Publicação: “Público” Data: 20 de Outubro de 2002 Campeonato Nacional
2002-03 Taça de Portugal 2002-03
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2002-03 PROVA Nº 1 CENA CAMPESTRE Autor: Inspector Fidalgo Vítor gostava muito
de andar, ao contrário das outras pessoas, e quando via milhões a deslocarem-se
para as praias, lá ia ele para o campo, para a Beira Alta. Era o apelo da
terra que se fazia sentir neste filho e neto de agricultores. Naquele dia, pela
tardinha, o Vítor dormitava no fresco que uma frondosa figueira, entre muitas
outras, proporcionava, quando ouviu a avó chamá-lo com voz zangada.
Levantou-se preguiçosamente e dirigiu-se a casa sem muita vontade para
grandes discussões. Foi por isso que nem reagiu aos gritos da senhora, que se
insurgia por haver desaparecido a “tarte” de pêssego que tanto trabalho lhe
dera a fazer e que só podia ter sido devorada por um comilão como o Vítor. Este limitava-se a
reafirmar a sua inocência. Segundo dizia, nem sabia que a avó fizera “tarte”,
quando mais comê-la! Ainda por cima de pêssego, que nem era a sua
especialidade! E Vítor apontava
para a enorme mancha de sombra que as figueiras faziam, dizendo que tinha
estado lá nas últimas duas ou três horas, ora a dormir, ora a dormitar, ora a
desenhar as formas estranhas e misteriosas das nuvens a cruzarem o céu...
Bolas, ele estivera ali deitado durante horas! Era uma indignidade estar a
acusá-lo de tamanho “crime”! A avô acabou por se
resignar, retirando-se para a cozinha, aborrecida por ainda ter de voltar
para junto do forno, num dia tão quente como aquele. E a chuva que não
aparecia, nem um bocadinho para ajudar a agricultura. Há vários dias que nem
uma aragem percorria aquelas paragens e o céu muito azul era tudo o que se
via entre linhas do horizonte. O Vítor regressou
ao seu poiso. Deitado de costas, cabeça apoiada na base do tronco daquela
figueira centenária, olhava os figos já maduros que espreitavam por entre a
folhagem de um verde intenso. Pensando bem, ele
até era capaz de tentar apanhar uns tantos para agradar à avó, que até era
uma senhora meiga e amiga dos netos... Se calhar era o que ia fazer... mas
mais tarde, que agora estava com uma moleza que só visto. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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