Publicação: “Flama”

Data: 1958

 

 

II Torneio Nacional

de Problemística Policiária

 

Clube Literatura Policial

 

 

 

 

II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

 

SOLUÇÃO DO PROBLEMA Nº 2

 

UM CASO SIMPLES

Autor: Sherlock Amador

 

No caso que o Inspector Arsil teve que investigar, referente à morte do professor Idalécio, constatou – para prisão da testemunha presente - os seguintes factos:

Em primeiro lugar, se a vítima vivia como um eremita, isto é, só… como conseguiu o amigo do morto entrar na vivenda? Não declarara ele que, ao renovar as suas visitas, deparara com aquela triste cena? Se assim é, quem lhe abriu a porta, pois o próprio Inspector teve de esperar que lha abrissem para poder entrar? Logicamente, a testemunha mentia.

Em segundo lugar, aparece ao Inspector a posição do corpo que, de forma alguma, podia corresponder ao desenrolar dos factos. Se o corpo estava ajoelhado e debruçado sobre a pequena mesa, e se o sangue que jorrava da ferida tingia o tampo da mesa, como poderia ver-se sangue nos sapatos do morto? Mesmo que o sangue tivesse escorrido para o chão – facto que o Inspector verificou não se ter dado – nunca esse sangue chegaria aos sapatos, visto a sua posição não condizer com a perpendicular do bordo da mesa.

Tudo isto levou o Inspector a pensar que, se houve delito, ele devia ter sido praticado noutro local qualquer. O facto de o corpo estar debruçado sobre a pequena mesa que estava debaixo do oratório – o qual, de uma maneira geral, está sempre colocado numa parede não havendo, deste modo, espaço para a manobra do atacante – mais reforçou a ideia de Arsil.

As manchas viscosas encontradas no quarto deram-lhe a confirmação do facto, embora ele fingisse, perante a testemunha, que não lhe interessavam.

Também o pormenor de a vítima estar em mangas de camisa lhe chamou a atenção. Com o frio que fazia, tanto fora como dentro de casa – o próprio Inspector teve de aconchegar-se melhor quando se dirigiu à janela que estava aberta – era lógico que o professor estivesse agasalhado, visto tratar-se de um indivíduo já duma certa idade. Também o facto de a janela estar aberta chamou a atenção do Inspector para a esperteza do culpado. Este, ao abrir a dita janela, apenas teve uma ideia: procurar fazer o arrefecimento da sala para que se produzisse a rigidez cadavérica o mais rapidamente possível, a fim de dar a ideia de que a morte se dera algumas horas antes.

Mas, em face das manchas encontradas ainda estarem viscosas, permitiu ao Inspector deduzir que o ataque fora praticado havia pouco tempo. Logo, forçosamente, se notaria o espasmo cadavérico produzido pela contracção muscular no empunhar da arma. Ora o que o Inspector verificou foi que o morto tinha a mão espalmada sobre a pistola, donde se deduz que aquela fora ali colocada propositadamente.

A reforçar toda esta teoria do Inspector, vieram as declarações do amigo do amigo do morto quando, ao referir-se à arma, disse ter visto várias vezes o professor Idalécio carregar o “tambor” com seis balas de aço. Sucede, porém, que sendo a arma encontrada uma automática Browning, nunca a testemunha poderia ter visto tal operação. Como é do conhecimento geral, uma automática não possui tambor, mas sim carregador, fazendo aquele parte dos revólveres e não das pistolas.

Para completar as suas deduções, existia o facto de a vítima ser relativamente leve para que o atacante pudesse, com relativa facilidade, transportá-la do local do crime – quarto de dormir – para a sala onde foi encontrada, seguindo-se a composição da “mise-en-scène”.

© DANIEL FALCÃO