Publicação: “Público” Data: 20 de Outubro de 2013 Campeonato Nacional 2013 Taça de Portugal 2013 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2013 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 7 (PARTE I) A TIA LAURINDA E A MORTE DE D. PERPÉTUA Autor: Búfalos
Associados Grave erro cometeu a polícia ao não recolher o telemóvel encontrado debaixo do corpo da falecida Perpétua. Ficou assim privada de obter a informação que determinou a suspeita da Tia Laurinda sobre quem poderia ter sido o autor do crime. Para já não falar de eventuais impressões digitais reveladoras da identidade da proprietária. Na realidade, ao verificar que na lista de contactos gravados apenas constavam nomes conhecidos e expectáveis com excepção dos da vítima e da filha Mercês, é lógico supor que o telemóvel deverá pertencer a uma dessas duas personagens. Mas a Tia Laurinda sabia bem que a perecida Perpétua era avessa a todas as modernas tecnologias, portanto não possuía certamente telemóvel. No caso contrário até nem seria natural que faltasse na agenda de endereços o nome de apenas uma das filhas. Assim sendo, o aparelho de comunicação aparecido debaixo do corpo da finada Perpétua não podia deixar de pertencer à Mercês, certamente tombado durante a discussão e a luta corpo a corpo testemunhadas pelo jardineiro. Que pode ter acontecido? As mensagens lidas no telemóvel pela Tia Laurinda revelavam problemas no pagamento de avultadas dívidas, o que a fez então desconfiar de que o conflito daquela noite entre mãe e filha poderia bem ter origem, além da música ouvida demasiado alta, na exigência por parte da Mercês de apoio financeiro para a liquidação das mesmas. Não se esqueça que ela estava desempregada. O adiantado da hora, a existência muito provável de quezílias anteriores e os efeitos produzidos pela ingestão de whisky em doses exageradas, terão mesmo levado a Mercês a mostrar à mãe o testemunho das mensagens gravadas. Os ânimos exaltaram-se, o telemóvel terá caído, o atiçador da lareira estava ali mesmo à mão, e pronto: a ocasião faz a agressão! Depois o grito da agredida Perpétua, a queda do corpo sobre o telemóvel, o alarme provocado pela voz assustada do Zenóbio que nem sequer deu tempo à desnaturada filha para recuperar o aparelho e a fuga precipitada pela escada acima. E foi certamente ela que, perturbada pelo acontecido, nem terá tido a lucidez de mudar de roupa e terá descido a escada sem dar mostras de ter estado a dormir, pois apareceu vestida como tinha andado durante o dia, tal como constatou a Umbelina. Concluindo,
mercê da Mercês verifica-se que não há nada que seja verdadeiramente perpétuo
e que ainda não foi desta vez que nem o mau feitio de uma dona de casa
desesperada, nem os maus resultados do Sporting, nem uma janela aberta nas
traseiras, provocaram um crime. |
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DANIEL FALCÃO |
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