TINÓNI!... TINÓNI!...
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| Zé AEREOPUERO
| Abrótea JUNHO CALMOSO, ANO
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DE JULHO | Ma(r)ta Hari UM DESEJO
IRRESISTÍVEL SOB O SOL DE AGOSTO | Inspetor Boavida TEMPICOS
| A. Raposo ACONTECEU
EM OUTUBRO… | Inspector Aranha NOVEMBRO PELOS
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| Rui Mendes BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019 |
ACONTECEU EM OUTUBRO… Inspector Aranha Já lá vão
muitos anos – mas aconteceu e o episódio nunca foi esquecido… A criança
tinha pouco mais de quatro anos e vivia com a mãe e os avós paternos em casa
destes, por o pai se encontrar a cumprir serviço militar obrigatório nos
Açores, no decurso da 2ª Guerra Mundial. Vivia inocente
e feliz, alternando o seu dia a dia entre a casa dos
avós e a de uma numerosa família – que distava cerca de cem metros, que
percorria sozinho porque o local, privado, era vedado e a época não impunha
os cuidados de vigilância que hoje se justificam… Era um local para si
bastante desejado porque ali dispunha de outras crianças para brincar, espaço
livre, animais domésticos à solta, e era tratado com todo o amor e carinho,
como se a ela também pertencesse. Ah, e um outro atractivo:
com frequência eram-lhe dadas ao lanche fatias de pão caseiro com azeite e
açúcar… Por isso,
muitas vezes simulava dormir quando a avó, após o almoço, o mandava dormir a
sesta, e, apanhando-a distraída, nos seus afazeres caseiros, “raspava-se”
para a sua “segunda casa”. Aquela família
era originária de uma vila sita na proximidade da Serra da Estrela, que
naturalmente evocavam com alguma frequência e saudade. E, numa dessas
evocações, um dos seus membros de mais idade descreveu a existência, naquela,
de neve, muito frio, lobos, etc., prometendo nessa ocasião ao menino que,
aquando da sua próxima deslocação lá, a ocorrer em breve, lhe traria um
lobinho. O menino, deslumbrado
com a promessa, passou a viver numa ansiedade crescente, especialmente quando
se apercebeu que o autor daquela fora finalmente passar uns dias à sua terra
natal. E diariamente perguntava quando vinha o H. com o lobinho. Até que lhe
disseram que seria no dia seguinte. Ansioso, mal dormiu naquela noite e, no
novo dia, assim que pode escapuliu-se, excitadíssimo para casa dos vizinhos,
para poder receber o seu tão desejado presente… que, todavia, para sua
completa desilusão não chegou, com a justificação de que, por falta de neve,
os lobinhos não tinham aparecido… Completamente
confuso, fugiu, correndo. Preocupados foram no seu alcanço, tendo vindo a
encontrá-lo sentado no chão, sob uma árvore, chorando sentidamente. Ele, o
então menino e hoje o autor destas linhas, ainda não sabia, mas aquela iria
constituir uma decepção tão marcante que volvidos
mais de setenta anos de vida sobre esse amargo dia ainda a recordaria e
lamentava. Confúcio
proferiu: “Verifica se o que prometes é justo e é possível, porque a promessa
é dívida”. No caso presente, alteraria a parte final para “porque a promessa
incumprida pode, por vezes, provocar sentimentos negativos marcantes”. NOTAS: Aos confrades policiaristas – e em especial
à Tertúlia Policiária de Lisboa, responsável pela edição deste “Almanaque” –
apresento as minhas desculpas por, em vez de um conto, crónica ou qualquer
outro texto de temática policiária, ter optado por um episódio da minha vida
particular. Mas, porque esta Página é a do mês de Outubro, mês em que também
ocorreu o evento descrito, não resisti a evocá-lo… Como aproveito para também evocar, com pesar, o desaparecimento físico
do Amigo e co-fundador desta Tertúlia, Pedro Faria,
igualmente ocorrido num mês de Outubro. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 3 de Agosto de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2020 |
© DANIEL FALCÃO |
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