Campeonato Nacional
Taça de Portugal
2006-2007
Regulamentos
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Prova nº 7
Prova nº 8
Resultados
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CAMPEONATO NACIONAL 2006/2007
PROVA Nº 5
A MORTE DA DIGITÁLICA
Autor:
Onaírda
Chamavam-na “Digitálica” e foi a
vítima. Professora de Informática, Natália Sá era formada em Engenharia
Informática e especialista em sistemas digitais – “digitálicos”, diziam os alunos, parodiando o ensino.
Leccionava numa escola secundária, e dava aulas em sala única para o efeito.
Tinha por costume o ter sempre em cima da secretária um copo de vidro opaco
com água de beber, sendo novamente cheio a meio de cada aula pela auxiliar de
acção educativa Olga. A especialidade da professora deu a que aos alunos lhe
chamassem “prof. Digitálica”
No decorrer da aula das 17h00, a professora sentiu-se indisposta,
nauseada, com vómitos, sensação de vertigens e de discromatopsia.
Tinha aflições de diarreia, chegou a ir à casa de banho, regressou à sala,
mas não melhorou e às 17h45 caiu inanimada no chão. Alunos deram o alarme,
veio o director e o marido, também professor na escola. Chamou-se o 112. O
médico socorrista diagnosticou que a vitima apresentava sintomas de
intoxicação e foi levada de imediato ao hospital, onde chegou já cadáver. O
director espalhou a notícia de que a professora tinha sido envenenada.
Acusação gravíssima. Via-se que sabia algo mais e insinuava quem era o autor
do crime.
O inspector Garçôa, o “teórico” da
PJ, tomou conta do caso e de imediato foi à escola falar com o director. Como
a sala deste era no mesmo piso onde leccionava a “Digitálica”,
mostrou-se ao contínuo. Este, quando soube quem era, não o encaminhou logo
para o director e forneceu-lhe pistas importantes.
Afirmou que nesse dia Olga tinha
mudado sempre a água do copo em todos os períodos. E o curioso, segundo lhe
disse Olga, é que a professora bebia sempre o conteúdo do mesmo, dando a
impressão de que estava a tentar restabelecer o equilíbrio hidroelectrolítico no seu organismo. Devido à posição
estratégica, viu sempre quem entrou na sala da “Digitálica”
durante os intervalos, dado que
ela saía sempre da sala. Assim, no das 11/12 entrou o professor de Ciências Humanas e Sociais
Eduardo Sá, marido da professora. No das 14/15 voltou a entrar o Eduardo e no
das 15/16 entrou o professor de Ciências Físicas e Naturais Taborda. O
contínuo pediu a atenção do “teórico” para esta personagem, pois dizia-se que
era um antigo apaixonado da ”Digitálica” e que tinha sido repudiado por ela, não tendo aceite bem
a atitude da amada. Sabia que na aula prática de Química das 15h00 ele tinha
confiscado a um aluno um frasco de “605 forte” (agora com outra designação
comercial), veneno muito usado na agricultura. Desculpou o aluno, mas não o
devolveu no fim da aula. As visitas de Taborda à professora originavam ciúmes
de Eduardo e este desconfiava que a mulher não resistia ao assédio do colega.
Todos viam que ela repudiava Taborda, menos o marido.
Garçôa preferiu não ouvir mais
nada sem falar primeiro com o director. Este pouco adiantou sobre a morte,
mas chamou a atenção do comportamento do professor Taborda, no assédio à “Digitálica”, e se falou em envenenamento talvez fosse
precipitado, mas mantinha a opinião. Garçôa
pediu-lhe facilidades para interrogar
possíveis suspeitos, aqueles que entraram na sala de aula e que podiam ter
metido veneno no copo de água da professora, para que esta ingerisse o liquido mais tarde. O director chamou
os suspeitos e aproveitou para entregar ao inspector
as fichas de cadastro pessoal não só destes, mas também da falecida.
Curiosamente, e talvez para justificar o elevado número de faltas que davam
ao serviço, os professores tinham uma ficha clínica invejável.
Foi chamada Olga. Esta afirmou que tinha entrado na sala em
todos os períodos, tinha enchido sempre o copo de água e tinha confirmado que
a professora bebia todo o conteúdo. Quanto aos rumores sobre o Taborda e a
Natália, disse que não tinha nada
com isso e que lhe passava ao lado.
De seguida veio o professor Taborda. Tinha
54 anos e bom aspecto, apesar de sofrer, em estado um pouco avançado, da
síndroma de Wolff-Parkinson-White.
Era obrigado a tomar medicamentos a preceito, mas evitando completamente
alguns que poderiam interactuar
negativamente. Era professor de Ciências Físicas e Naturais e as aulas
práticas no laboratório eram o seu expoente profissional, em especial a
trabalhar com tóxicos. Tentou ver a sua colega Natália no intervalo das 15/16, mas não a viu. Quando lhe
falou no frasco do veneno apreendido ao aluno, ficou vermelho. Confirmou a
apreensão do frasco ao aluno, que não o tinha devolvido no fim da aula e que
tinha espalhado o conteúdo numa sanita. O frasco vazio deitou-o no contentor
do lixo. “Incrível”, pensou Garçôa.
Quando Garçôa interrogou Eduardo Sá, este estava calmo. Viu que
o “teórico” tinha a sua ficha clínica nas mãos, explicou-lhe que, tal como
sua mulher, era um doente conformado com o seu estado. Sofria de “insuficiência cardíaca” e uma arritmia
diagnosticada como supraventricular.
Estava medicado com um fármaco que, para além de dar força ao coração
(chamado “efeito inotrópico positivo”), lhe reduzia a frequência cardíaca, obrigando o seu coração a bater a um ritmo mais lento e fácil de suportar. Nunca lhe
disse o nome do fármaco. Garçôa pouco se importou
com esta omissão. Eduardo guardava este medicamento em local seguro e inacessível a terceiros, incluindo sua mulher. No dia da morte desta,
deslocou-se à sua sala, no intervalo das 11/12 e no
das 14/15, porque a mulher lhe pediu que lhe trouxesse um analgésico (tipo
aspirina) pois sentia-se mal. Não
a viu em ambas as vezes e retirou-se para a sua sala. Pelo telemóvel,
disse-lhe que tinha metido no copo o tal analgésico. Almoçaram em turno
diferente. Só a voltou a ver caída no chão e já desmaiada, a seguir ao
alarme. Nunca referiu qualquer aspecto da vida conjugal com a mulher. Garçôa franziu o sobrolho.
O “teórico” ainda
interrogou o director para saber
algo mais sobre a Natália. Relativamente a um romance entre Natália e
Taborda, não sabia de nada, mas já tinha
sido informado do caso do frasco
de veneno que Taborda tinha apreendido a um aluno e que, de certeza, o tinha consigo, quando entrou na sala da colega às
14h50. “A ocasião faz o ladrão, não é, senhor inspector? E custa-me dizer
isto, mas Taborda não é boa peça.” E estranhou o destino
que Taborda deu ao frasco e ao seu conteúdo. Admirava-se que Natália
mantivesse um romance com ele, pois também era doente como o seu marido.
Estava medicada a preceito. Sofria do coração, pois tinha
uma “cardiomiopatia hipertrófica
obstrutiva” e por vezes apresentava situações de “hipercalcemia”
e” hipocaliemia” significativas. Garçôa não teve acesso ao resultado da autópsia, por já
ter a presunção de quem era o criminoso,
mas porque a análise da mesma iria ser feita pelo MP para fundamentar a
acusação. No entanto, soube que a falecida apresentava uma significativa
desidratação e também “hipercalcemia”.
Quando o ajudante de Garçôa coseu
o processo, rotulou-o “A Morte (da) Digitálica”
(501/06 homicídio) O “teórico” sorriu.
SOLUÇÃO
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