A VIOLADA
| Abrótea SORUMBÁTICO | Filipa Wilson NOITE INTERMINÁVEL
EM TOBAGO | Cris (Maria Cristina de Aguiar) A ALEGRIA DAS
PEDRINHAS | Peter Pan VÁ-SE LÁ SABER
PORQUÊ… | A. Raposo JUNHO CHUVOSO
| Rigor Mortis INQUIETAMENTO
NO PRINCIPADO | Inspector Moscardo AS NOITES QUENTES
DE AGOSTO | Búfalos Associados RAPOSO
| Zé UM DEDÃO ESPECIAL
QUANDO SURGE OUTUBRO | Inspetor Boavida (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 |
INQUIETAMENTO NO PRINCIPADO Inspector Moscardo Vem a galope o
cavalo bem arreado, e estranhamente sem cavaleiro. Passa em frente dos
fidalgos, submergidos na sua ociosidade, e acelera em direcção
aos nobres plebeus acantonados em frente à taberna saboreando uns copos de
tinto. Queda?
Acidente? Crime? Eis as perguntas que ferviam na cabeça de toda a gente que
assistiu à passagem meteórica do impetuoso corcel. É o dia do
torneio de tiro aos pratos que a associação desportiva organiza todos os
anos. Os disparos
das caçadeiras faziam eco pelas inóspitas montanhas do principado. Entretanto uma
algazarra surge no adro da igreja. Era o porta-voz da polícia, – à espera da
reforma antecipada – cumprindo um costume arcaico ainda em vigor no
principado, a anunciar de megafone do alto do púlpito para a aglomeração
popular: – Evadiu-se do
calabouço o Flagelo do Mal. A notícia
espalhou-se como fogo em palha seca. Com o tão astuto e perigoso bandoleiro –
titular da alcunha esquisita – à solta, a apoquentação sobre o paradeiro do
cavaleiro aumentou. Um grupo de perseguição organizou-se para localizar o
cavaleiro apeado. Outro se fez para encontrar o cavalo. Entrementes,
os desempates entre os participantes do torneio candidatos a prémios, aumentava o ritmo das detonações. Teria o bandido a
monte ou outro malfeitor, se aproveitado da atroada do tiroteio, para fazer
discretamente como sendo apenas mais um, o seu tiro criminoso? Entretanto com
um soberbo alheamento intelectivo, o grupo de estudiosos, que sabia de um
enxame de abelhas que não regressava de um lupanar, resolveu dissecar o
provérbio “Em Julho abafadiço fica a abelha no cortiço”, porém adiaram para
data incerta a divulgação das suas descobertas bizarras. O chefe da
polícia estava em desespero. O cavalo foi encontrado, sereno, num pasto
viçoso, molhado de vez em quando pela água expelida dos aspersores da rega
automática. Pertencia à linda princesa. Porém as buscas foram infrutíferas para
o montador. Nem vivo nem morto. O palafreneiro
da corte, desconhecendo o resultado das buscas, publicou em todos os “média”
da altura, que se dava alvissaras, a quem encontrasse o cavalo da princesa
que tinha escapado, antes do teste de equitação. Já se sabendo
do puro-sangue lusitano, e não havendo equitador, o risco de crime, ou
acidente evaporou-se tal e qual como a crença comum de ganhar a lotaria. Os camponeses
ceifavam a seara, os hortelões cuidavam do grelo e da couve-de-bruxelas. No
final do mês porém o salário foi recebido em aipos e melões. Os ferreiros,
não cunharam moeda, dado que após investigação não havia ferro nem carvão. No abafadiço mês de Julho Quebrou-se o punho da foice O feijão apanhou gorgulho O palafreneiro descuidou-se MORAL DA HISTÓRIA Para a procura da verdade, nunca é cedo nem é
tarde. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 15 de Junho de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2019 |
© DANIEL FALCÃO |
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