PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 13 de Fevereiro de 2005

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2004-2005

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2004/2005

 

SOLUÇÃO DA PROVA Nº 4

 

NO BRASIL, OLHANDO O MAR

Autor: Paulo

 

Tudo aponta para a existência de crime.

A posição do corpo recostado não é compatível com as malas a caírem em cima da cabeça, causando a morte do brasileiro. Nesse caso, o corpo teria que estar tombado no chão. As malas cairiam à frente do banco, ou na sua extremidade. Para apanharem a zona do pescoço, o “brasileiro” não poderia estar encostado, que foi a posição em que foi encontrado. Pode-se concluir que não foram as malas que lhe partiram o pescoço.

Todo este cenário parte do princípio que a travagem faria cair as malas, o que é pouco provável. O ex-polícia ia de frente para a marcha – via a paisagem a aproximar-se – ao contrário do “brasileiro”. Com a travagem, as malas que iam por cima da vítima, por acção da inércia, teriam tendência a comprimir-se contra a parede da frente do compartimento e não a caírem. Isso só aconteceria no caso de uma aceleração e não de uma travagem.

Pode pôr-se a hipótese que a travagem foi muito brusca, que as malas foram contra a parede e ressaltaram. Para caírem em cima do brasileiro, também ele teria que ter ressaltado no encosto do banco.

Nesse caso, voltamos ao que já foi referido. Não era possível aparecer recostado. Era impossível ele estar curvado para a frente, cair-lhe a mala na cabeça, morrer, e depois recostar-se no banco.

Houve então alguém que lhe partiu o pescoço. As malas foram parar ao chão por efeito da travagem ou arremessadas para lá pelo assassino, num pormenor de simulação de queda das mesmas.

E quem foi o assassino? Claro que podia ser qualquer um. Mas por que é que alguém desconhecido cometeria o crime? Para roubar os diamantes. E quem sabia que a vítima transportava diamantes? O narrador da história.

Embora ele alegue que não viu qualquer transacção, percebeu que esta fora feita. O gelo é menos denso que a água, logo flutua. Da janela, ele viu o copo cheio de água e o gelo no fundo do copo. Porquê? Porque não era só gelo. Tinha dentro os diamantes. Estes com uma densidade relativa de 3.51, afundam na água corrente, que tem uma densidade relativa de aproximadamente 1, dependendo da temperatura e da composição da água. O brasileiro só teve que esperar que o gelo fundisse para recolher as pedrinhas brilhantes.

O ex-polícia, na altura ainda em exercício, percebeu isso e resolveu tirar partido da travagem de emergência, improvisando, cometendo o assassínio. Claro que, depois, o melhor era fugir, pois a situação tinha sido mal preparada e depressa chegariam a ele, como autor do crime. Tanto a polícia como a quadrilha.

Há ainda outros indícios para que o ex-polícia seja o autor do crime:

A fuga para o Brasil e o dinheiro que permitiu ao narrador dedicar-se à construção.

Tivesse ele a consciência tranquila e não teria necessidade de sair de Portugal. Se não tivesse nada a ver com a morte do “brasileiro” nem com o desaparecimento dos diamantes, teria a protecção da polícia e nada a temer da quadrilha.

O início de vida no Brasil também indicia a posse de grande quantidade de dinheiro, que não seria fácil de explicar a uma pessoa que tinha a profissão que ele exercia em Portugal e que abandonara o país cheio de pressa.

Perante tudo isto, é óbvio, do ponto de vista do ex-polícia, que ele fez muito bem em abalar para o Brasil.

 

 

© DANIEL FALCÃO