A VIOLADA
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QUANDO SURGE OUTUBRO | Inspetor Boavida O RAIO
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D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2020 |
VÁ-SE LÁ SABER PORQUÊ… (Conto curto de ticharte
de manga à cava.) A. Raposo Tudo o que
sabemos é que a sora Hermengarda trazia a filha de rédea curta. Não é por nada
mas a sua filha, a Isaltina, era danada para a brincadeira. Não podia ver uma
farda que perdia a cabeça. Perdia a cabeça e perdia-se de amores. Sora
Hermengarda fazia de polícia, de gêenerre e de
guarda noturno. Até na missa a
maluca da Isaltina arranjava forma de se baldar com o sacristão. Não era a
primeira vez que saía pela esquerda baixa e dali era um pulinho até à
sacristia, onde Sebastião um mocetão nas suas vinte e cinco primaveras
respirava hormonas de cavalo cansado. Hermengarda
ajoelhada perante Santa Filomena, a casadoira, rogava a Deus que a moça não
perdesse a cabeça e o resto de enfiada. Estas coisas mesmo que não dê logo
frutos, começam a constar e a passar de boca a
orelha: olha que a Isaltina dá a sua cabeçada. E, Hermengarda
sabia de experiência feita que um boato vale mais que mil palavras. Com ela
dera-se o mesmo e só o paspalho do marido não dera por nada, que Deus o
tenha.… Um dia
apareceu-lhe lá por casa um primo afastado, que tinha andado embarcado de
marinheiro no S.S. Afonso de Albuquerque. Fizera umas viagens à India e
estava queimadinho do sol de tanto içar a vela.
Tinha uns braços musculados e um sorriso malandro. Uns caracóis de cabelo
espreitavam por baixo do quico. Uma beata ao canto da boca de lábios grossos.
Era solteiro e bom rapaz. Hermengarda
foi logo acender uma velinha no oratório da salinha de visitas e fechar a
Isaltina no quarto de hóspedes não fosse ela começar-se a arrimar-se ao
primo… Hermengarda
tratou de pôr a escrita em dia com o marinheiro, se ele já tinha alguma, se
ganhava bem, se… se… se… Hermengarda
chamou a Isaltina, apresentou-o e foi fazer um chá de tília para oferecer ao
lanche, mais umas rosquinhas de limão feitas pela Isaltina, único bolo em que
era mestra. O primo ficou
de voltar a visitá-las quando da próxima viagem de longo curso até às
colónias. Ainda não
tinham passado três meses e a dona Hermengarda começou a ver a sua filha com
uma barriguinha a crescer género pepino. Fez uma retro inspeção e não achou nem uma oportunidade de tal
tivesse sucedido. Até que se
lembrou naquela tarde da visita do primo marinheiro e em que ela fora à
cozinha fazer o chá e demorara um pouco mais que o costume… − Ai
Isaltina, que estás desgraçada, filha. − Ó mãe,
que diabo, segundo reza o borda d água o chá de tília no mês de Maio não
enche barriga. MORAL DA HISTÓRIA Mais vale bom vizinho, que parente ou primo. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 8 de Junho de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2019 |
© DANIEL FALCÃO |
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