Publicação: “Público” Data: 10 de Agosto de 2014 Campeonato Nacional 2014 Taça de Portugal 2014 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2014 PROVA Nº 7 (PARTE II) IDENTIDADE USURPADA Autor: Paulo Charles Grimm Andersen,
famoso escritor de contos infantis, estava hospedado no hotel La Fontaine.
Foi para esse local que eu me desloquei a seu pedido, com a concordância do
diretor do hotel, com o objetivo de descobrir quem lhe roubara uma valiosa
caneta de ouro incrustada com diamantes. O autor tinha convocado algumas das suas personagens
mais famosas para discutir com elas possíveis sequências das histórias de que
eram protagonistas. De acordo com a investigação que o detetive do
hotel, um tal Hércule Dupin, já fizera, haveria
quatro suspeitos que eu deveria interrogar e investigar. Cinderela que, de origens humildes, surgia agora
sempre elegantemente vestida, após o casamento com um príncipe, que lhe
devolvera o sapato que perdeu num baile mesmo antes da meia-noite. Pinóquio,
um estranho homem de madeira que ganhara vida e tentava transformar-se em
humano. O Príncipe, apenas conhecido por este nome, que salvara de um sono de
100 anos uma bela princesa que todos conheciam por Bela Adormecida. A
princesa Branca de Neve, acompanhada da sua corte de sete anões, que também
se alojara no hotel. Tendo chegado ao hotel pela uma da madrugada e
tendo falado com o incompetente Hércule Dupin,-
incompetente por ainda não ter descoberto o ladrão e necessitar da minha
ajuda-, decidi ficar acordado toda a noite, vigiando os quartos dos quatro suspeitos. Consegui descobrir coisas espantosas, que não
surgem nas histórias infantis, mas que estas quatro personagens
protagonizaram. O Pinóquio dormiu no quarto da Cinderela e a Branca de Neve
passou a noite no quarto do Príncipe. E andavam estas personagens a dar lições de moral
e comportamento às crianças, enquanto se divertiam a trair os seus cônjuges. Decidi interrogar um de cada vez, questionando-os
sobre o que tinham feito na noite anterior, para testar a sua apetência para
a mentira, e na tarde em que ocorrera o roubo. Em relação à noite anterior todos referiram ter
estado sozinhos nos seus quartos. No que concerne à tarde do roubo, Cinderela
disse ter andado sozinha a visitar sapatarias, claro que todas com sapatos de
cristal. Pinóquio contou que passara a tarde no quarto. O Príncipe fora
visitar um antiquário, pretendendo adquirir uma valiosa coleção de agulhas de
costura para oferecer à sua Bela, - e eu bem percebia porquê-. Branca de Neve
ficara no quarto a conversar com o espelho mágico que a sua madrasta
abandonara. Lindas respostas. Todos uns grandes mentirosos.
Mesmo que alguma verdade existisse no que diziam em relação à tarde em que
ocorrera o roubo, não sabia como iria fazer para o comprovar. Cada vez estava
mais irritado pelo Hercule Dupin
não ter resolvido o caso e ter que me chamar a mim para ultrapassar a sua
inépcia. Enquanto me dirigia ao quarto do escritor para o
colocar ao corrente da situação, pensava nos rostos impenetráveis e imóveis,
sem mexerem um único músculo, a mentirem-me sobre o que se passara na noite
anterior e sem revelarem o mínimo deslize que me permitisse dizer que mentiam. Charles Grimm Andersen
revelou-me a sua preocupação. Temia que além daquele roubo mais alguma coisa
pudesse acontecer. Suspeitava que um dos seus convidados não fosse quem
dizia. Alguns pequenos incidentes pareciam indicar a presença de um estranho
no grupo, com identidade falsa, embora ele não conseguisse descobrir quem
seria, e poderia ser esse estranho ou estranha quem roubara a caneta. Sabia que
as suas personagens andavam a ter problemas de ordem sentimental, mas que
isso não as transformava em ladrões. Para roubar, só um estranho ou estranha.
Nunca poderia ser uma das suas criações. Alguém se disfarçara da sua
verdadeira personagem. Eu já tinha uma ideia sobre o assunto e expus-lha,
concluindo, embora sem provas, que quem tinha a identidade falsa também
poderia ter roubado a caneta. Quem acha que está com a identidade falsa? A – A Cinderela B – O Pinóquio C – O Príncipe D – A Branca de Neve |
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©
DANIEL FALCÃO |
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