Blogue: O Local do Crime Data: 5 de Dezembro de 2018 Torneio “Solução à
Vista” Provas
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TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA” PROVA Nº 8 O DIA EM QUE MÉNO ROCK MORREU Autor: Bernie Leceiro Esta é a
estória de lenhas e lumes, de nomes e lugares comuns. É a estória banal de Mingos & os Samurais, banda de reconhecido insucesso,
que se arrastou sem glória – mas com alegria e sedução – por diversos palcos
durante os primórdios dos anos setenta, animando recintos dançantes. Esta é a
estória imortalizada em disco por Rui Veloso e Carlos Tê no início dos anos
90. Esta é a estória que se tornou uma lenda mas da qual nunca foi conhecido
o verdadeiro epílogo. Arménio
Marmita, imortalizado como Méno Rock vocalista de Mingos & os Samurais, um famoso bilharista da Areosa,
estucador de profissão, foi incorporado no regimento de atiradores de Tavira.
No fim do Inverno de 1972 recebeu guia de marcha para Moçambique. Reza a
lenda que morreu em missão, perto do quartel, quando a mina rebentou. Vinha
em pé na Berliet com a G3 em forma de guitarra a
cantar Satisfaction dos Rolling
Stones. Nunca se soube ao certo se foi assim. No
velório de corpo ausente em casa dos pais de Méno
Rock, descobre-se afinal que Méno é casado com uma
moça de Águas Santas, legítima viúva e da qual até tem um filho. Zira sua madrinha de guerra fica destroçada. Lau, guitarrista da banda e amigo de ambos,
convence-a que não importa a legalidade das uniões, porque Zira é que foi a eleita. Zira
fica muito triste pois Méno Rock tinha-lhe
prometido ir a Lisboa no dia dos seus anos e afinal o prometido é devido… De
promessas quebradas percebe Lau. Anos antes Berto
convence Lau da Viola que estava em curso uma
cruzada universal contra a música foleira. Lau
tenta converter Mila que só gosta de Fernando Farinha e Roberto Carlos.
Leva-a ao Rivoli ver os Vinegar Joe de Elkie Brooks, Mila vem embora
por causa do barulho. Algum
tempo antes, Nicolau troca toda a coleção de Mundo de Aventuras, por uma
viola empenada, tudo para conquistar a sua amada Mila. Falta ao emprego numa
drogaria e perde o Portugal-Coreia em direto no Mundial de 66. Tudo por uma
visão mais ousada da sua musa. Mila falta ao prometido e deixa Lau destroçado. Quero
ser um marinheiro sulcar o azul do mar / Vaguear de porto em porto até um dia
me cansar / Quero ser um saltimbanco, saber truques e cantigas / Ser um dos
que sobe ao palco e encanta as raparigas. Assim
respondeu Berto quando a professora o mandou fazer uma redação sobre o que
queria ser quando fosse grande. Berto não sabia dançar, dedicava-se ao culto
das paixões secretas e inevitavelmente ao culto das poesias. Tinha por hábito
escrever poemas românticos às suas paixões, das quais Zira
não estaria excluída, que contrastavam com os aerogramas militares cheios de
erros de ortografia de Méno. Ficou batizado de
Berto Poeta e escrevia as letras da banda. Gastão Santos,
fuzileiro regressado do Ultramar, melómano sem emenda, andava perturbado
pelos gases de guerra e pelas águas de África. É o empresário de Mingos & os Samurais e fica conhecido por Gastão
Psicadélico. Gastão era famoso por ser o rei do twist e da sedução. Terá
sussurrado várias vezes ao ouvido de Zira algumas
das letras das músicas com quem calorosamente dançava. Conta-se
na cidade que Zira finalmente cumpriu o seu sonho e
casou no dia dos seus anos, na igreja de Santo António na última das
cerimónias patrocinada pelo Diário Popular, antes do interregno provocado
pela revolução dos cravos, tendo dado a morada de uma prima afastada casada
em Lisboa com um funcionário da Carris. Zira casou com um dos membros dos Samurais,
no entanto perdeu-se na memória popular qual foi o privilegiado, Berto Poeta,
Lau da Viola ou Gastão Psicadélico. Poderá o
leitor reviver o prazer de ouvir esta obra de referência da música portuguesa
dos anos 90 e ajudar a clarificar de vez quem poderá ter casado com Zira? DESAFIO
AO LEITOR: O que se
pede é que o leitor dê resposta à questão suscitada pelo autor do enigma, que
nos convoca para a audição de um dos discos mais importantes da história do
rock português, da dupla Rui Veloso e Carlos Tê. Este álbum histórico, que
integra canções como “Não Há Estrelas no Céu”, “O Prometido é Devido”, “Baile
da Paróquia”, “Mago do Bilhar” ou “A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)”, entre outras, nas quais são abordados temas como
a política ou a crítica à globalização do rock, pode ser facilmente repescado
do youtube. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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