Publicação: “Público”

Data: 28 de Agosto de 2011

 

 

Campeonato Nacional 2011

Taça de Portugal 2011

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2011

 

SOLUÇÃO DA PROVA Nº 7 (PARTE II)

 

MANUAL DE INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

Autor: Búfalos Associados

 

A resposta correcta é: C – o Dâmaso.

Os Maias, de Eça de Queiroz, é possivelmente o romance mais lido e mais apreciado de toda a literatura portuguesa.

Muita gente continua a fazer dele a sua leitura de cabeceira, com sempre renovado prazer.

É o caso do Inspector Garrett, acontecendo-lhe, por vezes transportar as personagens da obra para sonhos recheados de imaginação inspirada. O sono apanhou-o em pleno Capítulo IX.

De facto, é a Dâmaso Salcede que devemos atribuir as suspeitas deste crime imaginário.

Consultando o romance, verifica-se que a espada que Ega usou no seu disfarce de Mefistófeles fora-lhe emprestada por Carlos da Maia nessa mesma manhã, não estando até aí à vista de ninguém. Encontrava-se ainda encaixotada no andar de cima da casa, desde a última mudança.

Mas não é preciso ler Os Maias para concluir que Dâmaso não conhecia a espada.

No nosso sonho, quando Ega chegou a casa dos Cohen levando consigo a espada, o Dâmaso ainda lá não estava, pelo que não podia tê-la visto. Declara mesmo não ter visto nada lá em casa e só ter ouvido toda a gente em correrias a dizer: ”Mataram a Srª. D. Raquel à espadeirada!” E saiu logo para se juntar aos outros. Como pode então descrever a espada assassina com tanto pormenor? Certamente porque mente e só pode ter sido ele a usá-la.

Talvez se tenha cruzado com Ega quando este se retirava ofendido, nervoso e embriagado, pelo que não terá reparado que Dâmaso lhe surripiara a arma.

Por que motivo, mataria ele a Raquel? Talvez por ciúme, sentindo-se preterido nas suas pretensões pela bela Cohen.

Claro que, no romance, Eça não “matou” a Raquel. O marido limitou-se a pregar-lhe uma coça e no dia seguinte partiram para Inglaterra. Ega ficou furioso quando de tal soube: “Uma coça! A bengala purifica tudo! Que canalha!” E lembrava-se da bengala do Cohen, um junco da Índia com uma cabeça de galgo por castão. “E aquilo zurzira-lhe as carnes que ele tinha apertado com paixão! E assim terminava reles e chinfrim, o romance melhor da sua vida! Aquilo acabava em arnica!”

Duas notas, mais: o livro que desperta a atenção de Carlos em casa de Maria Eduarda, chama-se exactamente Manual de Interpretação dos Sonhos; a primeira obra de Conan Doyle em que surge Sherlock Holmes foi editada em Londres em 1887 (A Study in Scarlet) exactamente um ano antes da publicação de Os Maias.

Não seria pois estranho que Craft, inglês e culto, se mascarasse de Sherlock Holmes, no sonho de um declarado admirador de ambos os autores.

© DANIEL FALCÃO