A VIOLADA
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EM TOBAGO | Cris (Maria Cristina de Aguiar) A ALEGRIA DAS
PEDRINHAS | Peter Pan VÁ-SE LÁ SABER
PORQUÊ… | A. Raposo JUNHO CHUVOSO
| Rigor Mortis INQUIETAMENTO NO
PRINCIPADO | Inspector Moscardo AS NOITES QUENTES
DE AGOSTO | Búfalos Associados RAPOSO |
Zé UM DEDÃO ESPECIAL
QUANDO SURGE OUTUBRO | Inspetor Boavida (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 |
RAPOSO Zé Aquela noite
de 8 de Setembro escoava-se lentamente, derretida pelo forno de calor que
tinha assado todo o dia. Sentado no
cadeirão, totalmente às escuras, pois as janelas continuavam bem fechadas
para tentar evitar a entrada daquele bafo a ferver, um homem estava hesitante
entre fechar os olhos e passar pelas brasas (normalíssimas numa noite
tropical destas) e resistir heroicamente, recordando velhos tempos – outras
terras, outras farras, outras … cala-te, boca! De repente, o
homem estremece. A porta abriu-se e entra uma figura vestida de negro com
traços, bolas e losangos luminosos a vermelho… Movimentava-se
com gestos surreais, dava saltos acrobáticos e … ó deuses … trazia uma arma,
também luminosa, que fazia lembrar as espingardas de caça submarina, com um
punho curto e um cano longo! – Figura …
Figura … quem és tu? – Ninguém!
Ninguém se nem já tu me conheces… Sou a tua
consciência e venho vingar todos aqueles a quem fizeste mal. Passaste a vida a
criar assassinos, ladrões e mentirosos: Puseste uma
enfermeira com hepatite a matar um gajo à facada, o
que, como sabemos, é impossível pois elas são tão dedicadas que nem greves
fazem; colocaste a Fatinha a matar o marido mas o tio a safar-se por ter apanhado
um juiz amigo da tropa, o que é uma infâmia pois eles só perdoam aos homens
que dão porrada nas mulheres; ousaste pôr alguém a
matar ao som do Bolero de Ravel, quando esta música só existe para ser
dançada pela Bo Derek;
atreveste-te a pôr bandeiras do Glorioso e recordar um seu treinador campeão
europeu em problemas; mas, sobretudo, foste cúmplice da morte da Nelinha,
essa deusa que desceu do Olimpo ao policiário português… O mundo clama
vingança! Vou fazer justiça! O homem,
petrificado, perdeu a voz quando ouviu o gatilho a disparar! Do cano saiu uma
bandeira luminosa vermelha, com letras brancas – PARABÉNS,
RAPOSO! Um abraço do Tempicos. Abrem-se porta
e luzes. D. Lena entra com um bolo de duas velas (não haveria bolo que desse
para tantos anos). Atrás dela, vinham todos os melhores amigo (vivos ou só os
de recordação) do aniversariante. Começam a cantar o Parabéns a você… Mas o homem
sentado faz um gesto de silêncio. Recupera a voz e geme: – Saiam da
frente! Saiam da frente!!! Tenho de ir à casa de
banho mas acho que já lá não chego a tempo… MORAL DA HISTÓRIA A idade tudo desgasta, e açor velho não voa às
águias. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 22 de Junho de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2019 |
© DANIEL FALCÃO |
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