Publicação: “Público” Data: 3 de Abril de 2016 Campeonato Nacional 2016 Taça de Portugal 2016 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016 PROVA Nº 3 (PARTE I) O REGRESSO DO ZÉ PINCEL À LIBERDADE Autor: SSAS Assim
que entrou na sala, percebeu-se o que fazem a uma pessoa mais de dez anos de
prisão em estabelecimento de alta segurança, como aconteceu ao Zé Pincel
quando andou com uma quadrilha de assaltantes violentos, que paravam carros
em estradas, abalroando-os. Assim que os proprietários paravam para
verificarem os estragos, os responsáveis saiam do carro, armados, e a
violência seguinte acontecia até conseguirem os seus intentos, dinheiro,
valores, cartões de crédito e o próprio carro que era levado para locais onde
era desmantelado ou então traficado para fora do país. Quando a
polícia desmantelou o grupo, alguns conseguiram fugir e ainda estavam a
monte, mas o Zé Pincel foi agarrado e depois de um julgamento em que ninguém
o identificou de forma decisiva, embora um tal Eduardo Serrote o tenha
comprometido, mas sem consistência e ele não confessou, acabou a cumprir uma
pena de 12 anos em prisão de alta segurança. Não beneficiou de qualquer
redução ou saída precária, porque recusou sempre a autoria dos roubos ou a
sua participação nos mesmos, mas os juízes não acreditaram na sua versão e
como ele conhecia alguns dos membros identificados, acabou preso e condenado.
A verdade, essa, nunca se saberá, a menos que algum dos responsáveis
identificados e conhecidos acabe por confessar ou clarificar todo o processo. Mas
pronto, o Zé Pincel estava cá fora de novo e a reaprender a viver sem os
altos muros da prisão, sem a penumbra constante do edifício vetusto e
sombrio, sem os corredores húmidos e tristes, que levavam às celas quando
vinham tomar um pouco de ar ao recreio fechado e claustrofóbico que só
permitia ver uma réstia de céu, as nuvens a passar, quando as havia e o sol a
bater nas torres de vigia que rodeavam o recinto. Mais de
uma década nesse ambiente, não alterou muito a impressão agradável que o Zé
Pincel despertava nas pessoas em geral e quem não conhecesse a sua vida,
jamais o imaginaria nessa situação. O Inspector olhou-o demoradamente e comentou com algum sarcasmo: – Ora cá
temos o nosso Zé Pincel! Não demorou muito a regressar aos problemas! Parece
que doze anos não chegaram… – Inspector, é muita bondade sua,
mas esses doze anos foram uma aldrabice e você sabe bem disso porque forjou
toda a história, não é verdade? – Ora,
ora, Zé, isso de dizer mal da Justiça e dos juízes nunca dá bom resultado,
mas agora vai ter oportunidade de completar a sua “formação” depois do que
fez ontem à noite… – O que
é que eu fiz? Explique lá isso… – Ora,
já não se recorda? O nome de Eduardo Serrote diz-lhe alguma coisa? Puxe lá da
sua memória desde… ontem! – Sei
quem é o tipo, tramou-me com o seu depoimento falso e foi ele, de certeza,
que me atirou para a prisão, mas nunca mais o vi… – Onde
esteve e o que fez ontem, durante todo o dia? – A
gozar a liberdade, pois então! Ontem fui matar saudades do mar e da praia e
do sol, daquilo que eu mais gostava de fazer em jovem e que me foi negado
nestes anos todos. Ontem foi sol, mar e areia, sem ligar a
mais nada, de manhã à tardinha! – E
esteve sozinho? – Claro.
As pessoas que conheço trabalham, têm a sua vida e eu queria estar só,
habituei-me a estar só, como sabe… Mas ouça lá, o que é que o Serrote tem a
ver para aqui? – Ora,
não sabe? Pense lá um bocadinho… Não se recorda de o procurar, de o
encontrar, de lhe pregar uma valente sova? Não se recorda mesmo? – Mais
uma mentira sua, claro. Vocês nunca largam um osso quando o apanham, não é?
Já lhe disse o que andei a fazer e à noite, quando cheguei a casa só queria
era descansar, dormir, que não estou habituado a tanta “acção”,
como deve perceber, ou precisa de um desenho? –
Continua a falar bem, folgo em verificá-lo, mas confesso que não me alegra…
Vai ficar detido para pensar bem no depoimento que quero recolher daqui a…
duas horas, vá lá, para não dizer que não teve tempo… O Inspector parece ter muita certeza de que o Zé Pincel
teve alguma coisa que ver com a sova que o Eduardo Serrote apanhou, mas será
que o leitor partilha dessa certeza? Justifique todas as suas conclusões. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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