Publicação: “Público” Data: 4 de Maio de 2014 Campeonato Nacional 2014 Taça de Portugal 2014 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2014 PROVA Nº 4 (PARTE I) AFINAL ELE NEM ESTAVA LÁ… Autor: Rip Kirby Valente Tenrinho, senhor
de apreciável fortuna, era conhecido por Major. Começara a carreira como
soldado, mas o estudo dera-lhe a possibilidade de chegar a Major. Passou à
reserva nesse posto. Fizera a carreira na E.P. de Artilharia como amanuense,
excepto em duas comissões em Angola. A primeira como 2º sargento numa Com.ª
de Art.ª no Norte da província no início da guerra. A segunda também em
Angola, Luanda, como chefe dos serviços de manutenção de armamento. Dizia-se,
que foi durante estas comissões que ele ganhara a sua fortuna. Na primeira
comprando produtos por preços muito abaixo dos apresentados nos serviços da
companhia e usando pesos falsificados. Na segunda era mais grave. Dizia-se
que vendia armamento aos grupos guerrilheiros. Se era verdade, ignora-se, o
caso nunca foi investigado, por vezes foram apreendidas armas, nas
mãos de negros, cujos números constavam nos cadastrados do exército
português e que nunca tinham sido distribuídas a qualquer militar. Mas esta história não nos
interessa, ela apenas tem a função de nos introduzir nos meandros da história
que vamos contar. Tinha o Major, predilecção
por miniaturas de peças de artilharia com as quais costumava saudar os
seus visitantes com algumas salvas. Num dia 9 de Junho, a casa do Major
estava repleta de convidados, que começaram a chegar logo pela manhã,
reunindo-se no jardim da frente da moradia, para o almoço do dia seguinte,
comemorativo do dia de Portugal. Entre os convidados, do
dono da casa, estavam militares, civis amigos do Major e alguns familiares.
Nesse dia, véspera do grande evento, iria acontecer um repasto para preparar
os estômagos para o banquete do dia seguinte. Como de costume o Major
não quis dar início à festa sem as usuais salvas pelas suas miniaturas. Estas
encontravam-se sobre a mesa de trabalho do Major, no seu gabinete, viradas
para um dos topos da sala onde havia sido colocado um alvo. Os convidados
estavam no lado oposto da sala. Para proceder aos
disparos era aquecida uma agulha num bico de gás, e posteriormente
introduziada no respectivo orifício provocando a explosão da pólvora lá
colocada. Entre os convidados encontrava-se
Armando Roboredo, sobrinho do Major que morava na mesma casa, filho de uma
irmã deste e de um capitão do exercito morto em Angola, em condições
estranhas, quando da segunda comissão do Major. Apaixonado pelo
aeromodelismo, e alegando não estar interessado em tiroteios, foi para
o jardim onde colocou no ar o modelo de um Fiat da FAP. As salvas começaram e
quando faltava apenas disparar uma peça, o telefone tocou. O Major deixou a ponta de
aço a aquecer e sentando-se à secretária levantou o oscultador para atender.
Mal ele executou este gesto um reflexo iluminou e simultaneamente um estrondo
fez tremer toda a sala. Os convidados, ficaram paralisados pelo terror e
também pela nuvem de fumo que escureceu todo o ambiente. Quando a fumaça se
dissipou e os ânimos ficaram mais calmos os convidados viram o
Major debruçado sobre a secretária sem se mover. Chamem um médico! alvitrou
alguém. Não é preciso, respondeu outro, sou médico, é melhor chamar a
polícia, o Major está morto. Chegada a polícia assegurou-se
de que nada havia sido mexido e iniciaram os interrogatórios tentando
encontrar algum suspeito para a autoria do crime. Não havia dúvida de que se
tratava de um homicídio. Os agentes procediam aos
interrogatórios preliminares e o Inspector observou a mesa onde tudo
ocorrera. O tampo mostrava-se muito danificado, do telefone restava o
oscultador que se mantinha na mão da vítima. A miniatura da peça,
fundida em bronze ficara reduzida a pó. Sobre a mesa viam-se ainda alguns
bocados de fios electricos possivelmente pertencentes ao telefone. Foram constituídos 3
suspeitos. Jerónimo de Albuquerque, capitão do exército na reserva;
Fernando Mergulhão 1º sargento que não terminara o curso da Escola
Central de Sargentos; e Alberto Xavier, Major já aprovado, havia dois anos,
para ser promovido a Tenente Coronel mas cujo despacho não saía dos
gabinetes. Dos interrogatórios nada
de útil se apurou, foi provado que nenhum dos suspeitos podia ter preparado
aquela armadilha, mas corriam uns murmúrios sobre os motivos que cada um dos
suspeitos teria para desejar a morte do Major, Jerónimo de Albuquerque
fora passado à reserva compulsivamente por ter colocado em dúvida a
honestidade do Major o que não conseguiu provar. Fernando Mergulhão não
terminou com aproveitamento o Curso da Esc. Cent. de Sarg. por ter sido
reprovado numa disciplina ministrada pele Major. Finalmente dizia-se que a
promoção de Alberto Xavier estava a ser atrasada por influência do Major.
Passara uma hora desde que
a tragédia acontecera quando Armando Roboredo entrou na sala perguntando o
que se passava ali. Como resposta perguntaram-lhe onde tinha estado. No
Jardim fazendo voar o seu Fiat. Voltara porque se acabara o combustível.
Também das declarações de Armando nada se apurou, os empregados diziam que
Armando culpava o tio pela morte do pai, mas isto, possivelmente, não passava
de mexericos. O jovem dava-se bem com o tio. O que teria acontecido
aqui? Justifique. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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