Publicação: “Público”

Data: 10 de Abril de 2016

 

 

Campeonato Nacional 2016

Taça de Portugal 2016

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016

 

PROVA Nº 3 (PARTE II)

 

UMA INVESTIGAÇÃO DO OLHO VIVO E PÉ LIGEIRO

Autor: A. Raposo & Lena

 

Caía uma chuvinha teimosa na calçada e os candeeiros da rua mal conseguiam romper o breu da noite que descia sobre a cidade.

Um vulto elegante de mulher seguia apressada.

“Olho vivo e pé ligeiro” na sua gabardina e chapéu mole seguia a passo estugado, para fugir ao vento e ao mau tempo anunciado.

De repente. É sempre de repente que as coisas mais estranhas acontecem.

Do fundo da noite alguém surgiu com um objeto brilhante e quiçá cortante meio escondido do interior do casaco.

Um grito. Um corpo, no chão, ferido. Uma correria de um homem que levava na mão a mala da senhora ferida.

“Olho vivo e pé ligeiro”, um antigo inspetor da PJ reformado tentou a corrida atrás do fugitivo mas logo refreou. A sua idade, o reumático, não davam chance.

Ligou ao 112 a pedir um médico e foi inspecionar a senhora caída. Uma ferida na omoplata esquerda, eventualmente profunda pois o sangue corria abundante.

A senhora balbuciou em tom queixoso: “O malvado atacou-me por detrás, nem dei pela aproximação. Deu-ma a facada e levou-me a mala. Eu tinha vindo do multibanco e lá se foram os duzentos euros, mais outro tanto que lá tinha para pagar a renda de casa. Nem lhe vi a cara, nem nada.”

Passadas umas horas a senhora ferida e já tratada e recuperada do susto, estava na esquadra a tentar observar quatro potenciais assaltantes.

Eis a descrição, completa dos mesmos que constava do álbum de suspeitos que a vítima observou atentamente antes de os ver alinhados na parede de uma cela.

Zé Fininho – Homem do interior norte, rude e especialista no furto por esticão. Costumava usar uma motoreta e um pendura e percorria a estrada junto ao passeio até encontrar uma vítima. Ultimamente atuava a solo. O seu parceiro fora “dentro”.

Era canhoto e gostava de vestir bem.

Arturzinho Portuense – Conhecido no meio pelo “bota alta”. Falava-se de problemas sexuais que tinham-se cruzado com ele e a instituição que o criara, visto que fora abandonado à nascença. Praticava o esticão e até em situações de aperto andava a “fazer” os transportes públicos. Carteiras e assim. Era ambidextro. Exímio a trabalhar com as mãos.

Xico Dois Dedos – Um acidente levara-lhe os três últimos dedos da mão esquerda. Porém, no meio da desgraça sabia valorizar o “handicap” e era um ás a introduzir os dois dedinhos restantes nos bolsos dos parolos roubados. Especialidade principal: carteirista.

Tó Liru – Fadista amador, em jovem a “pólio” atacara-lhe as pernas e ficou coxo.

No fado vadio era o Tó Coxelas. No gamanço era o “sexta e sábado” pelo movimento que dava às pernas. Tivera uma infância terrível e passara a juventude na Casa Pia.

Só roubava quando a fominha apertava e os rendimentos não caíam do céu.

Atacava nos autocarros. Na hora dos apertões. Mas não em exclusivo.

Na esquadra de Campolide lá estavam todos alinhados à parede. A vítima estava com muita dificuldade em chegar a qualquer conclusão pois o que vira fora um vulto e nada mais, a correr, levando a sua mala.

Os suspeitos alinhados aos olhos da vítima não davam a entender qual deles seria o autor do delito.

Da esquerda para a direita o Arturzinho Portuense, nas suas botas altas, parecia um cavaleiro que perdera o cavalo.

O Xico Dois Dedos coçava-se com a mão boa e parecia que andava por ali pulguinha a viajar de borla.

O Zé Fininho olhava embevecido as suas sapatilhas Nike. Não dispensava a marca nem que tivesse que trabalhar fora de horas.

O Tó Liru cantarolava o “Ó tempo volta p’ra trás”.

A vítima sem saber o que responder voltou-se para o polícia reformado “Olho vivo e pé ligeiro” e limitou-se a um encolher de ombros.

E estava assim a coisa sem grande saída quando alguém se lembrou, lá na esquadra, creio que foi o cabo Jeremias (um verdadeiro cabo de esquadra!) que havia no jornal Publico um grupo de gente do mais alto gabarito em descobrir casos policiais. Até se dizia que se a Agatha Christie cá voltasse ficaria admirada por ver gente com tanta pespibesbilhocácia.

E assim sendo se põe o problema:

 

A – Foi o Tó Liru.

B – Foi o Zé Fininho.

C – Foi o Xico Dois Dedos.

D – Foi o Arturzinho Portuense.

 

© DANIEL FALCÃO