Publicação: “Público” Data: 4 de Junho de 2017 Campeonato Nacional 2017 Taça de Portugal 2017 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2017 PROVA Nº 5 (PARTE I) A MORTE DO AGIOTA Autor: Inspector Aranha 1º tempo: Vou matar o
“velho”. Estou farto desta situação de dificuldades económicas, de
condicionalismos a que ele me submete, enquanto assisto, no dia-a-dia, ao
aumento da sua fortuna através de juros altíssimos que “suga” nos seus
empréstimos. Agiota e avarento, são expressões correctas
para o definir. Por um lado, ajuda a resolver situações difíceis a muita
gente que, neste período de acentuada crise, a ele recorrem cheios de
problemas, mas, por outro, pelas duras condições que em contrapartida impõe,
muita infelicidade tem também provocado a quem, depois, não as pode cumprir.
E, nestes casos, não revela um mínimo de sensibilidade – é implacável,
mandando penhorar bens, ordenados, promovendo ameaças, potenciando ainda mais
a desgraça dessas pessoas… Nem para comigo,
seu sobrinho e único herdeiro, ele consegue revelar alguma liberalidade. A
mensalidade que me concede é ridícula perante as suas possibilidades (e as
minhas necessidades) assim me impondo, também, as dificuldades que eu não
gostaria de sentir nesta idade… não conseguindo compreender que só temos uma
juventude para viver… Mas chega, a
partir de hoje não continuará a poder espalhar mais infelicidade. Acabei de “teclar”
no meu velho computador (de que me vou imediatamente desfazer), e imprimir, a
carta que irá ser encontrada na secretária, junta ao seu corpo, direccionando assim as suspeitas da sua morte não natural
para um acto de suicídio, por temor da (mais uma)
ameaça à sua existência, por alguém do seu vasto universo de clientes que a
ele têm recorrido. Planeei tudo.
Eliminá-lo-ei e sairei de imediato para um evento público, afim da minha
presença ser ali registada quando o corpo for descoberto e o alarme dado –
quase certo que pela empregada doméstica que, diariamente, às 10 horas entra
ao serviço, pois, sendo embora apenas eu e ele a viver naquela casa, meu tio
exigia que sempre tudo nela estivesse impecável. Por isso me inscrevi na
prova de 10 km, que integra a 26ª Meia-Maratona de Lisboa, cuja classificação,
registando o meu nome (e com que sacrifício o irei conseguir, meu Deus!…) me
conferirá o necessário álibi. Depois, é aguardar os acontecimentos, certo de
que, mesmo que a morte não venha a ser reconhecida como devida a suicídio,
também dela não será descoberto um culpado – para mais existindo tantos
potenciais suspeitos… E assim estará dado o decisivo passo para uma outra
vida mais livre e feliz… 2º tempo: Dado o alarme,
como previsto, a Polícia deparou com o corpo sentado à secretária, caído de
bruços sobre esta, manchada de sangue sob a cabeça, proveniente de um furo
regular que o parietal direito exibia. O braço do mesmo lado pendia na
perpendicular, segurando na mão a sua pistola “Browning”.
Vasculhado o escritório, nada mais nele se apresentava como passível de ser
classificado de anormal, salvo a existência de uma folha de papel de formado
A-4, maculada apenas com o seguinte: 19-03-2016 Miserável
agiota Recusando
as moratórias de pagamento que solicitei, e ameaçando-me com uns “gorilas” para
me “fazer lembrar os compromissos”, perturbaste significativamente a minha
tão já difícil existência, e ditaste o destino da tua… Também o fizeste com
outros, mas, perdido como estou, não vou dar-te oportunidade a que continues
a desgraçar a vida de mais ninguém… Adeus, sê feliz com o teu dinheiro… no
outro mundo… 3º tempo: Pensava bem ter
planeado e executado a eliminação do “velho”. Todavia, não tardou que a
Polícia pusesse em causa o meu álibi, e me detivesse como suspeito do
assassínio de meu tio. 4º tempo: É o
vosso, amigos leitores. O tempo de analisarem com cuidado a história
descrita, extraírem as vossas conclusões, descrevendo nomeadamente as causas
que terão fundamentado as suspeitas da Polícia e remeterem os relatórios… |
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©
DANIEL FALCÃO |
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