PÚBLICO – POLICIÁRIO

 

Publicação: “Público”

Coordenação: Luís Pessoa

 

Data: 5 de Agosto de 2012

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Campeonato Nacional 2012

Taça de Portugal 2012

 

Regulamentos

 

Prova 1: Tradicional + Múltipla

Prova 2: Tradicional + Múltipla

Prova 3: Tradicional + Múltipla

Prova 4: Tradicional + Múltipla

Prova 5: Tradicional + Múltipla

Prova 6: Tradicional + Múltipla

Prova 7: Tradicional + Múltipla

Prova 8: Tradicional + Múltipla

Prova 9: Tradicional + Múltipla

Prova 10: Tradicional + Múltipla

 

Resultados

 

 

CAMPEONATO NACIONAL 2012

TAÇA DE PORTUGAL 2012

 

PROVA Nº 7 (TRADICIONAL)

 

CRIME OU SUICÍDIO?

Autor: Leopardo

 

Era um homem de estatura mediana, mas gordo. Vivia numa cabana que construíra na orla do bosque a um quilómetro da aldeia. Não tinha amigos, mas era frequente ser procurado por quem necessitava de conselhos ou por jovens que queriam escutar as suas histórias. 

A manhã rompera radiante de sol após uma noite que parecera querer desfazer-se em água. Os caminhos enlameados eram o sinal do que tinha sido a noite.

Maria dos Prazeres, jovem franzina, percorria o caminho que da aldeia se dirigia à cabana, deteve-se junto desta e bateu à porta. Não obteve resposta, voltou a bater e, alguns segundos depois, notando que a porta apenas estava encostada, empurrou-a. Ia entrar. Não o fez e voltando-se, desatou a correr para a aldeia.

Uma hora depois  chegou ao local o capitão Isaías da GNR, acompanhado de alguns subordinados. O capitão entrou; o recinto era um quadrado de três metros de lado parcamente mobiliado, e imediatamente divisou, com os pés a um metro do solo, o corpo que balouçava pendurado de uma trave do tecto da cabana.

De costas para a porta, o capitão abarcou o recinto com o olhar. À sua direita, junto ao ângulo formado pela parede que lhe ficava na frente e na lateral, encontrava-se uma mesa e junto deste, três bancos-mochos com 50 centímetros de altura. No ângulo diametralmente oposto, via-se um catre e um armário toscamente construídos. No canto ao fundo à sua esquerda, escavado no solo, havia um esconderijo onde foi encontrado um pequeno cofre metálico arrombado e um pé-de-cabra. No canto esquerdo mais próximo da porta, caído sob o cadáver, estava um banco igual aos que se encontravam junto da mesa. O capitão dirigiu-se ao corpo. A corda era nova, tinha 15 milímetros de espessura, passava por cima da trave e tinha a extremidade atada a um prego espetado num poste.

Servindo-se de uma escada o oficial subiu  para observar a corda. Viu que algumas fibras estavam partidas numa extensão relativamente grande da corda. Reparou também que, entalada entre a corda e a parte superior da trave, havia uma pequena ripa de madeira; apurou-se, mais tarde, que fora arrancada, pela fricção da corda, do barrote no lado do corpo. Isaías desceu e foi olhar o prego a que a corda se encontrava presa. Teria uns 4 milímetros de espessura e encontrava-se um pouco inclinado para baixo.

Feitas estas observações, o capitão foi postar-se junto da porta contemplando o caminho que levava à aldeia, ao longo do qual a partir da porta e no espaço de 50 metros, se viam várias séries de pegadas. Umas, imprimidas por uns pés pequenos, dirigiam-se para a cabana. Outra série de pegadas idênticas afastava-se da cabana. Neste caso era evidente que quem as deixara ia a correr.

Havia outra série de pegadas afastando-se da cabana; eram bem maiores que as anteriores e tinham uma particularidade: a marca do pé direito estava bem nítida, mas do pé esquerdo apenas se divisava a parte da biqueira; perdiam-se depois sobre a caruma dos pinheiros que ladeavam o caminho.

O capitão reentrou na cabana onde o legista o informou de que a morte ocorrera entre as quatro e as cinco horas da madrugada. Nada mais tendo que fazer ali, Isaías foi para a aldeia falar com Maria dos Prazeres. Disse que ia uma vez por semana ver o velhote; ele nunca se queixava e, por isso, não sabia por que teria feito aquilo. Hoje não era para lá ir, mas como a noite foi muito má, foi para saber se ele estava bem. Quem o visitava todos os dias era o João Coxo e o Tó Marreco.

Convocados, o Tó Marreco compareceu imediatamente. Era um individuo idoso, franzino, que se deslocava apoiado a uma bengala e era acentuadamente corcunda. Interrogado respondeu: “Costumo ir todos os dias ao bosque ver o velho, mas ontem os meus ossos parece que adivinharam a noite que ia estar e não me deixaram sair de casa. Nas suas conversas, o velho nunca falava da família nem da sua vida.”

O João Coxo estava ausente e só dois dias depois respondeu à convocatória. Era um jovem musculoso, de 1,80 metros de altura e 80 quilos de peso. Apesar da sua corpulência, a sua perna esquerda era mais curta que a direita e o pé apresentava-se como se fosse um prolongamento da perna. O seu testemunho: “Costumo ir todos os dias ver o bom velhinho, havia alguns dias que não ia, estive fora. Nunca me falou da sua vida, mas tenho a certeza de que ele tinha dinheiro escondido.” Não tendo mais diligências a fazer ali, o oficial da GNR deixou a aldeia, mas antes tomou uma decisão.

Crime ou suicídio? Qual a decisão do capitão? Ele estava certo ou errado na sua decisão? Explique pormenorizadamente o seu raciocínio.

 

SOLUÇÃO

 

 

© DANIEL FALCÃO