Blogue: O Local do Crime

Data: 5 de Outubro de 2018

 

 

Torneio “Solução à Vista”

 

Provas

 

 

 

TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA”

 

PROVA Nº 6

 

UM REGRESSO DO OUTRO LADO

Autor: Abrótea

 

Sempre gostei de acompanhar as conversas de meu Pai, o “Velho inspetor Rick”. Mal imaginava eu que um dia mais tarde seguir-lhe-ia as pisadas, apesar de estar a tirar um curso de montador eletricista… Cadê isso?, já não serve p’ra nada.

Invariavelmente o “blá-blá” começava sempre pela noite de lua nova, com chuva torrencial. Isto quando se juntavam todos os “velhos”, já com os pés quase para a reforma. E como não me deixavam ir ao cinema ver “daqueles” filmes, apenas acompanhava as conversas… mas fixava. Com estas recordações aprendi, e posso dizer que aprendi muito, tanto que nem precisava de estudar, só cabular (o que só por si já é estudar). E como recordar é “biber” vamos lá…

Reunidos meu Pai, Smaluco, Mister Ioso e Flo, que grande POKER.

Era eu “puto”, meu Pai, claro, estava ainda para as curvas. Acabara de chegar de Angola. Em Lisboa, como era de madrugada e sem transporte decidiu “dorminhar” no aeroporto Sá Carneiro. Ele que nunca conseguia dormir em qualquer que fosse o transporte. Mal tinha fechado os olhos, mesmo com os “ólicos” para sonhar a cores, sentiu um abanão. Quase lhe saiu um palavrão e meio estremunhado reconheceu o seu “velho amigo Artur” ou Sir Aldra sénior.

– Para aonde se dirige o meu caro amigo Inspetor – pergunta Sir Aldra.

– Não me dirijo, cheguei há vinte minutos de Angola, e nem me deixas dormir c’a porra (tradução literal) – resmungou.

Entretanto meu Pai expunha aos seus companheiros o resto da interessante conversa.

– Que coincidência, também cheguei agora de lá, mas se calhar numa outra companhia aérea. Cheguei faz cinco minutos – respondeu Artur – detestei aquilo e tu? Só de viagem cinco horas, dá para ficar com calos no rabo.

– Bem, (acho que foi precisamente o que respondeu meu Pai) eu fui lá tirar um curso, estive na cidade, e ali vive-se noite e dia apesar de ser uma cidade cara, tens mulheres frias, carros quentes e cervejas (cucas) rápidas.

– Sabes, amigo Rick, cheguei lá a 12 de Setembro, e daí a pouco era o feriado da nossa santa terrinha, então saí de Lourenço Marques e, não sei como, dei comigo numa mata cerrada. Mais tarde é que soube, e foi pelo meu filho que me mandou mensagem no telélé, (já depois do feriado do Bocage, para aqui também nem consegui ligação) que era a Mata do Maiombe. Já de noite, ali perdido no meio do nada, só a lua brilhava, o céu com suas estrelas, eis que cai uma daquelas trovoadas e uma tromba d’água como só acontece nos países asiáticos. Valeu o luar, noite de lua nova, via perfeitamente a nossa estrela guia, a Estrela Polar, foi assim que consegui…

Imediatamente foi mandado calar o Artur, mais conhecido por Sir Aldra, e com razão.

 

DESAFIO AO LEITOR:

“Quais as gaffes cometidas pelo Artur, e uma pelo menos pelo meu Velho”? – pergunta o autor.

 

© DANIEL FALCÃO