Publicação: “Público” Data: 22 de Maio de 2017 Campeonato Nacional 2017 Taça de Portugal 2017 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2017 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 3 (PARTE I) SMALUCO E A MORTE DO CHEF JOCA GANITAS Autor: Inspetor Boavida O camarada de
Smaluco, após chamar os seus colegas das perícias científicas e
médico-legais, começou a esboçar mentalmente o seu relatório da primeira ação
relativa ao caso da morte do Chef Joca Ganitas. É claro que omitiria a
atitude do então jovem Smaluco e o seu estranho raciocínio que o levou a
admitir estar perante um acidente, quando era evidente que o caso configurava
um crime de homicídio. E o indício que desde logo apontava para essa conclusão
residia nos dois copos com resquícios de vinho da casta alvarinho que
acompanhavam a garrafa daquele delicioso néctar minhoto, ali mesmo tombada no
chão da cozinha, reveladores de que a vítima estivera acompanhada. Os passos
seguintes levá-lo-iam ao conhecimento das relações que Ganitas mantinha com
quatro predadores de jogadores viciados, protagonistas na noite clandestina
de jogos de fortuna e azar, que tinham como processo de cobrança um método
que combinava vinho verde do agrado de todos com um petisco de preferência
pessoal. E foi isso que o levou ao criminoso, já que os quatro suspeitos
tinham gostos gastronómicos distintos: Alberto gostava de caldeirada de
chocos com batata-doce, Bernardo adorava migas à alentejana, Carlos tinha
predileção por lombinhos de porco gratinados e Daniel tinha um gosto
particular por estufado de novilho com ervilhas. Apenas um dos
suspeitos foi o autor material do homicídio do Chef, embora todos eles tenham
chegado a exigir em conjunto o pagamento das suas dívidas, uma vez que
Ganitas estava a preparar apenas um prato, sendo que este é cozinhado no
forno, onde ele foi enfiado de cabeça. E dos quatro pitéus apreciados pelos
suspeitos, apenas um vai ao forno: lombinhos de porco gratinados (gratinar é
uma técnica culinária, de origem francesa, que significa levar ao forno
alimentos cobertos com bastante molho, queijo ralado e polvilhado com pão
ralado, para dar uma textura crocante por fora e que permaneça macio por
dentro). As três restantes iguarias dispensam em absoluto o forno! Recorde-se
que Carlos Luís, o suspeito que tinha preferência por lombinhos de porco
gratinados, é um tipo divertido e sempre de bom humor, traço psicológico que
deixou bem patente na forma como expôs a assinatura do crime, colocando
quatro cartas de jogar, quatro ases, um póquer de ases, junto ao fogão por
onde enfiou o Chef Joca Ganitas. Tratou-se, pois, de um ajuste de contas
solidário, em nome de quatro “ases” do póquer, consumado pelo mais
inteligente dos quatro, que deixou o executado quase irreconhecível por via
das queimaduras sofridas. Tudo isto não sem antes o executante brindar, com o
vinho verde preferido de todos… talvez à saúde da sua própria vítima! |
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©
DANIEL FALCÃO |
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