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Detective Jeremias

Professora Doutora Cristina Chumbinho, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Tina para os amigos mais íntimos, ou Tininha no local onde nasceu e passou a infância, tem uma constituição frágil − um peso inferior a 50 quilos, distribuídos por 147 cm de altura. É uma mulher ainda cheia de genica e o seu regresso à terra dos pais, depois da aposentação por limite de idade, não surpreendeu ninguém. O que deixou todos espantados no pequeno lugarejo foi o tipo de actividade escolhida por Tininha para preencher o vazio trazido pelo fim da intensa e meritória vida académica.

Tudo começou com uns zunzuns mal balbuciados no café, logo seguidos de frases transmitidas à boca pequena no quiosque dos jornais e jogos santa casa. Depois foi um ver se te avias, num crescendo sem limite.

Então não é que a Tininha se ia dedicar à caça?

E, pasme-se, é uma especialista devidamente documentada! Isto de ir à caça, não é só pegar na arma e andar pelo mato à procura de tordos e saca rabos, ou ficar à beira de um açude à espera que apareça um pato-trombeteiro ou uma galinha-d'água. Não senhora, há que ter carta de caçador, licença de caça, licença de uso e porte de arma, livrete de manifesto…

Enfim um manancial de documentos, porque o estado é muito criativo quanto a sacar dinheiro ao contribuinte. Tininha tem licenças, tem pontaria e tem determinação. Tininha tem até uma permissão especial que a isenta de cumprir o calendário venatório, imposto por lei, quer em terrenos ordenados, quer terrenos não ordenados.

Quem diria, que uma mulher que um vento mais forte atira ao chão, se iria entregar de alma e coração a uma arte de homens façanhudos?

Tudo isto foi confirmado pela própria Tininha no café onde começaram os zunzuns. Deixou mesmo os presentes um pouco arrepiados, quando declarou que em casa não lhe faltavam armas. Depois, Tininha saiu apressada. Em casa esperava-a um extenso e minucioso trabalho de revisão linguística, apoiado por um vasto e diversificado manancial de dicionários, prontuários e enciclopédias. E para que fique registado, Tininha não se limita a caçar gralhas, também não escapam ao seu olhar de falcão erros de pontuação ou de regência verbal.

 

MORAL DA HISTÓRIA

Quem porfia mata caça.

 

Fontes:

Blogue Repórter de Ocasião, 11 de Maio de 2025

Borda D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2018

 

© DANIEL FALCÃO