INTRÓITO

TINÓNI!... TINÓNI!... | Jartur

VINGANÇA NUMA MANHÃ DE FEVEREIRO | Inspector Mokada

(…)

 

BORDA D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018

BORDA D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019

 

  

TINÓNI!... TINÓNI!...

Jartur

Matias preocupava-se com o som da vida. Assim quando tocava nas teclas, elas redimiam-se do seu silêncio e serviam-lhe como fonte O jovem, trabalhador nas obras de construção, vivia com muitas dificuldades, e muito amor ao filhito de seis anos. Ganhava pouco nas obras, mas ajudava-o a fazer face aos seus encargos, o dinheirito que recebia por algumas tarefas de electricista ou canalizador, de que alguns vizinhos ou amigos o incumbiam, para o ajudar.

E era grande a sua tristeza, quando o seu pequenote lhe pedia algum dos brinquedos que via na televisão do infantário, já que na sua modesta casa esse luxo não havia, pois há alguns meses tivera que se desfazer do aparelho.

Era véspera de Natal!

O Carlos estava à entrada do “Super”, apertando com amargura a sua última nota de 20 euros. Vacilava, entre comprar alguns produtos alimentares para casa, ou adquirir a “camioneta dos bombeiros”, que já algumas vezes, choramingando, o filho lhe pedira.

Entrou no estabelecimento. Não se decidira ainda pela secção a visitar; se a mercearia ou a zona de brinquedos. Optou por esta. Algumas prateleiras já se encontravam bastante desguarnecidas. A instalação sonora e os écrans gigantes, espalhados por toda a área comercial, publicitavam brinquedos para a criançada.

Ao ser anunciado que o acesso às caixas encerraria dentro de meia hora, estugou o passo. Finalmente, encontrou a camioneta de bombeiros, ambicionada pelo miúdo, que sempre respondia, quando lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande:

– Bombeiro! – observou o preço; 19,99€. Ainda lhe sobraria um cêntimo!

Encaminhou-se para a fila de caixas de cobrança, e ocupou o último lugar de uma

delas. Só quando à sua frente, se encontravam apenas dois clientes, teve espaço suficiente para colocar na passadeira, a sua singela aquisição. Pousou-a com emoção.

Notou, que na correnteza de saídas das caixas, havia um número desusado de pessoal da “segurança”. Era normal isso acontecer, na época de Natal, quando as grandes superfícies têm uma maior afluência de clientes. Mas desta vez, exageravam!...

Quando o cliente que o precedia efectuou o pagamento e retirou os sacos do terminal, a simpática menina da caixa 7, cumprimentou, como era habitual proceder com todos os utentes: – Boa tarde, senhor!... Deseja um saco?

– Obrigado, menina! Só levo esta caixa… – disse ele com certo amargor na voz, que ameaçava sumir-se por causa da sua comoção.

A simpática moça, pegou na embalagem, e orientou para o feixe de leitura o código de barras visível na caixa. A máquina emitiu o sinal acústico de registo válido.

– São dezanove e noventa e nove, senhor. – Ela pegou na nota de vinte euros que o cliente lhe entregou. Passou para o comprador a moeda da demasia, acionou a tecla de pagamento efectuado… e de súbito, soaram na aparelhagem brados estridentes e harmoniosas notas de música natalícia. Apressadamente, dois elementos da segurança da loja se acercaram do boquiaberto cliente, que retiraram com firmeza, mas sem violência da saída da caixa, conduzindo-o ao Gabinete do Director, que lhe disse:

– PARABÉNS! – Você é o nosso cliente « UM MILHÃO »… e vai receber…

Não apenas «UM MILHÃO»... Para já, é seu este telemóvel topo de gama… e pode chamar toda a sua família, para nos acompanhar na «Ceia de Consoada»!…

 

Fontes:

Blogue Repórter de Ocasião, 6 de Julho de 2025

Borda D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2020

 

© DANIEL FALCÃO