Publicação: “Público”

Data: 5 de Maio de 2013

 

 

Campeonato Nacional 2013

Taça de Portugal 2013

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2013

 

PROVA Nº 4 (PARTE I)

 

TEMPICOS E O “BACALHAU À PRESSUPOSTO”

Autor: A. Raposo & Lena

 

Chegara a Primavera. Tempicos descansava na sua otomana favorita, apreciando a vista do alto do último piso do edifício Amoreiras. Via-se ao fundo o Tejo e o Cristo Rei.

Um copo, umas pedrinhas de gelo miúdo a tilintar. Um velho Kentucky bourbon a dar-lhe cor. A mão esquerda a percorrer suavemente a coluna da Geraldinha. Um engate da véspera. Uma loira exuberante que lhe prometera acabar com o jejum da carne que atravessara… 

Pela sua conspícua mente passava a confeção de uma receita de bacalhau. Quem diria?

 Tempicos congeminava o que deveria vir a ser o “bacalhau à pressuposto”. Um prato adequado à época que se estava a viver. Um bacalhau que não levava bacalhau! Só batatinhas assadas a murro. Do bacalhau era só um cheirinho dado que o fiel amigo estava pelo preço do ouro.

 Porém... (há sempre um porém) a cena desfaz-se, o telemóvel toca e lá se vai o bem bom e fica a “receita” por desvendar. Tempicos fora chamado a resolver mais um caso bicudo. Meteu-se a caminho. Vestiu a gabardina à Bogart, o chapéu mole e o inevitável cachimbo.   

Num dos poucos resistentes “chalets” de Campo de Ourique, vivia o capitão Possidónio. Vivia, vírgula, porque acabara de ir para os anjinhos.

O capitão, segundo constava do telefonema recebido, jazia morto, no corredor que dá acesso à porta da rua. Tempicos recebera um pedido de ajuda da sua governante às 13,35h. Tempicos bateu à porta, surgiu-lhe a governanta. “Que grande desgraça Sr., Inspector (Tempicos fora visita da casa, em tempos) o patrão está ali deitado no chão mais morto que vivo. Só não percebo se foi ele que se matou se algum malandro o fez. Eu estava no andar de cima quando ouvi um estrondo. Vim para baixo devagarinho porque estas pernas já não ajudam, e dei com o patrão deitado a escorrer sangue da cabeça e com um pistolão na mão. Sem se mexer. Aqui no corredor, junto à porta da rua. “

Tempicos perguntou-lhe pela pistola.

“ Olhe, apanhei-a e limpei-a e voltei a guardá-la na panóplia das armas do Capitão aqui na sala de estar, não fosse alguém aleijar-se pois o patrão dizia que estão sempre carregadas…e no chão não havia senão sangue. Lembrei-me e telefonei-lhe logo”.

Tempicos notou que a senhora – já bastante avançada na idade e meio taralhouca - tentou fazer o melhor e acabou fazendo o pior. Eliminou as eventuais impressões digitais. 

Tempicos foi analisar a panóplia da parede onde 4 armas de fogo diferentes se perfilavam.

Com o capitão Possidónio, além da governanta, viviam também dois sobrinhos ( aliás os únicos herdeiros) o Luizinho e o Paulinho rapazes modernos e amigos da esbórnia.

O Paulinho tinha ido almoçar ao restaurante “Cataplana” da Rua Ferreira Borges e estivera lá das 13 às 14.Tempicos confirmou no Restaurante.

Luizinho contou que se levantou tarde, tomou um lauto pequeno-almoço e por volta do meio-dia foi até ao jardim da Parada e leu o seu jornal num banco de jardim. Depois foi espreitar os “velhotes” a jogar às cartas no outro lado do jardim. Ficou por ali a observar, os miúdos a brincar e, por volta das duas da tarde regressou a casa.

Para complicar tudo, o capitão tinha na véspera feito um disparo com uma das armas da sua panóplia a um gato que saltara o muro do quintal. Felizmente não acertara mas a bala ficara incrustada no muro e fora recuperada pelo inspector. Este facto foi-lhe contado pela governanta.

A polícia científica confirmou a hora da morte, por volta das 13h e as 13,30h de domingo.

A porta da rua estava fechada à chave quando Tempicos chegou ao local. A governanta abriu-a quando ele tocou, com a sua chave que mantinha sempre no avental.

As armas da panóplia eram:

1 – Revolver: calibre .45;      

2 – Pistola: calibre – 6,35 mm;

3 – Pistola: calibre .32;       

4- Pistola: calibre – 9 mm.                           

A bala que fora extraída da cabeça da vítima era de 6,35 mm. e a extraída do muro do quintal era de 9 mm.

As armas na panóplia estavam todas com os respectivos cartuchos excepto uma onde faltava uma bala de calibre.38 e que fora disparada recentemente. Às 3ªas feiras o capitão tratava da armaria. Limpava, oleava e repunha todos os cartuchos, se necessário. Ganhara vários prémios em concursos de tiro.

A solução do caso poderia ser, como diria La Palisse, suicídio ou crime, mas isso compete ao amigo leitor resolver e contar, o que se passou…

Tempicos estava baralhado mas visivelmente bem-disposto. O seu Benfica já levava 4 pontos de avanço sobre o rival. Este ano é que a vitória não iria fugir e a ser assim…Tempicos iria a pé a Fátima com a faixa de campeão comprar uma medalhinha de Francisco, o Papa.

 

© DANIEL FALCÃO