Publicação: “Público”

Data: 10 de Abril de 2011

 

 

Campeonato Nacional 2011

Taça de Portugal 2011

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2011

 

PROVA Nº 4 (PARTE II)

 

O MISTÉRIO DA BALA TRANSVIADA

Autor: Penedo Rachado

 

Aquele mês de Julho corria rijamente acalorado.

Frente à esquadra da polícia havia uma fonte ornamental e, talvez para aproveitar a frescura proporcionada pelos jorros de água, o Comissário Liberto Andrade encontrava-se sentado na borda da fonte conversando com alguém das suas relações.

Um pouco mais além, à porta da esquadra, discutindo as peripécias do último Benfica – Sporting encontravam-se dois agentes da PSP.

Talvez devido ao calor abrasador que se fazia sentir, a Praça estava, com excepção dos elementos já citados, completamente deserta e silenciosa, silêncio esse que, repentinamente, foi quebrado pelo som de um tiro disparado a não muito longa distância da esquadra.

O comissário levantou-se como que impulsionado por uma mola e saiu correndo em direcção a umas das vivendas que parecia ser aquela de onde viera o som do tiro. Os dois agentes que discutiam sobre o Benfica e Sporting, esqueceram a sua conversa e saíram também disparados atrás do seu chefe.

Chegaram junto da porta, bateram e, quase imediatamente, esta abriu-se e no seu limiar surgiu a figura alta, mas terrivelmente aterrorizada de um homem já idoso. Cabelo completamente branco e longas suíças. Tinha o aspecto daqueles mordomos que costumamos ver naqueles filmes cuja acção se passa no séc. XIX.

“Que se passou?”, perguntou Liberto ao homem.

“Na… na… não sei… Foi no escritório do patrão!”, respondeu, gaguejando, o homem que parecia mais aterrorizado a cada minuto que passava.

Guiados pelo velho, o comissário e os dois agentes dirigiram-se ao escritório cuja porta estava fechada por dentro. Era forte a porta e resistiu às três primeiras tentativas de arrombamento, mas à quarta não resistiu ao movimento perfeitamente sincronizado dos três representantes da lei.

Imediatamente viram à sua esquerda, caído de bruços sobre a secretária, o corpo do dono da casa. Liberto aproximou-se, tomou-lhe o pulso e depois apalpou a jugular. “Está morto!”, foi a informação lacónica que forneceu. Depois desviou a sua atenção para o cadáver.

Havia um orifício de forma irregular com os bordos queimados e muito mau aspecto na têmpora do lado direito. Ao redor do ferimento os cabelos, para além de chamuscados, apresentavam também resíduos de pólvora.

Na sua mão direita, pousada sobre a secretária, o morto segurava uma pequena pistola semi-automática, por cujo cano ainda saía uma leve coluna de fumo.

A cerca de um metro da secretária, um pouco para a sua direita, sobre o tapete que forrava o chão, foi encontrada a cápsula da bala que teria sido disparada.

O comissário tirou a arma da mão do morto e retirou-lhe o carregador que esvaziou. Contadas as balas, foi constatado que para além da que tinha servido para o suicídio, já que era evidente que disso se tratava, havia outra em falta. Liberto voltou a colocar as balas no carregador e este na arma, deixando esta junto da mão do cadáver que antes a segurava.

O comissário pareceu não ligar muito à falta da bala e dedicou-se a percorrer a sala. Esta parecia não ter nada que despertasse a sua atenção. A única coisa que pareceu interessar-lhe foi a janela provida de veneziana que se situava frente à porta por onde haviam entrado e que dava para a praça onde se situava a esquadra da polícia.

As vidraças da janela estavam abertas de par em par, mas, as portas de veneziana encontravam-se fechadas por dentro.

Depois desta observação Liberto virou-se para os seus subordinados e disse:

“Um de vocês vai ficar aqui e não deixa ninguém entrar nesta sala. Nós vamos voltar para a esquadra e telefonar para a Judiciária.”

“Então e não procuramos a bala que falta?”, atreveu-se a perguntar o outro agente.

“Não interessa! Se estiverem interessados nisso, os da Judiciária que a procurem.”

Pergunta-se aos nossos amigos, amantes de mistérios e enigmas se, no caso do pessoal da “Judite” precisar de ajuda, algum é capaz de indicar o sítio exacto onde se encontra a bala em falta:

 

A – O carregador não tinha o seu stock completo?

B – Não foi disparada e encontra-se na câmara da arma?

C – Encontra-se sob o corpo do suicida?

D – A arma encravou-se e a cápsula não chegou a ser extraída?

 

© DANIEL FALCÃO