A VIOLADA
| Abrótea SORUMBÁTICO | Filipa Wilson NOITE INTERMINÁVEL
EM TOBAGO | Cris (Maria Cristina de Aguiar) A ALEGRIA DAS
PEDRINHAS | Peter Pan VÁ-SE LÁ SABER
PORQUÊ… | A. Raposo JUNHO CHUVOSO
| Rigor Mortis INQUIETAMENTO NO
PRINCIPADO | Inspector Moscardo AS NOITES QUENTES
DE AGOSTO | Búfalos Associados RAPOSO
| Zé UM DEDÃO ESPECIAL
QUANDO SURGE OUTUBRO | Inspetor Boavida (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 |
A VIOLADA (só quem tem unhas…) Abrótea Acordei em
sobressalto tais não eram as pancadinhas na porta! Vesti o roupão antes que
viesse todo o prédio abaixo, abro a porta e dou de caras com dois velhos
amigos, acreditem mesmo dois velhos, mas ainda à moda antiga. Sem tempo nem
para bocejar, o mais velho... −
Acompanhe-nos até ali ao Quebedo – falou mostrando
o distintivo e um vulto que parecia… − E rápido
– rosnou o outro, qual cão de guarda. Acabei por
bocejar, pois nem me passava pela cabeça o que se passava e refilei – querem
que eu vá assim, tiro os collants, vou como Deus me deitou ao mundo, ou
esperam um pouco? O mais
baixinho, conhecia-o não sei de onde, mas sabia que tinha fama de terrível,
olhou para o companheiro e disse – olha-me este, tem na mania que é
espertalhão. Esperem um
pouco – acabei por dizer – em pé de preferência e sem tocar no bar. Meia hora
depois seguimos até aos “escritórios” e depois de alguns minutos já lá
dentro, mais dois detectives, aliás um senhor e uma
senhora… com esses dois e mais o “Gordo”, um cubículo em que nem uma galinha
quereria, começa o pesadelo… não para mim, podem ter a certeza! − O
senhor sabe do que é acusado? Temos aqui uma acusação muito grave, tentativa
de violação... Interrompi-a –
bem, pelo menos você tratou-me por senhor, não sei bem se sou, mas isso cada
um nasce “p’raquilo” que gosta, mas violação? Aos fins de semana toco viola, ela geme nas minhas mãos se é a
isso que se refere. − Calma,
refiro-me a uma miúda – enquanto ela falava, pensei, bem esta é alentejana
anda nas calmas, e eu até estou calminho – fez
queixa do senhor, enquanto estava na portaria e tentou a violada. Desta vez fui
eu que pedi calma, e olhei para todos dizendo apenas – pelo que notei a vossa
portaria terá o mesmo tamanho da minha, e sempre tem alguém, mirones ou não,
camaradas, companheiros, pessoas estranhas, ou mesmo extraterrestres como
essa ou esse de quem estão a falar, perto da entrada ou não? E outra coisa a
minha VIOLA nunca, mas nunca mesmo vai para a portaria, para a porcaria pode
ir… já agora onde foi essa coisa que vocês falam? Pois – a moça
disse que foi na portaria, que o senhor a puxou para a casa de banho e… Nem a deixei falar mais, e rematei – podem prender a moça, e por uma
coisa apenas o resto também é fácil de confirmar, e não os mando prender
porque já estão arrumados. Aqui reparei e sem querer ver aquilo que vocês
tão hábeis que sois, a vossa portaria também não tem W.C., se eu precisar ou
faço nas calças ou peço a um colega para me substituir, aqui vou acompanhado,
no meu trabalho não é necessário, casas de banho diferenciadas e logo não vai
uma miúda só. Segundo ponto,
não sou GAY, porque apenas não tenho um jipe topo de
gama, o resto tenho, plantei uma florzinha, tenho um filho, (temos adoptado) e a escrever uma piadinha sobre todos vós…
Agora vou-me embora, ainda bem que amanhã estou de folga… para violar a
minha… Janeiro, como diz o povinho não ganhas dinheiro,
não comes nem pãozinho, sorte do funileiro que tem sempre um furinho… Abrótea (Por algures no Pinheiro da Cruz, inocente…) Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 25 de Maio de 2025 Borda D’Água do
Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2019 |
© DANIEL FALCÃO |
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