TINÓNI!... TINÓNI!...
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ERA VERA | Inspector Moscardo HÁ MUITO TEMPO
| Zé AEREOPUERO
| Abrótea JUNHO
CALMOSO, ANO FAMOSO | Arnes ASSALTO NUMA NOITE
DE JULHO | Ma(r)ta Hari UM DESEJO
IRRESISTÍVEL SOB O SOL DE AGOSTO | Inspetor Boavida (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019 |
JUNHO CALMOSO, ANO FAMOSO Arnes Abriu os
olhos, regressou ao mundo que conhecia e onde habitavam os seres que mais
amava. Naquele
segundo tomou uma resolução. Em legítima defesa, teria que o matar. Era uma longa
relação de 40 anos. Uma relação
que começou às escondidas. De início foi
uma brincadeira, ele provocava-a e ela coquete,
agarrava-o, dava-lhe mordidelas e dizia que não passaria daquilo, mas
reconhecia que o prazer era o motor do amor que os unia. Ele lentamente, apoderou-se dela. Não a largava. Ela acordava a
pensar nele, era a sua última companhia do dia. Se ele faltava, deixava-a a
roer unhas, a dar voltas na cama, ansiosa que fosse manhã, para que se
pudessem de novo encontrar. Quando se dava
o reencontro, era uma união de sentidos, um renovar de prazer, uma promessa
surda que nunca mais se iam separar. Entretanto ela
casou. Constituiu família, mas nunca largou o amor antigo. O marido
sabia, mas pouco falava do assunto. Quando a conheceu, soube logo que seria
uma relação a 3 e gostava tanto dela que aceitou. Por vezes
mandava umas indirectas, queria saber quantas vezes
se encontravam por dia. Ela
desconversava e mudava de assunto, ou deixava-a a falar sozinho e continuava
a encontrar-se, agora à descarada com o amor antigo. De vez em
quando apetecia-lhe acabar com aquela bigamia, pensava que o ía deixar de vez, vingando-se de anos de dependência
física, mas passadas umas horas de afastamento, voltava a agarrá-lo e a
repetir as juras de amor eterno. Até que um dia
foi ele que se vingou. Mandou-a para o hospital muito maltratada. Passou-a para
o outro lado, de onde sozinha, não encontraria o caminho de retorno. Uns anjos de
bata branca, trouxeram-na de volta e com os rostos
dos entes queridos atacados pelo medo de a perder no pensamento, decidiu que
chegara a hora e de um golpe só… acabou com ele. Enterrou o que
sobrou e jurou que pagaria o preço pela sua decisão. Sofreu com a
sua ausência, chorou por ele em alguns momentos, ia aos sítios onde se tinham
encontrado anos a fio e que saudades a assaltavam dos momentos de prazer. Mas não voltou
atrás. Sabia que não havia retorno e quando chegou o mês de Junho da sua nova
vida, ela soube que estaria para sempre livre do cigarro. Matou-o por
amor a si mesma, mas acima de tudo, por amor aos seus. E não se
arrependerá. Moral da
história: Mata o vício, antes que ele te mate a ti. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 20 de Julho de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2020 |
© DANIEL FALCÃO |
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