Publicação: “Público”

Data: 16 de Janeiro de 2011

 

 

Campeonato Nacional 2011

Taça de Portugal 2011

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2011

 

PROVA Nº 1 (PARTE II)

 

SÃO PEDRO RESOLVE

Autor: Al-Hain

 

César Murteira, comerciante de cortiça, dirigia-se para casa em Santa Catarina da Fonte do Bispo quando, perto da saída da Via do Infante para Olhão, foi embater nas alfaias de um tractor que, de recuo, vinha saindo de um caminho vicinal. Murteira não se deslocava a grande velocidade, mas o choque foi o suficiente para lhe tirar a vida. Não havia testemunhas e o condutor do tractor fugiu do local.

O sargento Veríssimo, da GNR de Tavira foi destacado para as primeiras investigações do acidente. De pergunta em pergunta, o sargento descobriu quatro suspeitos. Eram eles: Tiago Fonseca, proprietário do tractor envolvido no acidente, Jorge Patacão, Firmino Viegas e Alfredo Bodião que trabalhavam normalmente com tractores. Porém, quando o sargento Veríssimo tinha o caso quase deslindado teve que intervir nas operações para prender os assaltantes de um banco. Foi baleado e depois de dias entre a vida e a morte esta acabou por levar a melhor. Curiosamente, os suspeitos não sobreviveram muito tempo ao sargento. Alguns dias depois, Tiago Fonseca foi colhido por um tractor e não sobreviveu aos ferimentos. Alfredo Bodião deslocou-se a Faro e no Rio Seco, ao atravessar a EN 125, foi atropelado por um camião TIR. Jorge Patacão, que morava em Moncarapacho, uma semana depois, num domingo, envolveu-se numa discussão numa taberna e foi crivado de facadas. Por casualidade, nesse mesmo dia Firmino Viegas foi acometido por um enfarte do miocárdio e chegou já cadáver ao hospital de Faro.

A narrativa que se segue não posso garantir que seja real, pois eu não estava presente para o confirmar. Quem me contou foi um amigo que por essa mesma ocasião esteve entre cá e lá e teve oportunidade a assistir a tudo. Também não sei se serei capaz de contar tudo com a riqueza de pormenores que o meu amigo usou, mas vou tentar.

Alguns dias depois dos acontecimentos narrados anteriormente começaram a chegar os espíritos de César Murteira, do sargento Veríssimo e dos suspeitos de terem provocado a morte do primeiro. O lugar se não era o autêntico Paraíso, era pelo menos paradisíaco. Era uma imensa planície verdejante, cortada aqui e ali por ligeiras ondulações. Havia muitas e frondosas árvores cujo verde, de vários tons, das folhas contrastava com o verde da relva. Também eram abundantes os canteiros de flores maravilhosas e por todo o lado havia lagoas, fontes e ribeiros rumorejantes. A luminosidade era intensa. Era um lugar de paz e harmonia.

Com a chegada dos espíritos já referidos a paz foi quebrada, especialmente pelo espírito de César Murteira que acusava os outros de serem responsáveis por ele se encontrar ali. Apenas o espírito do sargento Veríssimo se conservava à parte de todas as brigas, mas bem atento ao que se passava.

Como os brigões não havia meio de se acalmarem, dois dos chefes do lugar apareceram por ali para se inteirarem do que se passava e para acalmarem os ânimos. O meu amigo não podia garantir, mas disse-me que um dos dois chefões era muito parecido com as imagens que na terra pintam de São Pedro e o outro com as de São Paulo. Como os ânimos mesmo assim não acalmaram, o espírito de Veríssimo pediu para falar em particular com os dois chefes, ao que estes acederam.

Veríssimo contou o que se tinha passado na terra e deu pormenores das diligências que tinha feito antes de ter sido baleado.

Nos interrogatórios que havia feito no dia seguinte ao acidente, Tiago Fonseca, proprietário do tractor que provocara o acidente, afirmou que tinha estado alguns dias na Feira Nacional de Agricultura para ver umas máquinas e tinha acabado de chegar naquele momento. Apresentou a factura do hotel onde tinha ficado e os bilhetes do comboio entre Santarém e Lisboa e de Lisboa a Faro, onde tinha chegado pouco depois das 13 horas. Não sabia quem teria trabalhado com o tractor que provocou o acidente.

Aos outros suspeitos, quando Veríssimo lhes perguntou o que haviam feito no dia anterior, não falou no acidente com o tractor.
Jorge Patacão afirmou que no dia anterior não trabalhara e que passara o dia todo em casa. Não tinha testemunhas, apenas a mulher. Por isso não tinha estado em Santa Catarina da Fonte do Bispo nem tinha nada a ver com acidentes com tractores.

Firmino Viegas, quando interrogado, afirmou que no dia anterior tinha ido a Faro, onde fizera uns exames, e a uma consulta com um cardiologista que lhe disse que tinha o coração em muito mau estado pelo que devia ter muito cuidado. Mostrou os recibos da consulta, que ainda tinha consigo.

Alfredo Bodião disse que não tinha ido trabalhar no dia anterior; fora logo pela manhã com o tractor para Moncarapacho para o levar a uma oficina de ferreiro para fazer a reparação dos formões do arado, que já estavam muito rombas e tortas, e colocar uns reforças nas aivecas, que já estavam muito gastas. Não tinha facturas porque iria pagar no final do mês, mas a alfaia estava ali mesmo junto deles e o sargento podia confirmar que o trabalho referido tinha sido feito havia pouco tempo.

A mulher de Jorge Patacão afirmou que saíra de casa cedo, ainda não eram 6 horas, para ir trabalhar perto de Quelfes; o marido ainda ficara na cama e quando voltou, eram já 19 horas, encontrou o marido a rachar lenha. Veríssimo, que se tinha deslocado a Moncarapacho verificou que havia lenha rachada recentemente, uns vinte ou trinta tarolos, na casa do suspeito.

Quando Veríssimo acabou o seu relato, São Paulo segredou algo ao ouvido de São Pedro e este dirigindo-se ao espírito de um dos suspeitos disse:

– Tu mentiste, vais para baixo.

Quem teria sido ele?

 

A – Alfredo Bodião

B – Jorge Patacão

C – Firmino Viegas

D – Tiago Fonseca

 

© DANIEL FALCÃO