PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 31 de Outubro de 2004

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2004-2005

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2004/2005

 

PROVA Nº 1

 

CRIME SEM CASTIGO?

Autor: Ecologista

 

Orbílio sabia do que falava. O fruto de toda uma vida de combate estava ali, destroçada, completamente desfeita às mãos de um criminoso invisível…

Desde madrugada que Orbílio fazia o corre-corre, de norte para sul, de oriente para ocidente, em busca de algum indício que pudesse explicar a desgraça que assolou toda a região, uma região já de si abandonada e desgastada…

– Não é possível que isto esteja mesmo a acontecer! – lamentava-se a quem o queria ouvir.

Gritos, choros, ruído estridente das sirenes dos bombeiros e da polícia, tudo percorria os ares, na crista dos ventos…

– Ó ti Zé, nunca vi nada assim… As andorinhas rodopiavam no céu, piando lancinantemente e num ai entraram em queda despenhando-se no chão… Uma tristeza! – contava o Truca, um velhote que julgava já ter visto tudo na vida.

Um pouco mais à frente, na borda do lago, vivia-se a continuação do drama, de forma idêntica à que era visível até onde a vista alcançava…

– Meu Deus! Como é possível? – o padre, incrédulo, invocava a ajuda divina, na esperança de ser ouvido e poder remediar o que não parecia poder ser remediado.

– O que vai ser de nós?

 

Orbílio era um espírito lúcido e esclarecido. Estudara e sabia precisamente o que estava acontecer. Ocupara-se durante anos e anos para que toda a Natureza pudesse estar de bem consigo mesma, pelo menos naquele pequeno rincão onde os dias se sucediam às noites e as estações do ano cumpriam os horários.

O Ti Zé, farmacêutico de profissão, recolector por devoção, conhecia como as suas mãos todos os recantos das serranias, onde procurava as ervas milagrosas para todas as maleitas, não tinha dúvidas de que algo muito estranho se passou naquele dia especial, em que fazia anos a prima mais famosa para todos quantos falam português e que é sempre capa de jornais e revistas.

E naquela ocasião ia dizendo:

– Deus está contra nós! Eu vi as andorinhas estamparem-se no solo; os peixes entrarem em turbilhão à tona da água, em saudações desconchavadas, antes de agonizarem e morrerem aos milhares; aquelas ervas, ali aquelas, está a ver, tombaram num instante e ficaram avermelhadas, como se o Outono estivesse a chegar; e a miudagem da aldeia está toda a caminho do hospital… Orbílio, que é que se passa aqui?

A polícia percorria todos os centímetros em busca das causas de tão estranho acontecimento, que nunca por ali ocorrera nada semelhante e os bombeiros afadigavam-se no transporte de vítimas. O tempo ficou suspenso e ninguém se recordava já do que tinham planeado fazer nesse fim de tarde, cada qual na sua profissão.

Nesse momento, a quilómetros dali, numa emissora, o dono da fábrica Botafumo, que operava na zona, dizia que era uma catástrofe mas não manipulava o produto que causou todos aqueles problemas e por isso não tinha nada que ver com o caso. Logo depois foi o responsável pela Porcassuja que veio a terreiro dizer que era necessário apurar o que se passou, qual o agente que provocou o desastre, mas que não tinha havido nada de anormal nas suas instalações. Já para a noite, a gerência da Fazlixo veio anunciar que fez um inquérito rigoroso e não partiu dela qualquer erspécie de produtos capazes de causar os danos…

De Lisboa vieram técnicos, dias depois, para analisar, escavar, aspirar o ar, mil e um exames àquela terra – agora maldita –, àquela água, àqueles restos mortais vindos dos céus e das profundezas das águas, para tentar saber o que provocou tal hecatombe.

Orbílio suspeitava que nada seria apurado, a culpa iria morrer solteira, tal como já acontecera milhares de vezes em milhares de locais por este mundo fora e nem se espantou quando ouviu os altos responsáveis pala política local a elogiarem todas as unidades industriais da zona e a garantirem às populações que não foram elas (as empresas) a maltratar as populações…

Eles dão-nos os empregos, compreendem? Contribuem para o nosso bem-estar! Vamos fechar toda a zona afectada, cercar com rede electrificada, pôr cães de vigia e se fôr preciso até contratamos uma empresa de vigilância para que mais nada aconteça… Podem estar certos que estamos todos muito seguros e que os nossos queridos empresários vão continuar a garantir os vossos postos de trabalho e tudo será como sempre foi…

É que há crimes que até parece que o não são!

  

Pergunta-se:

Que tipo de crime está descrito?

Quem foi o responsável por esse crime?

Em que data ocorreu?

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO