Publicação: “Audiência Grande Porto” Data: 10 de Maio de 2018 Torneio “Solução à
Vista” Provas
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TORNEIO
“SOLUÇÃO À VISTA” PROVA Nº 1 O ENFORCAMENTO DO VIGILANTE Autor: Daniel Gomes Ventura
Marques era vigilante numa importante empresa de produtos congelados. Numa
tarde de domingo do verão passado, Jorge Cunha, o colega que o foi
substituir, encontrou a porta da empresa fechada, com a chave no interior,
impedindo a sua entrada. Depois de tocar à campainha da porta por diversas
vezes e de ter ligado vezes sem conta para o telefone da empresa e para o
telemóvel de Ventura, alertou o superior hierárquico da sua entidade patronal
para o sucedido, tendo este ligado de imediato para a polícia. Meia hora
depois, por volta das 17h00, chegou um piquete da PSP, que, depois do uso de
algumas chaves de serviço sem qualquer sucesso, decidiu pelo arrombamento da
porta. Lá dentro, os agentes deslocados para o local depararam com o pobre
homem preso pelo pescoço a uma corda amarrada na tubagem da água que passa
junto ao teto e com os pés a cerca de meio metro do chão, já sem sinais de
vida. No chão
alagado de água, não havia à vista nenhum objeto, um banco, uma cadeira, um
caixote, nada em que o infeliz do Ventura Marques se tivesse empoleirado para
cometer aquele seu desesperado ato. Foram de imediato chamados os serviços de
emergência médica, que se limitaram a declarar o óbito e a comprovar que a
morte fora devida a enforcamento. Entretanto, com a chegada da Polícia
Judiciária, o caso passou para a esfera do consagrado inspetor Macunaíma, um
homem de poucos músculos, muito franzino e pequeno, lento de movimentos nos
afazeres do dia-a-dia mas rápido a usar a arma e… o seu privilegiado cérebro.
Passados pouco mais de quinze minutos, fizera-se luz sobre a forma como
ocorrera a morte do vigilante, o que deixou toda a gente espantada face à
rapidez de raciocínio de Macunaíma. Estamos certos, porém, que o leitor, com
a sua vocação para detetive, também já sabe como tudo aconteceu. Mas
antes que faça julgamentos precipitados, convém que o leitor fique a saber
que o espaço onde o corpo foi encontrado é composto por outras três portas,
que comunicam com os demais espaços de trabalho da empresa. Estas estavam
igualmente fechadas pelo interior do local onde se deu o enforcamento, com as
respetivas chaves na fechadura, não havendo qualquer outra hipótese de alguém
entrar naquele compartimento sem ser através daquelas portas, conforme
constatou o inspetor Macunaíma. Nesses outros três espaços, através das
bandeiras das portas, feitas de vidro transparente retangular colocado à
altura dos olhos de pessoas de média estatura, era possível verificar a
ausência de quaisquer pessoas e constatar a impossibilidade de existir algo
que pudesse estar de qualquer maneira associado à morte do infeliz Ventura
Marques. Não
faltaram, porém, as insinuações que são frequentemente habituais em situações
desta natureza. Um ex-colega de Ventura Marques fez questão de dizer que as
relações deste com Jorge Cunha não eram as melhores. Um funcionário da
empresa de congelados revelou haver entre uma colega sua e a vítima um caso
amoroso secreto, que era muito comentado internamente em surdina. O sócio
gerente da empresa confirmou conhecer este caso de adultério, que há muito o
preocupava sobremaneira por o marido da funcionária ser um sujeito muito
ciumento e bastante agressivo. A mulher da vítima confirmou as dificuldades
de relacionamento existentes entre o seu marido e o colega Jorge Cunha e
admitiu também desconfiar de que a forma como Ventura Marques se referia a
uma tal Leninha da empresa de congelados podia esconder um qualquer
sentimento muito mais forte do que admiração profissional ou amizade pessoal.
Mas a verdade é que o inspetor Macunaíma parecia ter desvalorizado
completamente estes depoimentos quando se sentou no seu gabinete para redigir
o relatório da ocorrência… DESAFIO
AO LEITOR: E o leitor,
também desvaloriza as insinuações proferidas nos depoimentos, ou não? E
porquê? O que se terá passado? Justifique o seu raciocínio,
pormenorizadamente, através de relatório. |
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DANIEL FALCÃO |
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