TINÓNI!... TINÓNI!...
| Jartur VINGANÇA NUMA
MANHÃ DE FEVEREIRO | Inspector Mokada ERA PRIMA
MAS NÃO ERA VERA | Inspector Moscardo HÁ MUITO TEMPO
| Zé (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019 |
ERA PRIMA MAS NÃO ERA VERA Inspector Moscardo Quando Maria
de cabo da vassoura na mão, disse com mau modo para
Zacarias: – Vai tropeçar
no equinócio e quebra a cara no solstício. Este saíu, primeiro à pressa e depois em passo moderado, a
olhar de relance a porta de casa da amiga. Aí, estava o
caldo entornado. Tudo porque o “iPod” que a prima Luísa lhe dera no Natal,
tem uma aplicação que ele para a abrir precisou de a consultar. Entretanto, na
Mãe-Natureza, o rebentar da folha e da borbulha, nas árvores sequiosas de
seiva nova, incutia nas pessoas o bem-estar que as guiava a tomar boas
decisões. Tranquilo
estava o pessoal do campo a semear o milho, para obter a boa colheita, a podar
ainda as árvores frutíferas, a plantar alface e a conjecturar
sobre o arrebitar da ervilha. Zacarias
estava cabisbaixo, sentia que só encostando a barriga ao balcão de um bar, se
recomporia de tão amargo golpe. O alegre chilreio das andorinhas não lhe
aquecia a alma. Nem os acordes de The Age of Aquarius, que lhe chegavam
trazidos pela aragem fria lhe despertava o ânimo destroçado. O dia
internacional da mulher, seria uma óptima oportunidade de fazer as pazes com Maria. O
convite adequado, o ramo de flores apropriado. A prenda ideal. Vamos a ver. Zacarias não
resistiu a fumar um cigarro. Planeava as démarches a fazer para a
reconciliação amorosa. Saiu do bar, e
começou a caminhar pelas ruas inesperadamente desertas, tentando ordenar as
ideias. Ia olhando para os escaparates e quando o álcool da cerveja e
aguardente de medronho, começou a fazer efeito,
bateu com os olhos numa jóia sumptuosa, mesmo
encostada à vitrina da montra pelo lado de dentro. A ourivesaria estava
fechada. Nas redondezas a solidão firme com se se estivesse no mais fora de
horas, ninguém para testemunhar. Tudo extraordinariamente desabitado. Mais
rápido que o pensamento que lhe trouxe a ideia, o ombro parte o vidro de
encontrão e a mão alcançou a jóia. Abalou numa
corrida em osso quando o alarme ruidoso começou a tocar, dobrou determinadas
esquinas, percorreu umas travessas e vielas. Estava a preparar-se para
descansar quando ouviu a sirene de um carro da polícia e o sagaz agente Gazua
que estava de serviço, lhe deu voz de prisão. Olhava
surpreendido para tudo à sua volta quando um sinal de chegada de GSM, lhe chamou a atenção, para o “iPod”. Autorizado,
viu. Era Maria.
Ainda estremeceu antes de abrir e teria bebido um trago se por acaso
estivesse no bar. Dizia: – Regressa,
estás perdoado. A expressão do
seu rosto transmitia alegria. Gazua ao ver tal mudança, perguntou, enquanto
lhe colocava as algemas: – Algo de bom? – É o que eu
mais queria... Ler. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 13 de Julho de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2020 |
© DANIEL FALCÃO |
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