Publicação: “Público”
Data: 13 de Outubro de 2013
Campeonato Nacional 2013
Taça de Portugal 2013
Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2013
PROVA Nº 9 (PARTE II)
A VINGANÇA DO MARIDO
TRAÍDO
Autor: Felizardo Lopes
Felizardo Lopes, lembram-se?
Descrevi-vos aqui, há tempos, um dos capítulos mais marcantes da minha vida:
a minha experiência de presidiário.
Terão, possivelmente, curiosidade em saber mais notícias
deste ex-recluso – o então 1423. Pois bem, saí da prisão, cumprida
pena, mas continuei a penar, depois, durante algum tempo, tentando
“navegar” neste difícil mar revolto que a vida hoje constitui. Enfim,
subsisti os primeiros tempos graças a um “pecúlio” que tinha “guardado num
velho televisor”, no sótão de minha casa – vocês conhecem a história… Ainda
lá estava, felizmente. Se assim não tivesse acontecido teria, talvez, tido
necessidade de voltar à prática de algum acto
delituoso… e ser hoje, de novo, identificado por um número…
Uns meses mais tarde arranjei finalmente emprego. Muito mal
pago, claro, mas vai dando para sobreviver…
Livre! A viver mal, mas livre; e agora sei bem que a
liberdade é a condição mais importante de que podemos desfrutar! De facto, a
vida de prisioneiro, sendo uma experiência que proporciona um manancial de
histórias que enriquecerão o “curriculum” de vida, não é desejada por ninguém
– delinquentes natos, ou primários como eu…
Falei em histórias. Narrei já aqui a minha; outros, lá,
contaram-me a deles. Isto porque, “lá dentro”, naqueles longos, tristes e
desesperantes dias, muitos sentem a necessidade de confidenciar as razões que
ali os levavam. Desabafar, uma forma de nos sentirmos menos sós – e, muitas
vezes, tónico para aliviar o peso das consciências…
Porque sei que estas histórias despertam sempre a
curiosidade das pessoas, vou partilhar convosco a que me foi narrada por um
dos meus ex-companheiros – a dramática experiência de F., o preso nº 1365.
Já lá estava, quando eu entrei. E porque também primário,
porque também vítima das condições adversas que a vida, em certas ocasiões,
nos proporciona (e ainda porque, ali, ele era um dos que mais sofria com
situação e dos mais carentes de apoio), rapidamente nos tornámos amigos e
confidentes. Inspirava-me pena pelas razões que sabia que ali o tinham
levado… Era o exemplo de como, de um momento para o outro, a vida de um homem
feliz e pacato conhece um tal volte face, um virar de página que transforma a
sua existência num inferno e a pessoa num farrapo…
Mas vamos à história. Reproduzo parte da sua narrativa, anos
já volvidos após me ter sido contada:
“Matei! Pratiquei o crime de homicídio na pessoa de um
amigo, ou melhor, de alguém que tinha como tal. Pois, as tais
circunstâncias da vida: num dia, amigo de alguém, no outro, seu assassino.
Porque o fiz? Descobri que o miserável era amante da minha mulher! Desde
quando e quando tudo começara, desconhecia. Mas, a partir das denúncias que
passei a receber, fiz investigações e vim a comprovar a sua veracidade.
Fiquei desvairado, esmagado pela revelação! Era a minha vida que se
desmoronava, que se virava do avesso… Senti vergonha, desespero, raiva… E
decidi vingar-me! Dele, especialmente… Ela, pura e simplesmente,
repudiá-la-ia, não merecia mais que desprezo, distância como de um cão
tinhoso… Precisava de uma arma para cumprir a missão que se impunha: disparar
sobre o traidor, vingar-me; fazendo-o, descarregava também uma parte da raiva
que sentia. Era um imperativo íntimo. Arranjei pistola e dirigi-me ao
escritório do pulha. Estava sentado à secretária, e exibiu uma expressão de
surpresa e temor. Terá compreendido logo, (ou, pelo seu subsconsciente
culpado, suspeitado), que eu não estava ali para um qualquer acto que pudesse cimentar a nossa amizade. Tentou iniciar
uma conversação, esperando ganhar tempo para avaliar as minhas intenções, ao
mesmo tempo que manipulava nervosamente uma esferográfica – com a qual o vi,
entretanto, rabiscar muito rapidamente algo numa folha de papel, que logo
virou – mas apenas conseguiu inquirir, com uma expressão em que se desenhava
medo, o que me levara ali. Não lhe dei muito tempo; chamei-lhe miserável,
canalha, e puxei da arma. Disparei um, dois, três tiros que o atingiram no
peito. Saí de imediato, Não sei se o deixei ainda com vida ou não… Depois do
que acabara de fazer, estava cumprida a minha missão, era-me já indiferente
qual o seu estado ou o seu futuro. Era, simplesmente, um virar de página na
minha vida, uma coisa que eu tinha que fazer. E estava feito. Mas morreu!
Não tardei a ser preso. A minha detenção ocorreu muito
rapidamente, mas não constituiu para mim surpresa, consciente que estava que
teria que pagar pelo acto que cometera. A situação
o que conduzira aquele crime já era conhecida por algumas pessoas, e assim só
houve que somar dois mais dois. Além disso, ele acusou-me! Sobre a secretária
e sob o seu tronco, nela caído, a polícia encontrou uma folha de papel,
manchada de sangue, com apenas uma letra escrita – um L - na face voltada
para baixo. Uma pista que a polícia, após curta investigação, bem soube
interpretar.”
E ali estava ele, agora, atrás das grades – outro homem, o
preso 1365 – expiando o crime que as circunstâncias lhe haviam imposto!
Partilhando a sua história comigo, que também nunca previra poder vir a estar
naquele local…
Foi há uns anos – mas ele ainda lá está!
Talvez um dia volte com um novo episódio da minha passagem
por um período de vida que não me foi grato, mas que me marcou pelas muitas
recordações e histórias proporcionadas… Entretanto, porque sei que os meus
amigos do “Público Policiário” são “barras” na decifração deste tipo de
desafios, coloco-vos a seguinte questão: qual, dos nomes seguidamente
referidos, acham que é o preso 1365?
A – Lourenço Pires;
B – Luciano Marques;
C – Luis Elviro;
D – Licínio Casanova.
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