PÚBLICO – POLICIÁRIO Publicação: “Público” Coordenação: Luís Pessoa Data: 6 de Maio de 2012 |
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Campeonato Nacional 2012 Taça de Portugal 2012 Prova 1: Tradicional +
Múltipla Prova 2: Tradicional +
Múltipla Prova 3: Tradicional +
Múltipla Prova 4: Tradicional +
Múltipla Prova 5: Tradicional +
Múltipla Prova 6: Tradicional +
Múltipla Prova 7: Tradicional +
Múltipla Prova 8: Tradicional +
Múltipla Prova 9: Tradicional +
Múltipla Prova 10: Tradicional +
Múltipla |
CAMPEONATO NACIONAL 2012 TAÇA DE PORTUGAL 2012 PROVA Nº 4
(TRADICIONAL) MATARAM O
TEJO! Autor:
Penedo Rachado O pai do
inspector Jau dá-se bem com toda a gente. Ninguém lhe conhece qualquer
pendência. Contudo, possuía o velhinho um perdigueiro por quem tinha grande
predilecção e, que lhe arranjava problemas e o fazia entrar em despesas. O “Tejo”,
assim se chamava o cão, escapava-se e ia “visitar” capoeiras da vizinhança,
causando prejuízos que o dono tinha que pagar. Havia vizinhos que não se
importavam de ser bem compensados pelos danos, o que a alguns até dava jeito,
pois era forma de venderem a criação, havia quem não achasse graça às
tropelias do Tejo e tivesse afirmado que um dia o matava. Naquele
sábado, como era hábito, o ti Jacinto, tal o nome do pai do inspector Jau, foi
de manhã ao mercado semanal da vila próxima. Ao voltar a
casa, ao meio dia, deu com o Tejo agonizante, deitado junto da porta do
quintal. Pela boca semiaberta, do animal escapava uma espuma de cor
indefinida e mal cheirosa. Pressentindo o dono abanou a cauda e tentou
levantar-se. Esforço inútil, acabou caindo morto. Alguém cumprira a
ameaça. Só a
chegada do filho, na sua visita semanal, conseguiu animar o ti Jacinto.
O inspector
Jau preocupou-se com o choque que o velho acabava de sofrer e decidiu tirar a
coisa a limpo e perguntou ao pai se tinha algumas suspeitas. O ti
Jacinto, na sua boa índole, disse que não, mas “apertado” pelo filho, lá foi
adiantando haver três vizinhos que, por diversas vezes, tinham ameaçado de
morte o Tejo. De referir
que, aqui, o conceito de “vizinho” não é o de imediata continuidade de
habitação, aproximando-se do sentido com que tal palavra é geralmente usada
nas zonas rurais, especialmente do Norte do país. Jau
exclamou: – Ora vamos
lá visitar esses três! Pai e filho
puseram-se a caminho: Os três suspeitos foram visitados e, para todos eles, a
pergunta foi a mesma: Porque matou o cão do meu pai? As respostas foram
diversas! O João das
Cabras, primeiro visitado, mostrou-se admirado e respondeu: – Então eu
ia lá matar o cão? É verdade, que várias vezes disse que o fazia, mas isso
eram só palavras da boca para fora! Hoje fui ao mercado da vila e só voltei
há aí uns cinco minutos. Olhe, ti Jacinto, eu até ia à sua frente e o senhor
só me passou quando eu parei em Santa Quitéria, para apanhar o Quim Ferrador,
que estava à minha espera. Depois fui atrás de si até à vila. A segunda
entrevista foi com o Zé da Quinta, que respondeu à pergunta de modo
agressivo. – O quê?…eu? Vocês não estão bons da bola! Eu passei, a manhã na tasca do Manuel dos Petiscos, bebendo uns copos e a jogar à sueca com uns amigos. Quando de lá saí faltavam dez minutos para o meio-dia, eu me lembro bem disso pois, quando vinha a sair reparei que era a hora que o relógio que o Manel tem por cima da porta marcava! Saí a correr para ir à Junta de Freguesia, mas já não cheguei a tempo… E também não ganhava nada em envenenar o cão. É certo que muitas vezes disse que o matava, mas do dizer ao fazer vai um caminho comprido… O último
dos três suspeitos a ser visitado foi o Joaquim Ferrador, que respondeu: – Eu não matei cão nenhum! Quando é que isso foi? Olhem, hoje fui ao mercado com o João das Cabras, e só há pouco voltamos. Tinha combinado esperar por ele em Santa Quitéria, para irmos juntos, e quando o João parou para me levar, o ti Jacinto passou por nós, é bem capaz de nem ter dado por isso. Depois tivemos que ir atrás de si até ao mercado, a comer toda a fumarada que a sua “chocolateira” larga… está a precisar de levar aquilo à revisão, está sim senhor! Acabadas as
visitas, como no regresso a casa passavam pela taberna do Manel, Jau sugeriu
que entrassem para se dessedentarem. Demoraram alguns minutos na conversa,
comentando o filho que para volta tão grande se justificava que tivessem
trazido o carro. Até que, num salto, olhando o relógio, o ti Jacinto
exclamou: – Raios!
Temos que ir andando, com estas voltas já são dez para as duas e ainda temos
que fazer o almoço! O
taberneiro, atalhou rápido: – Não faça
caso, senhor Jacinto, eu tenho aquele relógio sempre adiantado uns vinte
minutos, que é por mor dos fregueses que acham sempre ser ainda cedo para
fechar e há sempre tempo para mais um copo. O inspector
e o pai saíram da taberna e dez minutos depois estavam em casa! Jau disse: – Bem, meu
pai, quem matou o cão já eu sei, resta saber agora se quer que se proceda
contra ele! A resposta a esta pergunta nós não a ouvimos, mas gostaríamos de saber qual a conclusão a que o inspector chegou e qual o raciocínio que a esta conduziu. |
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© DANIEL FALCÃO |