TINÓNI!... TINÓNI!...
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ERA VERA | Inspector Moscardo HÁ MUITO TEMPO
| Zé AEREOPUERO
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NUMA NOITE DE JULHO | Ma(r)ta Hari UM DESEJO
IRRESISTÍVEL SOB O SOL DE AGOSTO | Inspetor Boavida (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA D'ÁGUA DO CONTO
CURTO - 2019 |
ASSALTO NUMA NOITE DE JULHO Ma(r)ta Hari Necas e Lecas
são dois dos mais temidos jovens sem eira nem beira que todos os dias andam à
cata de dinheiro fácil, saído por artes pouco dignas dos bolsos dos turistas
que pululam pelos lugares mais concorridos da cidade, sobretudo em julho, nas
festas lá do burgo. Quando os foliões acorrem ao recinto dos espetáculos,
Necas e Lecas acomodam-se por entre a multidão em busca da gente mais
distraída e aparentemente abastada. Mal descobrem uma potencial vítima, com o
perfil adequado, ou seja, uma pessoa não conhecida, com ar de forasteiro, lá
estão eles prontos para o golpe. E raramente falham. Uma carteira de homem,
recheada de dinheiro e de cartões de crédito, salta quase por artes mágicas
dos bolsos do seu proprietário para as mãos de um deles, sem que ninguém se
aperceba, pondo-se logo em fuga. E quando não é
uma carteira que voa milagrosamente dos bolsos de um incauto cavalheiro
abonado para a posse de um dos jovens larápios, é um objeto de valor subtraído
da mala de uma bem posta senhora que muda de dono. Eles são exímios a atuar e
fazem-no muitas vezes aos olhos de cidadãos seus conhecidos, mais despertos
mas cobardes, que ficam calados por temor da reação agressiva dos dois
jovens. Não há, na verdade, quem os conheça que não os tema, salvo raríssimas
exceções. E as pessoas que constituem essas raras exceções eles conhecem
muito bem e não os ousam confrontar. Tiveram, aliás, algumas pequenas
contrariedades tempos atrás, porque se atreveram a fazer frente a algumas
vozes mais grossas saídas de bocas de gente ágil, destemida e musculada, que
lhes serviu de emenda para sempre. Agora põem
todo o cuidado na ação, não vá o diabo tecê-las e sofrerem os mesmos amargos
de então. Não só escolhem muito bem as suas vítimas, como saem logo de
fininho se alguém topa o esquema e levanta a sua voz contra o crime, mesmo
que seja de mansinho. Mas apesar de todos os cuidados, chegou o dia em que o
feitiço se virou contra o feiticeiro. Os dois jovens toparam um sujeito bem
posto, com um valente chumaço na algibeira direita das suas calças de linho.
Necas colocou-se sorrateiramente do lado direito do indivíduo, não sem antes
olhar cuidadosamente em volta. Lecas, por sua vez, depois de analisar bem a
zona envolvente e de tirar a pinta à gente que se encontrava próxima do alvo,
dispôs-se atrás do sujeito, sobre a sua direita, e esperou que Necas desse o
passo seguinte. E assim que este deu um encosto seco no ombro da presa, Lecas
deitou a sua hábil mão esquerda no bolso do sujeito. Mas em vez da
ansiada carteira ou maço de notas, a mão de Lecas trouxe um lenço de cambraia
que arrastava consigo algo metálico que não teve tempo de identificar. Ato
contínuo, a mão de Lecas foi firmemente agarrada pela mão direita do
assaltado, enquanto a canhota lhe desferiu um sopapo que o deitou por terra,
agarrado ao queixo e com lamúrias de menino mimado. Depois de imobilizado,
foi levado até à esquadra mais próxima pelo sujeito alvo do assalto, depois
deste apanhar o seu crachat de inspetor da PJ caído
no chão do recinto… Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 27 de Julho de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2020 |
© DANIEL FALCÃO |
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