Publicação: “Público”

Data: 5 de Junho de 2011

 

 

Campeonato Nacional 2011

Taça de Portugal 2011

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2011

 

PROVA Nº 6 (PARTE I)

 

O MASSACRE DA QUINTA DA ALEGRIA

Autor: Rip Kirby

 

A Quinta da Alegria constituída por um terreno de 30000 metros quadrados no centro do qual há um palacete construído no séc. XIX. A propriedade é cercada por um muro de dois metros de altura, caiado, encimado por três filas de arame farpado. Na face confinante com a estrada nacional há um portão junto do qual existe uma guarita onde três guardas fazem serviço revezando-se de quatro em quatro horas. Da casa ao muro há um jardim e, serpenteando entre os canteiros, o caminho que vai até ao portão.

O palacete pertence a Andréia Niemeyer, italiano de origem judaica estabelecido em Portugal, de parceria com Norberto Castro, com uma empresa de construção naval. Cinquenta e cinco por cento do capital pertence a Castro e a Niemeyer 40 por cento. Os restantes 5 por cento, cedidos por Norberto, foram divididos igualmente por cinco engenheiros da empresa. Agora esses engenheiros querem que a percentagem suba para dois por cento. Niemeyer aceita essa reivindicação, mas entende que essa percentagem deve ser retirada da quota de Norberto Castro, ao que este não acede. Diz que já fez a parte dele, agora é a vez do italiano.

Naquele domingo, realizava-se na quinta um almoço para o qual foram convidados todos os sócios da empresa. Como o almoço decorreu, não sabemos. Por volta das 17 horas um telefonema na PJ levou o inspector Trindade e a sua equipa para o local.

Chegado à quinta, o inspector foi levado para a sala de jantar no centro da qual há uma mesa onde apenas estavam presentes os cálices onde foram servidos os antidigestivos. Nas laterais da mesa cinco corpos, três de um lado e dois no outro, tombados sobre esta. Todos tinham recebido um tiro na nuca e, em todos, a trajectória da bala fora semelhante. Entrara na nuca e subira ligeiramente para o alto da cabeça. Os bordos das feridas, que haviam sangrado pouco, apresentavam-se queimados e com resíduos de pólvora.

Sobre a mesa, à direita dos corpos, estavam as cápsulas das balas que os atingiram. Um pouco afastado da mesa, estendido no solo com o peito para cima, estava o corpo do mordomo, identificado pelo empregado que acompanhava o inspector. Atingido no estômago sofreu grande hemorragia como indicava o sangue ao seu redor. A cápsula da bala que o matou encontrava-se bastante distante, e desviada para a sua esquerda. Não havia sinais de queimado nem de pólvora no ferimento.

Junto da porta de comunicação com a sala ao lado, outro corpo, que o empregado afirmou ser o dono da casa, deitado de bruços com a cabeça perto da porta, parecia ter sido atingido quando tentava fugir do local. Perto, um pouco à frente do corpo, desviada para a sua esquerda, estava a cápsula da bala que o atingira. O inspector viu que ainda respirava pelo que o virou podendo assim verificar que recebera o tiro um pouco abaixo da clavícula esquerda tendo a bala seguido uma trajectória ligeiramente ascendente e em diagonal da direita para a esquerda saindo um pouco acima da espádua. Na sua camisa branca ensopada notava-se o tecido queimado e os resíduos de pólvora concentrados em volta do buraco.

O empregado que acompanhava o inspector disse que, após o almoço, o patrão havia dispensado todos os empregados, recomendando que fossem divertir-se na piscina e que voltassem às 17 horas. Encarregou o mordomo de ir servir umas bebidas quando fossem 15 horas, o que este fez não tendo voltado. Um pouco antes das 17 horas, como a casa ficava um pouco distante, abandonaram a piscina e quando chegaram depararam-se com aquele espectáculo. Todos confirmaram e afirmaram ter estado sempre juntos.

Depois de tratado, Niemeyer disse qual o motivo daquele almoço para o qual tinham sido convidados todos os sócios da empresa: discutir a pretensão dos engenheiros, mas Norberto Castro não comparecera como havia prometido. Cerca das 15 horas, um pouco depois das bebidas servidas, entrou na sala um estranho, de estatura elevada e mascarado, que começou a atirar sobre os presentes.

Interrogados os guardas, o que esteve de serviço entre as 12 e as 16 horas, um jovem baixo atarracado, afirmou que todos os convidados tinham entrado na propriedade. À pergunta que lhe foi feita respondeu que o senhor Castro tinha entrado cerca das 14 horas, mas acrescentou que não o vira. O carro tinha os vidros escuros e ele só viu o motorista que voltou a sair pouco depois. Acrescentou que todos os convidados chegaram conduzindo os seus próprios carros e que ninguém mais entrara nem saíra enquanto esteve de serviço. O colega que o rendeu afirmou que durante o seu turno ninguém se ausentara da propriedade.

No dia seguinte em Aveiro, onde morava, Norberto, quando interrogado, olhou o inspector do alto dos seus dois metros de altura e disse: que se deslocara a Lisboa devido a compromisso de última hora pelo que não pudera assistir à reunião. Apresentou os talões das portagens que pagou na viagem e um bilhete para a sessão de domingo num teatro da capital. Esse bilhete, para além da data impressa, tinha o autógrafo de Rui Mendes, que era um dos actores que participara na peça a que ele assistira, com a data manuscrita. Afirmou que havia mandado um dos seus motoristas à quinta para justificar a sua ausência. Não se lembrava de qual o motorista que encarregara desse serviço e, quando interrogados, todos os motoristas se esquivaram a admitir que tivessem ido à quinta.

No relatório do médico era dito que, excluindo o mordomo, todas as vítimas tomaram, depois do almoço, uma poderosa dose de um sonífero, certamente adicionado às bebidas que beberam, tendo todos eles morrido durante o sono. A morte dos convidados fora instantânea e deveria ter ocorrido entre as 15h45 e as 16h30 com ligeiros intervalos entre si. A morte do mordomo teria ocorrido depois de uma agonia de certo modo prolongada, no intervalo de tempo indicado para os outros, cerca de trinta minutos depois de atingido. Pela quantidade de sangue derramado o médico calculou que o dono da casa foi atingido minutos antes dos criados terem dado pelo massacre.

No chão, a meia distância entre Andréia e o corpo do mordomo, encontrava-se a arma que servira para a matança, sem impressões digitais e uma luva branca da mão direita, um tanto suja. Pensou-se que a luva fosse do mordomo mas este tinha as suas duas calçadas.

Nenhum dos cálices que se encontrava sobre a mesa tinha qualquer vestígio da bebida que fora servida nem impressões digitais. Apenas se via um pouco de água no fundo de todos eles. No muro não foi detectado qualquer estrago.

É tudo. Cabe agora aos nossos detectives descobrir o que se passou e apresentar um relatório circunstanciado sobre as conclusões a que chegaram.

 

© DANIEL FALCÃO