PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 18 de Julho de 2005

 

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

2004-2005

 

Regulamentos

 

Prova nº 1

Prova nº 2

Prova nº 3

Prova nº 4

Prova nº 5

Prova nº 6

Prova nº 7

Prova nº 8

Prova nº 9

Prova nº 10

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2004/2005

 

SOLUÇÃO DA PROVA Nº 9

 

ASSÉDIO, BOMBONS E CRIME

Autor: Severina

 

Este problema surge na penúltima quinta-feira do ano de 2004. João António deu os parabéns ao padrinho no dia 21/12/04, dia do começo de Inverno (solstício). Que por graça o comandante António Ruas considerava o dia mais pequeno do ano.

O padrinho de João António foi assassinado por Alcides Bernardo – concluiu-se que sem premeditação – das 17h30 de 22/12/04 até às 8h00 de 23/12/04.

O Euro/2004 trouxera Alcides a Portugal, na ida para Espanha – onde tinha negócios. Tal como no ano de 1994, Lisboa Capital da Cultura. Do mesmo modo, na volta ao Brasil, estivera no mesmo hotel pelo fim do ano.

António Ruas era um homem vívido. Mesmo comprando, de vontade, ao antiquário a pulseira roubada a sua mulher, não teve dúvidas que este seria um receptor. Desconhecia quem fosse o ladrão, nada sabia do dono do retrato escondido, nem conhecera Alcides. Mas de posse do retrato oferecido a D. Julieta, ao encontrar Alcides no hotel, tirou semelhanças e não teve dúvida que este era o “Romeu”. E fora o ladrão! Deste modo, naturalmente e devido a evidentes pontos de contacto, o outro era um receptor e comprara-lhe a pulseira. Por isso, não ficou surpreendido pela reacção do antiquário, ao ver Alcides, apesar da indiferença deste; nem com o súbito mal-estar deste, ao conhecer-lhe a opinião sobre a morte da esposa, ao encontrar o seu retrato na sua gaveta… Não teria, de todo, culpa na morte da senhora, mas iniciou o processo. Conhecedor do barbitúrico que ela usava, facilmente preparou a bebida, para lhe causar dormência e poder furtar-lhe a jóia. Sem supor que, por vontade dela, a dose fosse reforçada. Agora, de partida para o Brasil, temendo que António Ruas estivesse informado do roubo pelo antiquário, decidiu matá-lo. Trazia sempre consigo uma Taurus, pistola automática, calibre .22.

Mostrou-se indisposto, foi à casa de banho para ganhar tempo e assentar ideias. Estando a casa de banho onde foi perto da porta de serviço, abriu a porta e encostou-a; podia ser-lhe útil.

Acabou por abandonar a reunião e esconder-se, até todos terem saído, para voltar. Já de luvas calçadas, à porta da vivenda, viu a vizinha à janela. Falou alto sobre se ter esquecido dos óculos, deixando no ar um motivo para voltar inocentemente atrás. Ao ver a senhora fechar a janela, deu a volta e entrou à vontade pela porta de serviço, que deixara entreaberta, surpreendendo o dono da casa sentado no sofá – olhando o retrato da esposa –, disparou-lhe um tiro de pistola na têmpora esquerda, com a sua mão direita, tombando o comandante para o outro lado. No chão caía a cápsula da bala da pistola automática, fabricada no Brasil (conforme me ensinou um familiar).

Sem perda de tempo, tirou da gaveta o seu retrato, principal móbil do crime, cedeu à tentação de colocar o revolver que estava na gaveta, um Colt .32, na mão do morto (de onde acabou por cair), talvez a ocupar o lugar da arma do crime, que não abandonou, saindo pela porta da frente, por sobre resíduos de lama, sem lembrar a porta encostada. Onde já tinha deixado a marca de um dos seus pés, ainda humedecido.

O comandante não era canhoto, logo não foi ele quem disparou o tiro – foi assassinado. Foi isso que João António percebeu ao analisar o corpo do padrinho.

 

 

© DANIEL FALCÃO