TINÓNI!... TINÓNI!...
| Jartur VINGANÇA NUMA
MANHÃ DE FEVEREIRO | Inspector Mokada ERA PRIMA MAS NÃO
ERA VERA | Inspector Moscardo HÁ MUITO TEMPO
| Zé AEREOPUERO
| Abrótea JUNHO CALMOSO, ANO
FAMOSO | Arnes ASSALTO NUMA NOITE
DE JULHO | Ma(r)ta Hari UM DESEJO
IRRESISTÍVEL SOB O SOL DE AGOSTO | Inspetor Boavida TEMPICOS
| A. Raposo ACONTECEU EM
OUTUBRO… | Inspector Aranha NOVEMBRO
PELOS SANTOS, NEVE NOS CAMPOS | Rigor Mortis OH, SORTE MAGANA!
| Rui Mendes BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019 |
NOVEMBRO PELOS SANTOS, NEVE NOS CAMPOS Rigor Mortis Como lhe era
habitual, Carolina falava com os seus botões… “Tenho a certeza
que era ele! Mais ninguém podia andar ali pelo bosque ontem, àquela hora!
Vi-lhe bem o chapéu por cima dos arbustos! A espreitar-me enquanto fazia uma
necessidade…” “O raio do
homem tem uma fixação em mim! Cada vez que me vê não tira os olhos de cima de
mim! Até parece que me está a despir com a vista!...” Carolina
odiava o tio Rodolfo. Há muito que estava convencida que o que ele queria era
violá-la, assim a apanhasse na altura apropriada. Mas ela era esperta,
evitava sempre estar sozinha com ele, fosse onde fosse. Sobretudo em casa. Aquele dia, em
especial, era perigoso, pensou ela. Em casa estavam só os dois, mais a
cozinheira. Surda como era, nunca daria por nada. Todos os outros tinham ido
à vila, apesar do tempo horrível que fazia, só mesmo aqueles malucos! Lá fora
estava um frio terrível, neve a cair forte, um vento cortante e impiedoso. Sentiu uns
passos pesados a aproximarem-se da porta da copa. “Só pode ser
ele!”, pensou. Apressadamente, saiu da copa para a
sala. “Que frio! O
melhor é espevitar a lareira!” Sentou-se
sobre os calcanhares junto à lareira, pegou na pá e remexeu a lenha em
brasas. Pôs mais dois pedaços de lenha e enfiou-os para baixo das brasas que
já lá estavam. Com as palmas
das mãos viradas para a lareira, gozou o calor que de lá vinha. “Se não fosse
o patife do tio Rodolfo, esta vida na aldeia era uma delícia! Por causa dele
estou sempre com medo, a olhar por cima do ombro! Raios o
partam!” Estremeceu, ao
pensar no que ele lhe faria se a apanhasse a jeito. “Um dia
mato-o! Juro que o mato!” Sentiu passos
a aproximarem-se da sala. “Ainda bem que
o chão é de madeira! Assim consigo sempre ouvir quem se aproxima! Mas ele é
enorme! Que faço se se chegar a mim?!” Olhou em
redor. “O picador de
lenha! É isso mesmo!” Esticando os
braços, apanhou o picador de lenha com as duas mãos, segurando--o firmemente
como se fosse uma lança. Sentiu os passos já dentro da sala, mesmo atrás de
si. Estremeceu novamente, aterrorizada. “É hoje que o
mato!” Com o picador
bem agarrado com as duas mãos, virou-se bruscamente para enfrentar aquele
homem terrível que a perseguia impiedosamente, decidida a espetá--lo
na barriga… A sala estava
vazia, sem ninguém além dela própria… Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 10 de Agosto de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2020 |
© DANIEL FALCÃO |
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