Publicação: “Público” Data: 16 de Março de 2014 Campeonato Nacional 2014 Taça de Portugal 2014 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2014 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 1 (PARTE I) UM MORTO NO RIBATEJO Autor: Beirão Numa primeira análise, é necessário ler muito bem
o texto, situar a cena, tendo em linha de conta os diversos factores,
nomeadamente: – Espaço temporal e condições climatéricas: É de
dia ou de noite? Está a chover ou faz sol? Está enevoado, há nevoeiro? Há
vento e de onde sopra? A que horas se passa a acção? etc.; – Personagens e sua colocação na cena: Quantos
intervenientes existem? Onde estão e o que fazem? Que intervenção têm na
acção? – Local e suas características: Onde se passa a
acção? Em local de fácil acesso ou difícil? Há obstáculos a vencer em certas
condições, por exemplo em caso de chuva, de neve, etc. – Factores externos: Há animais que possam dar
alarme? Há sistemas de segurança eléctricos ou electrónicos que apenas possam
ser iludidos por quem os conheça? – Testemunhas visuais, auditivas ou outras: Quem
esteve no local que possa fornecer elementos? Quem estava suficientemente
perto para ouvir sons que se possam relacionar com o que está na cena? – Oportunidades: Quem teve oportunidade de
praticar o acto, que encontros e desencontros teria de haver para correr bem
a acção a cada um deles? No nosso caso, temos um crime cometido em zona não
fechada e portanto, à priori, sem dificuldades especiais de acesso. Alarcão diz que estava nevoeiro cerrado; que o
vento era gelado e quase cortava a cara; que foi tratar dos cães muito
rapidamente; que não ouviu nem viu nada. Os pais do jovem não deram por nada e encontraram
o moço, por volta das 8 horas. O padeiro afirma ter visto o Alarcão a regressar
lá do fundo, ainda antes das 8 horas. Os restantes moradores da casa de Alarcão não
notaram nada. Os vizinhos do outro lado do pinhal referem a
algazarra dos cães depois das 7.30 horas, que só poderiam ouvir-se se o vento
estivesse de feição. A filha do padeiro está totalmente posta de lado. Há evidentes contradições entre depoimentos, a
saber: Alarcão refere nevoeiro cerrado e o vento gelado.
Vento e nevoeiro não combinam. Com vento, o nevoeiro não se forma ou, já
existindo, dissipa-se rapidamente. O padeiro afirma ter visto Alarcão a regressar de
casa do caseiro para a sua. Com nevoeiro cerrado, isso não seria possível
porque a distância era grande. Os vizinhos declararam que os cães fizeram a
algazarra própria de quando o seu dono regressava a casa, mas só era audível
quando o vento soprava… Portanto, afastada a hipótese de haver um conluio
entre Alarcão e os seus vizinhos, por ilógica e não razoável, para que estes
ouvissem os cães era necessário que houvesse vento, portanto sem nevoeiro
(que mais ninguém refere); logo, ao encontro do depoimento do padeiro, que
também confere com o regresso de Alarcão a casa e a algazarra dos cães, que o
padeiro não refere por estar longe (a estrada era distante) e por soprar
vento que levaria o som para o outro lado do pinhal, portanto, não na sua
direcção. Os cães fizeram algazarra por detectarem que o seu dono estava por
ali. Ficamos, pois, com um forte candidato a
culpado – o Alarcão. Em grande parte por mentir, mas também por ter a
oportunidade, o tempo disponível e por a sua versão não encaixar nos
depoimentos dos restantes intervenientes, cujas afirmações se complementam,
sem erros. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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