Publicação: “Flama”

Data:

 

 

II Torneio Nacional

de Problemística Policiária

 

Clube Literatura Policial

 

 

 

 

II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

 

SOLUÇÃO DO PROBLEMA Nº 8

 

EU VI UM CRIME

Autor: Oliver Quinn

 

a) – É naquela frase em que Sampaio diz a J. Népus que se tinham acabado as moedas e que só tinha notas, que está a solução. Atendendo ao adiantado da hora – meia-noite – e ao facto da cabine ficar num lugar afastado, era quase impossível a Sampaio trocar as notas em dinheiro miúdo. Não tendo moedas, não podia ser ele, portanto, a telefonar. E não sendo ele, quem havia de ser? Só o assassino, dado que andava sempre a segui-lo e era o único, além de Sampaio, a sabê-lo conhecedor da identidade do assassino.

Aliás, ainda se pode acrescentar um outro pormenor coadjuvante: quando lhe telefonaram da segunda vez, Népus perguntou ao interlocutor de onde lhe estava a falar e ele respondeu-lhe que da mesma cabine em Algés. Ora, se fosse o próprio Sampaio quem telefonava a Népus, não se admite que o fizesse a essa hora. Se queria telefonar (e admitindo que tivesse conseguido trocar uma das notas) tê-lo-ia feito muito pouco depois de ter desligado da primeira vez. E, se não o fez então, foi porque acedia ao pedido de Népus. Logo, à hora a que o assassino telefonou a Népus, já Sampaio estaria forçosamente em Lisboa.

Portanto:

1º) – Não lhe telefonaria porque, dentro em pouco, falaria pessoalmente com ele.

2º) – Se telefonasse (e era uma hipótese remota) não diria que estava em Algés, mas sim em Lisboa.

3º) – No caso de se arrepender a meio caminho e não querer falar com Népus, não lhe telefonaria e, muito simplesmente, não iria à entrevista.

A resposta perfeita a esta alínea:

a) – Tem de referir-se aos dois pormenores acabados de analisar.

b) – No problema acentuei várias vezes que Sampaio falava muito alto, que a sua voz era extremamente gritante. E fiz também notar que a noite era muito escura e que Sampaio não tinha a certeza de não ter sido seguido. Acreditava que não o tinha sido, mas não estava seguro. Portanto o assassino, aproveitando-se da escuridão da noite e do isolamento do lugar, seguiu-o de longe – esperando, talvez, uma oportunidade para matá-lo – até que o viu entrar na cabine telefónica. Aproximou-se então, e escondido – beneficiado pela altitude da voz de Sampaio – escutou trechos da conversa telefónica. Quando Sampaio acabou e saiu da cabine, matou-o. Antes, porém, confirmou pela boca do próprio o que tinha ouvido. Depois telefonou a Népus, para encobrir a verdadeira hora da morte de Sampaio e preparar um álibi para si. Mas como não sabia que se tinham esgotado as moedas a Sampaio, desmascarou-se.

Poder-se-á, no entanto, perguntar: «Então se ele ouviu a conversa, não terá também ouvido a parte referente às moedas?» Ninguém é inteiramente perfeito, nem se dá a devida atenção a tudo o que a merece. Aliás, como ele não podia aproximar-se muito da cabine, para que não fosse visto por Sampaio, não terá conseguido ouvir toda a conversa, mas apenas parte dela. E uma das coisas que lhe escapou foi exactamente essa das moedas; ou se a ouviu, não lhe terá dado a devida interpretação. Note-se, também, que a noite estava ventosa e que o ruído do vento diminuía as probabilidades de audição.

© DANIEL FALCÃO