Publicação: “Público” Data: 10 de Fevereiro de 2013 Campeonato Nacional 2013 Taça de Portugal 2013 Provas
|
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2013 PROVA Nº 1 (PARTE I) O MISTÉRIO DA CARTEIRA DESAPARECIDA Autor: Tryit O João acabara de chegar
ao café e não vinha muito satisfeito. Esteve a ver um jogo de futebol no
estádio da terra e aquilo não correu nada bem, ao que contou. - Logo no princípio os de
lá de cima marcaram um golo, depois de um falhanço do nosso guarda-redes.
Então não é que o rapaz em vez de defender a bola que até vinha na sua direcção, resolveu baixar-se? Já viram o filme? A bola
direita ao gajo e ele, cheio de medo, desviou-se! E
depois a porcaria da chuva, que não parou um segundo que fosse e eu que me
esqueci do guarda-chuva em casa… - Mas conta lá o que
aconteceu. Perderam por quantos? - Ora, perdemos por 2-0 e
o segundo golo também foi um grande frango. Assim não vamos lá! Mas as minhas
desgraças não acabaram, porque quando fui para casa, vi que me esqueci da
chave no bolso do outro casaco e como a minha mulher foi fazer uma visita à
mãe, fiquei fora de casa. Já é galo! - Olha, olha, dois frangos
e mais um galo… Mas tiveste a sorte de nos apanhar aqui, pá! Vamos beber um
copo e esquecer essas chatices… Zé, manda aí uma
rodada para a malta… Escassos minutos depois,
já havia algazarra, enquanto se alinhavam para lançar os dardos contra um alvo
estrategicamente colocado num canto pouco frequentado, não fosse a pontaria
mais etilizada provocar alguma desgraça. Um a um, todos despiram os
casacos e empilharam-nos em cima de uma mesa de bilhar desactivada
por problemas no pano. Durante muito tempo durou
o campeonato de dardos, ora com vitória de uns ora de outros, entremeadas por
rodadas que eram ruidosamente saudadas. Quando finalmente chegou a
hora da debandada, cada qual para sua casa, na hora das contas, o João pegou
no casaco e gritou que lhe faltava a carteira: - Estava aqui, no bolso
interior, tenho a certeza! - Vejam no chão, pode ter
caído… Espera aí, o meu casaco estava por baixo do teu e não me falta nada. O
do Álvaro estava por cima… Álvaro, falta-te alguma
coisa? - Não, está aqui a carteira,
tenho tudo… - Bolas, se não falta nada
ao Álvaro nem a mim, foi muita pontaria terem roubado a tua carteira… Não
estás a ver se não pagas? - Duvidas
de mim? Tenho a certeza que tinha a carteira quando atirei o casaco para o
monte, tenho a certeza absoluta! Vim do futebol para aqui, directamente, não fiz paragens nem nada. E no campo fui
beber uma cerveja com o Tropas e paguei eu… Tropas? Ó Tropas!... - Que é, pá? - Lembras-te do copo que
bebemos no campo de futebol? Quem pagou? - Foste tu, João, pagaste
e vieste embora. Eu ainda lá fiquei mais um bocado… -Viram? Eu tinha a
carteira, paguei e agora desapareceu. Alguém a tem e se é brincadeira, isto
acaba com um pero nas fuças, entendem? - Espera aí, pá, dá cá o
casaco, se calhar meteste noutro bolso ou tens o forro descosido e caiu, sei
lá, dá cá o casaco… Mas não era o caso. O
casaco era relativamente novo, muito bem cuidado e tratado, não tinha buracos
no forro, nem nos bolsos e, de facto, em nenhum deles havia rasto da
carteira. - Estão a ver? Estão a
ver? Se alguém tem a carteira, passem-na para cá, se não têm, paguem lá as
bebidas que eu depois pago a minha parte, mas tenho de me ir embora procurar
a carteira, vou fazer o caminho ao contrário… - Alto aí, João! És muito
boa pessoa, mas há nesta história algumas coisas que não estão muito bem…
Conta lá tudo outra vez, muito calmamente… - Lá vem este com as
manias de que é um detective. Andas a ler o PÚBLICO
ao domingo, não é? Só pode… Que coisas achou o amigo
do João que não estavam lá muito bem? De que estava ele a desconfiar e que
indícios lhe despertaram as dúvidas? |
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
©
DANIEL FALCÃO |
|