INTRÓITO

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BORDA D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019

 

NOVEMBRO SANGRENTO

Detective Jeremias

 

Faltam alguns minutos para a meia-noite nesta noite escura de Novembro.

A luz anémica dos candeeiros públicos mal consegue trespassar a chuva miudinha e o nevoeiro cerrado.

O som do vento forte e o ribombar das invisíveis vagas do mar compõem a cena digna de um filme de terror.

Na marginal um homem caminha em passo ritmado, indiferente ao temporal à sua volta e ignorando os paralelepípedos escorregadios do piso.

O vento, a cada rabanada, insufla o fato impermeável que o cobre por completo, agigantando ainda mais, por uns segundos, a figura já de si corpulenta.

A passada torna-se mais rápida, os botins novos pisam poças de água e calcam detritos, as mãos nuas agarram com força as alças da pesada mochila escura.

De súbito, uma dúvida atravessa por segundos a mente do homem.

Traria tudo consigo?

As luvas especiais, a protecção para a cabeça, o estojo com as três facas de gume bem afiado…

Verificara tudo várias vezes e está seguro de que nada falta.

Apesar da determinação e da confiança, a proximidade da meia-noite junta urgência e ansiedade ao que se avizinha.

O homem, com um trejeito de satisfação no rosto, consegue antecipar o que irá novamente sentir – a cor vermelha escura, o cheiro acre e ao mesmo tempo adocicado, o sangue viscoso a manchar as luvas claras e a alastrar em redor.

Após um curto período de inação por falta de matéria-prima, o homem estava finalmente de volta ao turno da noite, na secção de lavagem e evisceração, da fábrica de processamento de pescado lusitano.

 

MORAL DA HISTÓRIA

As aparências iludem e as iludências aparudem.

 

Fontes:

Blogue Repórter de Ocasião, 18 de Maio de 2025

Borda D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2018

 

© DANIEL FALCÃO