Publicação: “Público” Data: 12 de Março de 2017 Campeonato Nacional 2017 Taça de Portugal 2017 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2017 PROVA Nº 2 (PARTE II) O COFRE DOS DIAMANTES Autor: Rigor Mortis Afonso tinha tido
uma vida extraordinariamente rica. Nascido quatro
anos antes da Grande Guerra, fugira de casa aos 14 anos, embarcando como
grumete num navio mercante que se dirigia a Angola e Moçambique. Chegado a
África, enamorado pelas magníficas paisagens, abandonara o navio e tentara a
sua sorte em terra. Saltando de sítio para sítio, foi calcorreando toda a
zona sul do continente, usando a sua inteligência arguta para se ir safando. Um ano depois já
era conhecido em muitas paragens, como o rapaz capaz de conseguir fosse o que
fosse. Passo a passo, foi-se atrevendo a aventuras capaz vez mais arriscadas.
E cada vez mais proveitosas! Discretamente, sem alardes, foi acumulando uma
fortuna considerável. Aos 40 anos,
resolveu regressar à sua terra natal, a poucos quilómetros de Lisboa. Casou com Maria
Antónia, teve três filhos – Carlos, Jorge e Deolinda – e cinco netos –
Alberto, Eduardo, Íris, Orlando e Úrsula. A aventurosa vida
que tivera não lhe permitira estudos formais. Foi a escola da vida que o
formou, estimulando dia a dia a sua inteligência e a sua sensibilidade. Talvez por causa
dessa vida aventurosa, Afonso era um homem gentil, chegado à família,
apoiando cada um deles quer emocional quer materialmente. Sempre irónico,
sempre bem-humorado, sempre pronto a provocar os outros com alguma adivinha
simples e ardilosa. O nascimento de
cada um dos netos foi uma enorme alegria para ele, dedicando-se gostosamente
a acompanhá-los no seu crescimento. Consciente do que o levara a ser Homem,
Afonso procurou por todos os meios estimular a criatividade, a inteligência e
a sensibilidade dos pequenos. Sem descurar que eles tivessem o benefício da
escola formal, algo que ele nunca tivera. Afonso faleceu aos
80 anos, deixando imensa tristeza na mulher e em cada um dos seus filhos,
noras, genro e netos. Deixando também a cada um deles um largo pecúlio em
herança. E deixando um
pequeno cofre fechado e uma carta. Nesse dia, os seus doze familiares estavam
juntos, para lerem essa carta. Assim rezava ela: “Olá! Hoje não estou
junto de vós! Mas estou, e estarei sempre, dentro de cada um de vós! Felizmente, a vida
deu-me forma de vos poder deixar algo que materialmente assegurará o vosso
futuro, sem problemas de maior. Isso deixa-me feliz! Este cofre contem
5 diamantes, que há muitos anos extraí com as minhas próprias mãos do solo,
nas minhas andanças pela África do Sul. É um para cada um dos meus netos! A sua limpidez, a
sua transparência e a sua pureza representam o que eu penso deve ser a vida
de cada um de vós, em cada um dos seus dias! Mas lembrem-se, a
vida nunca dá nada de borla… Terão que descobrir o segredo do cofre… Decerto que o
poderiam arrombar, ainda que com algum esforço… Mas tal não abonaria nem a
vossa inteligência nem a vossa honestidade! Acredito que não o farão, porque
acredito em cada um de vós! Estou certo de que
conseguirão abrir este cofre! Para tal, só terão que mentalmente rodar quatro
vezes as cinco vogais e que as saber somar… Boa sorte!” Os doze olharam
para o cofre de segredo, pequeno, pesado e antigo, de aparência extremamente
sólida. Num dos lados, quatro pequenos discos, cada um deles com os
algarismos de 0 a 9. O longo silêncio
que se fez foi rasgado pela voz doce de um dos pequenos: – Já sei! Caro leitor, qual
era o segredo do cofre? A – 1111. B – 6666. C – 1234. D –
3342. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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