PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 12 de Fevereiro de 2006

 

Torneio Rápidas para Experimentar

2005-2006

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

 

Resultados

 

 

TORNEIO RÁPIDAS PARA EXPERIMENTAR

 

PROVA Nº 4

 

MORTE NUMA RUA DE LISBOA ANTIGA

Autor: Inspector Boavida

 

Noite cerrada na Lisboa antiga. Bairro degradado e desertificado, vampirizado por políticos corruptos, à mercê de insaciáveis especuladores imobiliários. Rua estreita com duas faixas de rodagem. No passeio oposto ao sentido do trânsito ascendente, jaz um homem, caído de bruços, voltado para a frente, para o lado descendente da artéria. Soube-se depois que se chamava Arménio, era um dos poucos habitantes das redondezas e tinha mais de sessenta anos. Um pobre homem só, sem família. O subchefe Pinguinhas acabara de chegar ao local. Dois homens rodeavam o corpo da vítima.

O mais jovem, com cerca de 30 anos, Bernardo de seu nome, foi o primeiro a ver o cadáver. Afirma ele que quando subia a rua viu passar um carro em grande velocidade, que quase se despistou por derrapagem na pequena curva da rua, fazendo-se ouvir logo de seguida um tiro. Apesar do susto, correu em direcção ao sítio de onde surgira o som do disparo. Diz que ficou siderado quando viu o homem caído no solo. Não teve reacção para nada. Ficou ali quedo e mudo, até que chegou o segundo homem.

Foi este, o menos jovem, com perto de 40 anos, Carlos de baptismo, que telefonou para a polícia. Diz que vinha a descer a rua quando ouviu um barulho que não identificou logo como som de arma de fogo. Confirma que passou por ele um carro, veloz. Dois rapazes e suas namoradas gozavam a vida, em bebedeiras de alegria, trocando beijos ardentes, num passeio de automóvel demasiado apressado para a segurança de quem ambiciona viver mais para além daquelas horas felizes.

Quando Carlos chegou junto da vítima já lá se encontrava Bernardo, completamente paralisado por um pânico tal, que lhe provocou um mal-estar tão violento ao ponto de não evitar uma crise de vómito. Felizmente, o pequeno chafariz ali existente por perto permitiu que bebesse um gole de água providencial, que o acalmaria. Carlos afirma que também não mexeu em nada. Tudo está exactamente como quando ele chegou.

A arma do crime está caída junto ao cadáver, na berma do passeio. A cápsula está perto do corpo, cerca de dois metros mais abaixo. Nas costas do morto é perfeitamente visível um buraco por onde saiu a bala fatal, que acabaria por se alojar junto à valeta do passeio do lado direito do sentido ascendente da rua. A arma não tem quaisquer impressões digitais. No peito da vítima, mesmo junto ao coração, existem queimaduras provocadas pelo tiro e resíduos de pólvora. As suas mãos nuas apresentam luxações causadas pela queda, contrastando com as muito bem tratadas e limpas mãos dos dois homens que o “velaram” até à chegada do subchefe Pinguinhas.

A cabeça do morto exibe um feio hematoma, que, naturalmente, já não lhe dói, em contraste com a cabeça do nosso ilustre subchefe, que lateja de tanto pensar sobre qual das quatro hipóteses corresponde à forma como ocorreu a morte do velho Arménio:

 

A – Arménio suicidou-se, por solidão, desespero e depressão.

B – Bernardo matou o velho, por qualquer razão desconhecida.

C – Carlos era um dos ocupantes do carro, de onde foi disparado o tiro, e voltou ao local do crime para se certificar da morte de Arménio.

D – Um dos jovens do automóvel disparou sobre o velho e atirou a arma para junto do cadáver, pondo-se de seguida em fuga acelerada.

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO