Publicação: “Audiência Grande Porto” Data: 20 de Agosto de 2018 Torneio “Solução à
Vista” Provas
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TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA” SOLUÇÃO DA PROVA Nº 3 AS TRÊS POLTRONAS Autor: Rigor Mortis O
inspetor João Velhote interrogou intensa e rigorosamente António de Carvalho
e Carlos dos Santos, obtendo uma corroboração total da descrição que lhe
tinha sido dada por Antero Rodrigues. Nenhum deles confessou o crime, claro. Mas
Velhote, como tinha dito, já tinha percebido o que ali se tinha passado. Evidentemente
que Luís da Mata não se tinha suicidado. Quer o facto de o projétil estar
incrustado na poltrona oposta àquela onde estava o cadáver, quer o sangue
existente no tapete entre as três poltronas, mostravam claramente que o corpo
tinha sido movido após a morte (seguramente imediata), da poltrona onde
habitualmente se sentava o Luís da Mata (onde ele tinha sido morto) para
aquela onde habitualmente se sentava o António de Carvalho. E como os mortos
não andam… Qual dos
dois ex-amigos o tinha morto? O Carlos
dos Santos, a quem pertenciam a pistola e o silenciador? Ele poderia ter ido
buscar a sua pistola, quando quer o Antero Rodrigues quer o António de
Carvalho tinham saído da sala, morto o Luís e movido o corpo deste para a
poltrona do António, como um insulto final aos dois ex-amigos. O
inspetor João Velhote não ficou iludido com o que as aparências apontavam.
Tudo indicava que o crime tinha sido premeditado e, assim sendo, o assassino
tinha certamente planeado as coisas de forma a dissimular a sua identidade. Como ele
próprio pôde verificar, abrir os cadeados dos armários do Carlos e do António
(onde encontrou a respetiva arma) não se revelou de qualquer dificuldade,
munido simplesmente de uma pequena chave-mestra de cadeados daquele tipo.
Qualquer um o poderia ter feito em segundos. Lúcidos
e inteligentes como o Antero dizia que eram, ambos saberiam disso. Com o
tempo de que dispuseram, entre a saída do Antero da sala, depois de servir os
aperitivos, e o regresso de qualquer deles da casa de banho, qualquer um
deles poderia ter ido até aos armários apanhar a arma do Carlos e ter morto o
Luís. A
indicação mais importante era a da poltrona onde o cadáver tinha sido
deixado. Colocar
o corpo do Luís na poltrona do outro ex-amigo poderia ser um insulto final
dirigido pelo homicida aos dois, mas dadas as idiossincrasias extremas dos
três em relação às respetivas poltronas – e aos “seus” objetos em geral –
seria obviamente interpretado como uma indicação da identidade do assassino –
o “dono” da terceira poltrona. O
assassino, notou mentalmente João Velhote, não teria
outra justificação para mover o corpo – correndo seriamente o risco de ser
visto por alguém a fazê-lo – que não fosse desviar as atenções de quem viesse
a investigar o crime. Se o Carlos fosse matar o Luís com a sua própria arma,
colocar o seu corpo na poltrona do António só levaria a concentrar as
atenções na sua própria pessoa. Pelo
contrário, quem iria imaginar, quando eles eram tão absolutamente
irredutíveis na ocupação de cada uma das “suas” poltronas – e quanto aos
“seus” objetos em geral – que o António fosse colocar o cadáver do Luís na
“sua” própria poltrona, depois de o ter morto com a arma do Carlos? Mas
depois de aí ter posto o Luís, o António não conseguiu conter a sua profunda
irritação por o ver na “sua” poltrona. Num acesso de ira, deitou a mão aos
jornais e revistas que estavam na “sua” mesinha de apoio e lançou-os ao chão.
Algo que
o Carlos decerto não faria, se tivesse sido ele o autor do crime,
perversamente satisfeito como estaria com o insulto final ao Luís e ao
António… Concluir
que o assassino tinha sido o António de Carvalho foi quase intuitivo para o
inspetor João Velhote. Para o provar, no entanto, teria que encontrar
vestígios de sangue nas suas roupas e resíduos do disparo nas suas mãos, bem
como as suas impressões digitais nos jornais e revistas deitados ao chão. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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