº 3 FESTA NOCTURNA Autor: Inspector Fidalgo
– Responda, sr. A, tem de me dar respostas… – A festa tinha sido de arromba e não sabíamos muito bem onde estávamos ou o que tínhamos andado a fazer… Compreende, era um dia especial em que todos entrávamos num ano especial. Toda a gente dizia e parece que era verdade, que o século e o milénio só iriam virar no ano seguinte, mas, que diabo, viravam-se todos os algarismos naquele dia, naquele segundo exacto! – Eu até posso compreender isso, acho normal que se festejasse, mas nada justifica a vossa atitude perante o que se passou. O que eu quero saber é quem estava presente no momento em que aconteceu o incidente. – Não estou certo. – Mas você estava no local, ou não? – Estava… Isto é, penso que sim… Sabe, os copos… O agente Maduro saiu da sala, já um tanto irritado com o que se passava. Isto de andar a perguntar coisas com anos de atraso, nem parecia coisa de gente. Um incidente tão distante… – Senhor B, isto parece um pouco estranho, mas tenho de lhe perguntar de novo o que se passou nessa noite, o que viu, quem estava presente, quem foi o autor material, enfim, tudo! – Senhor agente, não tenho a mínima ideia! Não me lembro de nada dessa noite, olhe, foi uma noite de folia, uma noite única, que nenhum de nós voltará a passar, não é verdade? Todos bebemos e comemos em força e já nem me lembro de sair do bar, quanto mais o que se passou cá fora… E depois estive dois dias a dormir… – Menina C, quer fazer o favor de esclarecer o que se passou nessa noite? – Ora, senhor agente, o que é que se podia ter passado? Estávamos todos a festejar em grande, quando aquilo aconteceu. Lembro-me perfeitamente que nenhum de nós teve nada que ver com isso, absolutamente nada. Estávamos a festejar, mais nada, mas um grupo provocou-nos e, para evitar males maiores, eu mesma empurrei os meus amigos para dentro do bar, para não haver chatices. O que aconteceu depois, não sei, nem os meus amigos, porque estávamos lá dentro e isso parece que aconteceu cá fora, não foi? – A menina parece que se lembra de tudo muito bem… – Pudera, nessa altura eu andava um bocado mal, com uma infecção e andava a tomar antibióticos e por isso não podia beber álcool. Acabei por ser eu que controlei tudo e levei os meus amigos a casa. – E dentro do bar, o que aconteceu? – Dentro do bar, nada. Bebemos um copo, estacionámos algum tempo para deixar passar a tempestade que se levantou na rua… – Tempestade? – Em sentido figurado, senhor agente, queria dizer, a complicação… – Sim, sim, continue… – Não houve mais nada. Paguei a conta, o que foi uma complicação porque o bar não tinha multibanco e tive de andar a vasculhar as carteiras dos meus amigos à procura dos euros para pagar aquilo… – Senhor D, não me vai dizer que não se lembra de nada dessa noite, pois não? – Não, senhor agente, lembro-me perfeitamente que não se passou nada de especial. Entrámos e saímos de bares e bares, bebemos e comemos, foi tudo excelente. Só há uma noite assim, numa vida. – E depois? – Depois, nada! Acordei em casa, muito mais tarde, com uma dor de cabeça terrível e sem sequer saber como lá cheguei. Depois contaram-me que foi a C que nos andou a entregar em casa, porque ela não podia beber por causa de uns medicamentos. – Não houve incidentes? – Nada. O agente Maduro percebeu que havia ali uma grande mentira, mas não se queria maçar demais com um caso corriqueiro e ridículo que um chefe queria que se esclarecesse passado tanto tempo. Ele sabia que o chefe tinha a pedra no sapato por ter apanhado uma “galheta” naquela noite, mas a verdade é que, conhecendo-o tão bem como ele o conhecia, apostava que tinha sido merecida. Ora abóbora! O agente percebeu onde estava o erro e os nossos “detectives” também, pela certa! Ora digam lá então quem o cometeu: 1 – O senhor A porque ninguém podia estar num estado em que não se lembrasse de nada – estava a mentir; 2 – O senhor B porque revela que não se lembra sequer de sair do bar, mas sabe que se passou alguma coisa cá fora, pelo que estava a mentir também; 3 – A Menina C porque se lembra de tudo tão bem, mas mente naquilo que diz; 4 – O senhor D porque se lembra de tudo, de entrar e sair de bares, de comer e beber, e portanto tinha de saber o que se passou, pelo que é um grande mentiroso. |
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© DANIEL FALCÃO |